FECHAMENTO
DE DIASTEMA PELA TÉCNICA INDIRETA: CASO CLÍNICO
DIASTEMA CLOSURE
BY INDIRECT TECHNIQUE: CLINICAL CASE
Tostes BT* & Lima-Arsati YBO**
RESUMO: O fechamento de diastema é um procedimento necessário
para a restauração da estética do sorriso. Este trabalho apresenta um caso
clínico de fechamento de diastema utilizando a técnica indireta. O paciente
chegou à clínica insatisfeito com seu sorriso, pois entre os dentes incisivos
centrais superiores havia um grande diastema. Como o paciente não poderia arcar
com um tratamento ortodôntico, não queria se submeter à frenectomia labial e o
espaço interdental era realmente grande, decidiu-se fechar o diastema com
resina indireta. O paciente foi moldado e sobre o molde em gesso os fragmentos
foram confeccionados e então cimentados nos dentes.
Foi possível alcançar sucesso com a técnica empregada.
PALAVRAS CHAVES: Resina Composta. Fechamento de diastema.. Técnica
indireta.
ABSTRACT: The diastema closure is a necessary procedure in
order to reproduce the aesthetical of patient`s smile. This paper
presents a clinical case of diastema closure using indirect resin. The patient arrived at the clinic unsatisfied with his smile,
due to the space between his upper central incisors. As the patient could not
afford orthodontics treatment, didn’t want to undergo lip frenectomia and the
interdental space was really large, it was decided to close the diastema with
indirect resin. The teeth were casted and the plaster mold fragments were then
fabricated and cemented on the teeth. Success was achieved with the employed
technique.
KEY WORDS: Composite resin. Diastema closure.. Indirect
technique.
INTRODUÇÃO
Ter um sorriso saudável e harmônico representa grande valor
na sociedade atual. Sendo assim, os diastemas são vistos como fator
antiestético prejudicando a auto-estima do indivíduo. Esses espaços entre os
dentes exigem na maioria das vezes uma intervenção multidisciplinar dos
cirurgiões-dentistas. De acordo com a etiologia de cada caso, é traçado o plano
de tratamento adequado procurando conceder ao paciente o bem estar estético
funcional e social. As especialidades de Ortodontia e Dentística se integram na
busca do melhor resultado1. Contudo, em alguns casos, a movimentação
ortodôntica nem sempre se torna possível, em função do custo, do tempo
necessário para o fechamento ou do próprio desejo do paciente.
Com a introdução das resinas compostas e a evolução dos
sistemas adesivos associados ao condicionamento ácido do esmalte e dentina, a
qualidade estética e a integridade das restaurações cresceu grandemente. No
tecido dental condicionado pelo ácido fosfórico, o sistema adesivo é capaz de
realizar uma eficiente união entre resina e estrutura dental, minimizando a
micro infiltração e vedando a interface dente/ restauração2,3. Sendo
assim, a Dentística Restauradora propõe o fechamento de espaços interdentários,
com a utilização de resinas compostas, como um tratamento que apresenta
resultados excelentes e custo acessível.
A utilização da técnica direta com resina composta para o fechamento
de diastema é sabidamente eficiente. Seu potencial para devolver estética e
longevidade aceitáveis permite sua indicação para tal procedimento4.
Para fechar o diastema, não é preciso desgastar a estrutura dental, afora um
desgaste proposital para correção de alguma imperfeição ou proeminência dental.
Como forma de retenção destas restaurações, será suficiente a realização de um
bisel no esmalte (que também serve para evitar transições abruptas entre
restauração e dente)2 seguido de condicionamento ácido, ou somente
este último. A utilização de restaurações diretas sem preparo dental prévio é
uma opção conservadora e uma alternativa viável.
A técnica de colagem de fragmento dental normalmente é
recomendada para resolução dos casos de fratura coronárias5 sendo a
reabilitação realizada com a própria estrutura do dente. Isso influi
positivamente no aspecto psicológico do paciente, na estética (cor e forma
originais) e na função (manutenção da guia incisal)6. Contudo, nem
sempre este fragmento está presente. Sendo assim, há como alternativa a
utilização de um fragmento heterógeno, (banco de dentes) ou ainda restaurar com
materiais diretos (resina composta) ou indiretos (coroas, laminados de
compômeros ou cerâmicas). Para a colagem, que consiste na união do pedaço de
dente partido ao seu remanescente através da técnica de condicionamento ácido,
sistema adesivo e resina composta, normalmente também não se faz preparo
cavitário, o fragmento deve encaixar perfeitamente em seu lugar. Quando
necessário, por estética, pode-se fazer um bisel na união remanescente/
fragmento, após a colagem, recobrindo com resina composta ambos os bordos,
mascarando assim a linha de fratura6. Como possibilidade
restauradora de dentes anteriores fraturados, a colagem do fragmento resultante
é a mais indicada7.
Os laminados de cerâmica são uma opção de tratamento para
reconstrução do sorriso pela técnica indireta. Com a evolução das propriedades
mecânicas dos novos sistemas cerâmicos, tornou-se possível realizar preparos
minimamente invasivos e confecção de peças extremamente finas, porém
resistentes devido à cimentação adesiva8. A cerâmica apresenta
vantagens frente à resina (direta e indireta), pois supre diversas deficiências
desta, como a estética e a durabilidade. Porém, existem desvantagens também,
como a friabilidade pré-cimentação, necessidade de laboratório especializado e
o custo elevado9.
Inspirada na técnica
de colagem de fragmento para dentes anteriores fraturados a proposta de
tratamento para o caso em questão foi o fechamento de diastema pela técnica
indireta. Sendo a colagem de um
fragmento que não é o próprio dente, e sim confeccionado em resina de
laboratório (fragmento heterogêneo) com perfeita adaptação ao dente. O presente
trabalho visa relatar um caso clínico de fechamento de diastema com resina
indireta para obtenção de um sorriso harmonioso e funcional ao paciente.
CASO CLÍNICO
Paciente RS, gênero masculino, 20 anos, apresentou-se ao
consultório odontológico particular com a seguinte queixa “o espaço no meio de
meus dentes da frente parece com o do Teco” (FIG. 1 e 2). Realizado o exame
clínico, analisada a ficha radiográfica, foi sugerido tratamento
interdisciplinar ortodôntico–restaurador. O paciente recusou submeter-se ao
tratamento ortodôntico, por questões financeiras. O fechamento do diastema com
técnica direta seria a opção, não fosse a pouca cooperação do mesmo, pois não
conseguia manter a boca aberta por muito tempo e o diastema possuía grande
extensão. A solução encontrada foi o fechamento do diastema com fragmentos
indiretos de cerâmica, porém o fator limitante foi novamente financeiro. Foi
então proposta a confecção de peças em resina indireta, que foi aceita
prontamente pelo paciente.
Figura 1- Aspecto do sorriso do paciente, observe a presença do diastema
de linha média na arcada superior.
Para a correta confecção das peças foram
observados: forma (facial e dental), tamanho, cor (selecionada sob luz natural)
e posição dos dentes na arcada. Com auxílio de compasso de ponta seca,
mediram-se os dentes nos sentidos mesio-distal e cervico-incisal para analisar
a simetria e propiciar a correta harmonia entre os incisivos centrais
superiores, os dentes adjacentes e o rosto do paciente.
O paciente foi moldado com silicona de
adição (Futura AD, DFL, Brasil). O modelo
confeccionado com gesso tipo pedra especial (Durone, Dentsply,
Brasil) e sobre este foram confeccionados os fragmentos de resina
composta indireta (SR Adoro, Ivoclar Vivadent, Brasil), (FIG.
Figura 2- Modelo de gesso obtido após moldagem.
Figura 3- Fragmentos confeccionados com resina composta indireta sobre o
modelo.
Figura 4- Sistema de resinas compostas indiretas utilizado.
Figura 5- Fragmentos confeccionados com a resina composta indireta.
Figura 6- Isolamento absoluto modificado do campo operatório realizado
para não interferir na cimentação.
Na segunda consulta, foi feito isolamento absoluto
modificado (FIG. 6), com disco de lixa
granulação grossa (Soflex Pop on, 3M/ESPE, EUA)
asperizou-se o esmalte, para que este perdesse o brilho e fosse removida
qualquer retenção ou irregularidade facilitando a adaptação do fragmento. O
esmalte foi então condicionado com ácido fosfórico 37% por 15 segundos, lavado,
secado com jatos de água e ar, sendo aplicado o adesivo Single Bond 2 (3M/ESPE,
EUA). Os fragmentos também foram condicionados
com ácido fosfórico e aplicados o adesivo internamente nos mesmos. Estes foram
então cimentados com cimento resinoso (Rely-X ARC, 3M/ESPE, EUA), sendo posicionados
à mesial dos incisivos centrais, removidos
os excessos de cimento e fotopolimerizados juntos (FIG.
Figura 7- Remoção do brilho do esmalte com disco de lixa para polimento.
Figura 8- Após o condicionamento ácido do esmalte foi realizada a aplicação
do adesivo.
Figura 9- Condicionamento com ácido dos fragmentos de resina composta
para realização da cimentação.
Figura 10- Aplicação de adesivo nos fragmentos previamente condicionados.
Figura 11- Aplicação do sistema cimentante resinoso sobre os fragmentos
de resina e posicionamento e aplicação de luz para iniciar a polimerização.
O acabamento foi
dado removendo-se os excessos com lâmina de bisturi #12 (Free Bac, Embramac, Brasil), pontas diamantadas douradas e
brocas multilaminadas. O isolamento foi retirado e a oclusão foi avaliada. O
polimento foi realizado com discos e tiras de lixa com pasta de polimento,
pontas de borracha siliconizada (azul e rosa) e disco de feltro com pasta de
polimento (Enamelize, Cosmedent, EUA). Os
fragmentos integraram-se perfeitamente ao dente dando naturalidade e
satisfazendo as expectativas do paciente.
Figura 12- Imagem dos fragmentos de resina composta indireta logo após a
colagem.
Figura 13- Imagem dos fragmentos de resina composta indireta após
polimento.
Figura 14- Sorriso do paciente após encerramento do tratamento, observe
o fechamento do diastema.
Este
caso clínico foi realizado em 2006 e acompanhado desde então com manutenção
anual, sendo necessário apenas repolimento após dois anos a fim de restaurar
seu brilho.
DISCUSSÃO
Pacientes
com diastemas anteriores normalmente anseiam por um sorriso “completo”, sem
espaços entre os dentes. Existem vários tratamentos disponíveis hoje
Há
situações em que se faz necessário procedimento ortodôntico-restaurador para
alcançar o sucesso do tratamento. A Ortodontia e/ou restaurações tem
solucionado grande casuística. Existem casos em que a ortodontia é necessária,
como em paciente relação molar classe II de Angle, perfil convexo, desvio de
linha média, entre outros problemas osteodentais10. Contudo, há a
possibilidade de realização de tratamento apenas restaurador.
Restaurações
diretas em resina composta para dentes anteriores são uma realidade na
Dentística atual. Isso devido ao avanço crescente nas formulações das mesmas,
dos modernos e potentes sistemas adesivos que possibilitam a execução de
restaurações adequadas estética, biológica e funcionalmente. Contudo, as
resinas apresentam desvantagens inerentes como instabilidade de cor, desgaste e
contração de polimerização, o que pode resultar em restaurações de curta
longevidade11.
Já a
colagem de fragmento de dentes fraturados (do próprio indivíduo ou não),
apresenta grandes vantagens sobre uma restauração direta de resina composta.
Como estabilidade de cor, lisura superficial, resistência ao desgaste12.
O fragmento autógeno, o próprio dente, deve ser reposicionado e colado. Um
fragmento heterógeno, do banco de dentes, laminados ou como neste caso clínico
resina indireta, requer etapa laboratorial, pois o fragmento tem que encaixar
perfeitamente no remanescente13. A não confecção de bisel no esmalte
antes da cimentação é uma opção viável, este pode ser realizado numa outra
sessão com o fragmento já unido ao dente, a fim de melhorar a estética que
possa não ter ficado boa. A colagem de fragmento é um procedimento simples,
rápido e conservador, permitindo resolução imediata. Há necessidade de
preservação clínica e radiográfica em longo prazo2.
As
restaurações diretas em resina composta para dentes anteriores são adequadas
sob o ponto de vista biológico, estético e funcional11. Nos casos de
fechamento de diastema, poder ser confeccionada em sessão única, economizar
tempo e encargos com laboratório, requerer pouco ou nenhum desgaste, propiciam
uma boa relação custo/beneficio para esse tipo de restauração11.
Contudo, o sucesso funcional e estético das restaurações diretas depende
principalmente do Cirurgião–dentista, pois requer observação, paciência e
aplicação meticulosa das técnicas e protocolos existentes14.
Importante também a ser considerado é a baixa durabilidade das restaurações de
resina composta quando comparadas a restaurações indiretas, aquelas tem a
estética prejudicada pela instabilidade de cor e baixa resistência ao desgaste,
pois perdem o brilho, a textura e acumulam biofilme. Além de sofrerem
degradação da matriz orgânica e sorção de água. Para amenizar tais efeitos, na
tentativa de prolongar sua vida útil, recomenda-se polimento e manutenção
constantes15.
As restaurações indiretas também evoluíram,
hoje possuem propriedades mecânicas que possibilitam a confecção de peças
extremamente finas, porém suficientemente resistentes após cimentadas.
Possibilitando ainda realizar preparos minimamente invasivos, como apenas a
remoção de retenções e/ou arestas que impeçam a perfeita adaptação da peça.
Também a melhora das propriedades óticas permite utilizar diferentes graus de
opacidade e translucidez, mascarar ou aproveitar do remanescente dental,
obtendo assim restaurações naturais e imperceptíveis8. Restaurações
indiretas podem ser mais seguras e previsíveis. Para isso é necessário caso bem
selecionado, corretamente planejado e perfeitamente executado, o domínio dos
materiais e da técnica envolvidos pelo profissional e laboratório especializado15.
A
realização de restaurações estéticas é uma realidade na Odontologia. Porém,
cabe ao Cirurgião-dentista vislumbrar as opções de tratamento, o planejamento
correto do caso, o conhecimento de materiais e técnicas adesivas, ter
habilidade e bom senso para a execução de restaurações diretas e/ou indiretas
com preparos reduzidos e com estética muito próxima da natural. No caso exposto existiram algumas opções de
tratamento, a escolhida foi a que melhor se enquadrou às possibilidades do
paciente. Diante da recusa ao tratamento ortodôntico, que pode ser respeitada
pois não havia problemas osteodentais, da resistência à técnica direta, devido
a limitação de abertura bucal por longo tempo e do custo elevado de fragmentos
de cerâmica, utilizou-se a técnica de colagem de fragmentos para resina
indireta.
CONCLUSÃO
Esse
relato de caso teve como finalidade demonstrar uma abordagem restauradora não
invasiva, rápida e acessível para habilitar estética e funcionalmente o sorriso
do paciente. Pode-se concluir que o fechamento de diastema utilizando-se resina
composta indireta é uma alternativa viável e eficiente.
REFERÊNCIAS
* Bhenya Ottoni Tostes - Cirurgiã-dentista,especialista e mestre em
Dentística, CPO São Leopoldo Mandic. e-mail: bhenya@hotmail.com
** Ynara Bosco de Oliveira Lima-Arsati - Cirurgiã-dentista, Doutora em Odontologia – área de Cariologia. Professora Adjunta da Universidade Estadual de Feira de Santana, BA. e-mail: ynaralima@yahoo.com