DEPRESSO EM IDOSOS
DEPRESSION IN THE ELDERLY
RESUMO: Trata-se de um artigo de reviso integrativa que teve como objetivos verificar o que os profissionais de sade,
tm escrito sobre a depresso nos idosos e identificar como estes profissionais
esto diagnosticando e tratando os idosos com depresso. Na busca por artigos
referentes a temtica encontramos 47, que subdividimos em 5 grupos: prevalncia
de depresso em idosos depresso e tratamento; depresso e alteraes
cognitivas; idoso e qualidade de vida e idoso e outros.
PALAVRAS-CHAVE: Envelhecimento. Depresso. Idosos. Interao social.
ABSTRACT: Depression is one of the pathologies that has
been growing in the population in general and more intensely among the elderly,
affecting the quality of life of these individuals. Myths, such as regarding
the symptomatology of depression as something specific of aging, may lead to
non-diagnosis and, consequently may aggravate a condition that could be treated
and lead to recovery. When investigating the literature related to the subject,
we found 47 articles, which were subdivided into 5 groups: prevalence of
depression in the elderly; depression and treatment; depression and cognitive
changes; the elderly and quality of life, and the elderly and the others.
KEYWORDS: Aging. Depression. Elderly.
Social Interaction.
INTRODUO
No Brasil consideramos a pessoa idosa aquela que tem 60 anos
ou mais (Estatuto do Idoso). Conforme os dados do IBGE, hoje h no Brasil cerca
de 32 milhes de pessoas idosas, sendo a maioria de mulheres vivas, com baixa
escolaridade e com uma renda mensal menor comparada a dos homens da mesma faixa
etria.
Garrido1 cita que no Brasil, em 1991, havia cerca
de 10,7 milhes de pessoas com 60 anos ou mais. Em 2005, havia 33,9 idosos para
cada grupo de 100 jovens. Estima-se que em 2025, este numero chegar a 15% da
populao e em 2050 atingiremos a marca de 24%; logo o Brasil deixar de ser o
pas da juventude, para tornar-se o pas dos idosos.
O envelhecer humano visto e estudado em aspectos
interligados: o fsico, o social e o psicolgico. Com o chegar da idade a
pessoa vai perdendo sua vitalidade, suas foras vo diminuindo e o mundo parece
que no tem mais o espao que tinha antes para que o idoso possa viver e
sentir-se vivo. Com a aposentadoria, principalmente os homens, perdem uma
grande parte do seu convvio social, no encontram seu espao dentro de casa e,
em muitos casos, esta situao no bem aceita pela famlia. Dificuldades
conjugais vo se avolumando dia aps dia, e a perda do poder aquisitivo leva o
idoso a fechar-se no seu mundo.
A viuvez outro fator de perda para o idoso, pois unida a
ela vem solido e pode ocorrer ainda a perda de convivncia com outros
casais, pois os vivos se encontram menos.
A sociedade capitalista supervaloriza a produo e o
consumo. O idoso no produz, ou se produz, j no tanto como antes e tambm
por perder seu poder aquisitivo com a aposentadoria consome menos e por isto a
sociedade no o valoriza.
A imagem que muitos idosos tem de si mesmo negativa, como
aquele ser que no consegue fazer isto ou aquilo, que no tem foras para fazer
o que fazia antes, que no se lembra mais das coisas como antes, que seu corpo
no responde mais aos movimentos e no faltam aqueles que ao olhar no espelho
dizem para si mesmo eu j fui muito bonito(a), muitos ainda tm que conviver
com a perda da possibilidade do auto cuidado e da perda da independncia seja
ela decorrente de problemas financeiros ou da perda da capacidade sensorial
(viso e audio)2.
Existe ainda aquele idoso que j tendo anteriormente um
relacionamento difcil com seus familiares e com amigos agora ele isolado e
em casos extremos so institucionalizados em ambientes confinados, nos quais
podem perder sua liberdade e at mesmo sua identidade. Esses ambientes por mais
saudveis que sejam no conseguem reproduzir o ambiente familiar, so lugares
em que os afetos so deixados de lado, tornando-se assim um ambiente
estressante. Nestas situaes o sentimento de abandono por parte da famlia
fala mais alto do que a acolhida proporcionada pela instituio. Isto gera ao
idoso um alto nvel de tenso que passa a ser somatizado e surgem as mais
diversas sintomatologias (dor pelo corpo, angstia, palpitao, insnia,
gripes, resfriados) bem como sintomas psquicos como irritabilidade, tristeza
profunda; hipobulia; hipoatividade, que no sendo observados e tratados podem
evoluir para um quadro mais grave: a depresso3,4.
A DEPRESSO NO
IDOSO
Em 1979, a OMS (Organizao Mundial da Sade) calculava que
um em cada 10 idosos sofria de depresso, ou seja, 10% da populao idosa5,6.
Depresso doena, no algo que faa parte do envelhecer.
Pode ser prevenida e tratada, e esta nossa responsabilidade como
profissionais de sade.
A depresso a doena psiquitrica mais comum entre os
idosos, frequentemente sem diagnstico e sem tratamento. Ela afeta sua
qualidade de vida, aumentando a carga econmica por seus custos diretos e
indiretos e, pode levar a tendncias suicidas. Os pacientes deprimidos
mostram-se insatisfeitos com o que lhes oferecido, havendo interrupo em
seus estilos de vida, reduo de seu nvel scioeconmico
quando ficam impossibilitados de trabalhar. Alm disso, h privao
interpessoal particularmente naqueles que se isolam em decorrncia da depresso
e, naturalmente, naqueles que encurtam suas expectativas de vida, seja por
suicdio ou por doenas somticas relacionadas depresso3,4,6,7.
A depresso geritrica multifatorial. Os fatores genticos
embora presentes pouco contribuem; atualmente mudanas que ocorrem no
metabolismo dos neurotransmissores alm das alteraes hormonais e a
desincronizao do ritmo cardaco, so tidas como as principais causas da depresso. H de se considerar ainda os fatores
sociais e sade fsica.
Alteraes da acuidade visual e auditiva so fatores que contribuem
fortemente para a depresso, pois levam o idoso ao isolamento8.
Aproximadamente 50% dos pacientes com demncia, 25% dos
pacientes com doena crebro vascular e 50% dos pacientes com Parkinson, tem
tambm associada depresso.
O Cdigo Internacional de Doenas (CID 10) classifica os
quadros depressivos em quatro tipos e traz para cada um deles os sintomas
(somticos e psquicos), bem como o tempo de durao e o nmero de sintomas
presentes em cada tipo para que possa ser diagnosticado com segurana2,3.
Segundo Scalco8 um diagnstico mais preciso de
depresso em idosos no consegue se enquadrar nos episdios descritos no CID
10, pois esses foram estabelecidos para adultos jovens, sem levar em conta que
os idosos tendem a expressar sintomas em forma de queixas fsicas e ao mesmo
tempo tem certa relutncia em relatar sintomas psiquitricos. Faz-se necessrio
considerar os sintomas depressivos e no necessariamente uma sndrome
depressiva completa para diagnosticar a depresso em idosos. Ela
diagnosticada pelas seguintes alteraes: falta de energia; distrbios do sono;
alteraes do humor e da motivao (volio); melancolia; anorexia; perda de
peso; sintomas hipocondracos; sintomas somticos; agitao ou retardamento
psicomotor; prejuzos cognitivos; humor depressivo, tendncia a enfatizar as dificuldades
e responder no sei as perguntas.
Deve-se considerar que ele comumente fala bastante e, ao
mesmo tempo, fala pouco dos seus sentimentos; os sintomas somticos podem estar
escondendo os sintomas depressivos; a depresso pode estar presente no idoso,
porm ela no uma doena prpria da terceira idade, tristeza no sinnimo
de depresso.
Todo profissional da sade dever estar apto a perceber
sintomas de depresso e dever encaminhar o paciente e a famlia para o
tratamento com uma equipe especializada.
O trabalho do profissional dever conduzir o idoso de tal
forma que esse possa retomar sua vida e conduzi-la normalmente dentro de suas
capacidades e limitaes; como tambm o trabalho teraputico haver de
proporcionar apoio emocional ao idoso, reduzindo sua ansiedade e elevando sua
confiana e autoestima.
Os autores Carvalho & Fernandes5 fazem a
seguinte sugesto de terapias para o geronte:
Psicoterapia Breve; Terapia Cognitiva comportamental; Terapia de Reviso e
Terapia de Grupo. Muitos idosos tm encontrado no grupo um local para expressar
suas angstias e ao mesmo tempo identificar-se com as angstias dos outros.
Encontram nele proteo e meios para desenvolverem o desejo de uma vida mais
saudvel, com aqueles que vivem os mesmos dramas. O grupo tambm proporciona
uma maior socializao, aumenta a autoestima e autovalorizao, esclarece e
resolve conflitos intrapsquicos e interpessoais.
Na depresso geritrica, juntamente com todas as terapias
possveis de recuperao do idoso, vale destacar que o suporte social que ele
dispe fundamental para que sua resposta seja mais adequada a este tratamento3,9.
Frente a tudo acima descrito e considerando que os
conhecimentos tericos delineiam a prtica profissional, este trabalho teve
como objetivos verificar o que os profissionais de sade, tm escrito sobre a
depresso nos idosos e identificar como estes profissionais esto
diagnosticando e tratando os idosos com depresso.
MTODO
Foi realizado um estudo de reviso integrativa da
literatura, em revistas indexadas nas bases Lilacs, ScieLo e na revista Kairs
(publicao especfica do grupo de estudos de geriatria da PUC-SP), utilizando
os descritores: idoso; depresso; tratamento.
Os critrios de incluso foram: artigos publicados
no perodo de 2002 a 2009 relacionados a idosos( pessoas com 60 anos ou
mais).
Durante a pesquisa foram encontrados 86 artigos, dentre os
quais foram excludos 39, aps a anlise do ttulo e resumo dos mesmos quanto
adequao ao tema proposto e critrios de incluso.
Os 47 restantes foram lidos na ntegra e aps fichamento os
dados foram agrupados em cinco
categorias, analisados quantitativamente (nmero e porcentagem) e apresentados
em forma de tabelas e quadros.
RESULTADOS E DISCUSSO
Os artigos selecionados foram divididos, aps leitura em
cinco categorias, conforme pode ser visto na tabela 1.
Tabela 1 - Distribuio dos artigos
segundo categoria.
N |
% |
|
Prevalncia de depresso em idosos |
14 |
29,8 |
Depresso e tratamento |
12 |
25,5 |
Depresso e alteraes cognitivas |
7 |
14,9 |
Idoso e qualidade de vida |
3 |
6,4 |
Idoso e outros |
11 |
23,4 |
TOTAL |
47 |
100,0 |
Dos 47 (100,0%) artigos 6 (12,7%) so de divulgao sendo o restante
artigos resultantes de pesquisas. Esse fato nos indica o grande interesse dos
profissionais de sade em estudar esse quadro, importante na populao idosa,
pois, segundo Carvalho (1996), 10% dos idosos tem depresso e segundo Duarte
& Rego10 de 15% a 20% dos idosos no institucionalizados apresentam
sintomas depressivos.
Tabela 2 - Distribuio dos artigos segundo ano de publicao.
ANO |
N |
% |
1999 |
1 |
2,1 |
2000 |
- |
- |
2001 |
1 |
2,1 |
2002 |
6 |
12,8 |
2003 |
1 |
2,1 |
2004 |
2 |
4,3 |
2005 |
4 |
8,5 |
2006 |
9 |
19,1 |
2007 |
10 |
21,3 |
2008 |
8 |
17,0 |
2009 |
5 |
10,6 |
TOTAL |
47 |
100,0 |
Tabela 3 - Distribuio das revistas segundo nmero de artigos
publicados.
Revistas |
N |
% |
Rev. bras. psiquiatria |
8 |
17,0 |
J. bras. psiquiatria; |
4 |
8,5 |
Rev. psiquiatria Rio Gd. Sul; |
4 |
8,5 |
Rev. sade publicao |
2 |
4,3 |
Rev. bras. epidemiologia |
2 |
4,3 |
Dement. neuropsychol; |
2 |
4,3 |
Acta sci |
2 |
4,3 |
Psicologia reflexo critica |
2 |
4,3 |
Psico USF; RBM; Aval. psicol;
Arq. int. otorrinolaringol; Rev. baiana sade pblica;
Rev. bras. sade matern. Infan;
Ter. man;
Rev. bras. cinc. mov; Acta md.; Rev. psiquiatr. cln.;
An. Fac. Med. Univ. Fed. Pernamb; Rev. Assoc. Med. Bras.; Revista
Brs. Geriatr. e gerontol ;
Mundo sade; Sci. med;
Estud. psicol.;
Rev. psicol;
Rev. bras. cineantropom.
desempenho hum; Cad. Sade pblica; Saude
soc.; Cinc. sade coletiva. * cada revista
com 1 artigo |
21* |
44,7 |
TOTAL |
47 |
100,0 |
Como era de se esperar devido temtica, as revistas
ligadas rea de psiquiatria publicaram 18 (38,3%) dos 47 (100,0) artigos.
Quadro 1 - Distribuio dos artigos de pesquisa da categoria
prevalncia de depresso em idosos, segundo objetivos do estudo.
Categoria: prevalncia de depresso em idosos |
Objetivos das pesquisas |
Analisar a influncia de fatores
sociodemogrficos, de sade fsica, capacidade funcional e funo cognitiva sobre
a sintomatologia depressiva de idosos do municpio de Santa Cruz, no Rio
Grande do Norte. |
Investigar a prevalncia de
incontinncia urinria entre idosos de So Paulo, Brasil, e fatores
associados e de risco. |
Realizar uma reviso da
literatura sobre a incidncia de depresso geritrica e os fatores de risco
associados em idosos residentes na comunidade. |
Estimar a prevalncia de
sintomas depressivos em idosos institucionalizados e as variveis associadas
a este evento. |
Investigar a intensidade e
prevalncia de sintomatologia depressiva em idosas participantes da
Universidade para a Terceira Idade (UNITI) da Universidade Federal do Rio
grande do Sul. |
Determinar a prevalncia de
depresso em idosos que frequentam centros de convivncia. |
Verificar a prevalncia da
sintomatologia depressiva na populao de idosos com idade superior a 60
anos, numa rea adstrita do PSF, no Municpio de Maring, Estado do Paran. |
Investigar caractersticas
quantitativas e qualitativas dos sintomas depressivos em diferentes
populaes de idosos. |
Determinar a prevalncia de
depresso maior em uma populao de sujeitos acima de 80 anos residentes na
comunidade, comparar os padres de sono e a funo cognitiva entre controles
normais e sujeitos com depresso maior e estimar a frequncia de outros
transtornos psiquitricos entre controles e sujeitos deprimidos. |
Avaliar a prevalncia de
depresso em idosos internados em um hospital tercirio, atravs da aplicao
da Escala de Depresso Geritrica Yesavage em verso reduzida (GDS-15). |
Avaliar a prevalncia de
depresso em trs anos consecutivos na populao de idosos residentes em um
lar protegido no Rio de Janeiro. |
Identificar a presena de
depresso em idosos que frequentaram o Programa Universidade Aberta
Terceira Idade, da Universidade Federal de Pernambuco, considerando variveis
demogrficas e socioeconmicas. |
Coletar informaes sobre as
condies de vida dos idosos (60 anos e mais) residentes em reas urbanas de
metrpoles de sete pases da Amrica Latina e Caribe - entre elas, o
Municpio de So Paulo - e avaliar diferenciais de coorte, gnero e
socioeconmicos com relao ao estado de sade, acesso e utilizao de
cuidados de sade. |
Determinar a prevalncia de
depresso em idosos, que residem no Abrigo Cristo Redentor, Jaboato dos
Guararapes, Pernambuco. Os autores
relatam que em uma amostra de 55 idosos, identificaram a depresso em
28 idosos (51%), dentre os quais dezoito homens (64,3%) e dez mulheres
(35,7%). |
A anlise dos dados acima nos levou a inferir que o contedo
dos textos encontrados esta em sintonia com o preconizado atualmente pelos
estudiosos da rea, cuja preocupao maior sempre investigar a relao entre
patologia e seu impacto na qualidade de vida. Nos artigos do quadro acima
podemos notar tambm esta preocupao, em muitos percebemos que os autores,
alm de estimar a prevalncia de quadros depressivos, buscaram correlacionar os
sintomas apresentados com perdas na qualidade e estilo de vida3,4.
O idoso deprimido est sujeito a uma serie de alteraes no
estilo de vida, como: alteraes das funes cognitivas; reduo do nvel scioeconmico; reduo da rede social de interao, em
consequncia do seu isolamento.
Scalco8, chama a ateno que o diagnstico da
depresso em idosos no se enquadra nas caractersticas oferecidas pelo CID-10,
logo a utilizao da GDS-15, como vimos em vrios textos encontrados est se
tornando o instrumento adequado para a elaborao do diagnstico de depresso
no idoso, por ser um instrumento simples e fcil de ser utilizado.
Luders9, afirma que o suporte social se torna
imprescindvel para que o idoso que j tenha acompanhamento mdico e
teraputico supere a depresso. Verificamos que nos textos encontrados que esta
afirmao no aparece como algo determinante na superao da depresso
geritrica.
Quadro 2 - Distribuio dos artigos de pesquisa da categoria Depresso
e alteraes cognitivas segundo objetivos do estudo.
Categoria: depresso e alteraes cognitivas |
Objetivos das pesquisas |
Avaliar o impacto de treino
cognitivo de 8 sesses na funcionalidade e desempenho cognitivo em idosos com
CCL. |
Verificar a relao entre a queixa
de memria e a idade no envelhecimento normal e a relao da queixa com o
desempenho cognitivo. |
Avaliar os nveis de afetividade
e os dficits das funes cognitivas. |
Promover uma reviso sobre
estudos publicados nos ltimos anos sobre alteraes cognitivas em idosos com
diagnstico de depresso. |
Comparar o desempenho cognitivo
de idosos com psicose, depresso e demncia em um ambulatrio de sade
mental. |
Avaliar a frequncia de sintomas
depressivos e o desempenho cognitivo de idosos institucionalizados e no
institucionalizados e comparar os escores nos testes em funo da
institucionalizao e da realizao de atividades oferecidas pela
instituio. |
Identificar o estado de sade mental
de idosos iniciantes em um programa de exerccio fsico e analisar a
associao entre os indicadores sociodemogrficos com a pontuao das escalas
geritrica. |
A preocupao inerente aos textos mencionados acima nos leva
a reafirmar Scalco8, que menciona que o diagnstico de depresso em
idosos ultrapassa o apresentado pela CID-10, pois, no idoso, o dficit
cognitivo o fator primordial para chegarmos a uma concluso sobre o estado
depressivo do paciente: a depresso leva o paciente a apresentar prejuzos
cognitivos. O prejuzo cognitivo interfere no diagnstico de depresso, pois o
paciente ter dificuldades em relatar seus momentos de tristezas, suas
angstias, bem como tambm ter dificuldades em evocar lembranas do passado
para que este possa relatar quais foram as que ocorreram na sua vida, quanto as
suas atividades prazerosas e compar-las com o cotidiano vivido no momento3.
Nestes textos encontras na base de dados pesquisada no
encontramos textos propondo algo mais concreto de como realizar o diagnstico
com pacientes dentro deste quadro de dficit cognitivo, como tambm no
encontramos sugestes ou relatos de experincia nesse sentido.
Quadro 3 - Distribuio dos artigos de pesquisa, da categoria depresso
e tratamento segundo objetivos do estudo.
Categoria: depresso e tratamento |
Objetivos das pesquisas |
Verificar
a influncia do exerccio fsico e da atividade fsica nos aspectos
psicolgicos (ndices indicativos para depresso e ansiedade) em idosos. |
Investigar as concentraes plasmticas em estado
de equilbrio da paroxetina em idosos. |
Avaliar a
associao entre nvel de atividade fsica e o estado de sade mental de
pessoas idosas. |
Revisar a
literatura quanto (i) ao possvel efeito protetor do exerccio fsico sobre a
incidncia de depresso e (ii) eficcia do exerccio fsico como
interveno no tratamento da depresso. |
Avaliar
estudos que analisaram o papel da atividade fsica nos diferentes nveis de
preveno dos transtornos depressivos (depresso maior, depresso menor e
distimia) em idosos. |
Revisar
ensaios clnicos que examinaram a eficcia da psicoterapia versus os
tratamentos farmacolgicos, sozinhos ou combinados, para pessoas idosas com
depresso. |
Revisar
ensaios clnicos aleatorizados e no-aleatorizados com o objetivo de
estabelecer se o tratamento antidepressivo de manuteno reduz o risco de
recada e recorrncia de depresso em idosos. |
Examinar
o efeito de um programa de exerccio fsico aerbio na intensidade do limiar
ventilatrio 1 (VT-1) nos escores indicativos de depresso e ansiedade e na
qualidade de vida de idosos saudveis. |
Verificar
a tendncia ao estado depressivo em idosos praticantes de atividade fsica. |
Nesta categoria encontramos tambm 3 artigos de divulgao,
cujos assuntos apresentamos a seguir.
Um dos artigos os autores apontam que o manejo dos efeitos
adversos em pacientes idosos que usam muito mais medicaes e apresentam mais
doenas, ponto decisivo na escolha de antidepressivos; em outro a autora
relata que indispensvel que o
mdico conhea o paciente que ir tratar e o perfil de efeitos adversos e de
possveis interaes medicamentosas dos antidepressivos para poder escolher o
mais adequado para cada paciente; e no terceiro artigo de divulgao o autor
afirma serem os antidepressivos tricclicos eficazes com idosos por serem drogas relativamente seguras se bem
indicadas e manejadas, respeitando-se as limitaes de seu uso em pacientes
geritricos, bem como suas contraindicaes clinicas e farmacolgicas3,6.
Dentro da classificao temtica desse quadro, percebemos
sua importncia, quando nos recordamos o texto de Bemy2, que nos
apresenta as limitaes fsicas e tambm as vindas do declnio dos rgos
sensoriais, como um fator agravante no desenvolvimento da depresso. Estes
estudos nos levam a concluir que os idosos que se envolvem na prtica de
atividades fsicas tendem a diminuir e ao mesmo tempo superar limitaes
fsicas o que pode vir a proporcionar uma ampliao da rede social de
relacionamentos, na qual fica mais fcil o idoso conviver com a prpria idade e
suas limitaes.
Exerccios fsicos so imprescindveis para os idosos, pois
alm dos benefcios citados estes proporcionaro aos idosos uma melhor absoro
dos medicamentos, como tambm ir proporcionar aos idosos um equilbrio entre o
estado de viglia e o sono, proporcionando assim uma qualidade de vida mais
satisfatria aos idosos.
Polticas pblicas de sade envolvendo os idosos tm surgido
em muitas cidades do Brasil, como, por exemplo, os CRI (centro de referencia
para idoso), tem proporcionado muitas oportunidades para os idosos, como
atividades fsicas, de lazer, cultural e de interao social. A limitao
destas atividades se d por estar apenas cuidado dos idosos que vm em busca
de tais atividades, ainda falta quela poltica de ir ao encontro do idoso e
proporcionar a ele as condies que lhe falta para participar de tais
atividades, como por exemplo, uma ampla campanha junto aos postos de sade divulgando
e mostrando os trabalhos nesta linha para os idosos.
Quadro 4 - Distribuio dos artigos de pesquisa, da categoria idoso e
qualidade de vida segundo objetivos do estudo.
Categoria: idoso e qualidade de vida |
Objetivos das pesquisas |
Verificar
a qualidade de vida de idosos praticantes de grupo teraputico |
Examinar
a associao entre o tempo de participao na Universidade para a Terceira
Idade e as dimenses de personalidade, a qualidade de vida e a depresso em
idosas. |
Investigar
as habilidades sociais, o apoio social, a qualidade de vida e a depresso de
idosos da Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UnATI/UERJ), de contextos
familiares e de asilos utilizando como instrumentos de coleta o Inventrio de
Habilidades Sociais; a Medida de Apoio Social; o WHOQOL-ABREVIADO e a Escala
de Depresso em Geriatria. |
Tomando
como parmetro a definio de que qualidade de vida viver da melhor forma
possvel e respeitando a subjetividade de cada individuo idoso, encontramos
idosos com qualidade de vida satisfatria, quando estes frequentam atividades
como as mencionadas no quadro acima, pois as mesmas contribuem para que o
idoso, ao vivenciar momentos de socializao saudveis, obtenham uma melhor
qualidade de vida3,11.
Quadro 5 - Distribuio dos artigos de pesquisa, da categoria idoso e
outros segundo objetivos do estudo.
Categoria: idoso e outros |
Objetivos das pesquisas |
Determinar os aspectos ambientais
envolvidos na longevidade usando uma tcnica de metodologia qualitativa
denominada teoria fundamentada nos dados, tendo como populao
ex-ferrovirios longevos. |
Analisar a associao, em uma coorte
urbana de idosos, entre sintomatologia depressiva e outros indicadores de
capacidade funcional com a mortalidade aps 15 anos de seguimento. |
Verificar e analisar se houve
alterao na capacidade funcional e prevalncia de sintomas depressivos aps
trs meses da cirurgia cardaca |
Apreender as representaes
sociais (RS) dos idosos institucionalizados sobre depresso |
Investigar as relaes entre
eventos de vida estressantes, estratgias de enfrentamento, autoeficcia no enfrentamento e depresso. |
Identificar eventos da maturidade
possivelmente relacionados depresso feminina. |
Correlacionar sintomatologia
depressiva e atividades sociais em idosos |
Examinar a influncia da personalidade
no surgimento de sintomas depressivos em idosas |
Verificar a presena de fatores
de risco para quedas de idosos institucionalizados |
Dois
dos artigos eram de divulgao, um relatando a influncia da deficincia
auditiva na vida social e familiar do idoso e no outro os autores, a partir do
conceito de depresso tecem uma srie de comentrios sobre epidemiologia e
tratamento desta doena.
CONSIDERAES FINAIS
Considerando
os dados acima, podemos inferir que a depresso em idosos realmente uma
questo de sade pblica que no pode mais ficar ausente nas preocupaes dos
governantes e tambm dos profissionais de sade, pois com o aumento da
populao idosa o nmero de pessoas com esta patologia tende a ser sempre
maior. Consideramos que os ndices de depresso em idosos como foram
mencionados anteriormente tendem a serem maiores do que encontrado nas
pesquisas, pois os sintomas depressivos; como o no querer falar de si e isolar-ser so um empecilho para que o diagnstico de
depresso seja correto. As queixas somticas se tornam um agravante para que o
diagnstico da depresso venha a ser errneo, pois muitos idosos falam das
queixas psquicas como queixas somticas e nem sempre os profissionais da sade
esto atentos a ouvir essas queixas como elas realmente so, pois se assim
fossem estes ndices de depresso certamente seriam maiores.
Esta
afirmao condiz com minha experincia profissional (psiclogo). Atendendo
idosos nestes doze anos de consultrio percebo que os mesmos procuram
atendimento por uma dor que no passa apesar do tratamento clnico e medicamentoso.
Utilizando a Terapia Cognitiva Comportamental, observo que aps algumas sesses
aonde o vnculo entre paciente e profissional vai se estabelecendo, o paciente
tende a relatar com mais liberdade suas angstias, dores, tristezas e os
momentos depressivos que o mesmo vem passando; logo, a queixa inicial no a
queixa real que o traz ao consultrio.
Na
Terapia Cognitiva Comportamental, o paciente levado a relatar os
acontecimentos tristes da sua vida. O profissional o leva a perceber o que desencadeou
uma crise depressiva, como este vivenciou tal situao e o que a mesma
representou para ele, tendo assim uma associao entre os diversos momentos de
tristezas ou negativos de sua vida, como que de uma forma automtica este vai
somando os momentos estressores da vida a tal ponto que o indivduo se sente
impotente para lidar com tantos problemas. A este ponto o paciente levado a
enfrentar cada situao em separado, aonde ele vai adquirindo confiana em si
mesmo para enfrentar os problemas. O profissional (psiclogo) vai buscando na
estria de vida do paciente, exemplos onde o mesmo enfrentou as dificuldades e
teve xito.
Nesta
dinmica de atendimento, o processo lento, progressivo e satisfatrio.
Percebo que os resultados so benficos ao paciente. No idoso depressivo o uso
de medicao indispensvel, pois sem a mesma no haveria tantos resultados
positivos.
Acrescentam-se
esta dinmica de atendimento algumas orientaes para que o idoso depressivo
busque novos laos afetivos e de socializao, como: frequentar mais
assiduamente sua igreja, frequentar grupos de terceira idade ou centro de
referncia para idosos, fazer trabalhos voluntrios, praticar atividades
fsicas e de preferncia as que so praticadas em grupos; tudo isto para que o
idoso possa perceber que a vida pode ser melhor quando compartilhada com outras
pessoas, mesmo que em alguns momentos do dia ou da semana.
Outra
orientao que vem dando bons resultados ajudar o idoso para que este foque
as atenes da sua vida, naquilo que ele gostaria de ter feito e ainda no fez;
isto : algum sonho ou projeto de vida que no pode ser realizado por alguma
circunstncia ou motivo qualquer e readequar-se este sonho dentro das
limitaes pessoais do idoso para que ele busque realizar tais sonhos ou
projetos. Em outras palavras, o profissional ajuda o idoso a sonhar novamente e
organizar-se para que esses sonhos se tornem realidade, assim o idoso possa
sentir-se vivo novamente.
REFERENCIAS
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* Elisio
Mello - Psicologo. Especialista em gerontologia e
geriatriz. e-mail: discipuloamado@uol.com.br
** Marina Borges Teixeira – Profa. Dr.a do curso de Mestrado em enfermagem da Universidade Guarulhos – UnG. e-mail: marina-teixeira@uol.com.br
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