ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE ADOLESCENTES DE UMA INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE ENSINO DE SÃO PAULO, BRASIL

NUTRITIONAL STATUS AND FOOD CONSUMPTION IN ADOLESCENTS OF AN INSTITUTION OF PRIVATE EDUCATION IN SÌO PAULO, BRAZIL

Nuzzo L*, Philippi ST**, Leal GVS***, Martinez MF****

 

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi caracterizar o estado nutricional e o consumo alimentar de adolescentes de uma Institui‹o Particular de Ensino, bem como, verificar os alimentos mais consumidos e identificar poss’veis associa›es entre o consumo alimentar, atividade f’sica e ’ndice de massa corporal. O estado nutricional foi avaliado por meio do c‡lculo do êndice de Massa Corporal e classificado pelos pontos de corte propostos pela Organiza‹o Mundial da Saœde. O consumo alimentar foi obtido por meio do di‡rio alimentar. Foi utilizada an‡lise descritiva, teste t de Student, com α= 0,05, teste Qui-quadrado (X²), raz‹o de prevalncia e risco relativo. Os resultados indicaram que a maioria dos adolescentes era do gnero feminino (65%), com atividade f’sica leve e eutr—ficos (57,1% no gnero masculino). A dieta foi caracterizada por consumo energŽtico superior ou inferior ˆs recomenda›es em todas as idades. Na distribui‹o dos macronutrientes observou-se percentual superior ˆs recomenda›es para os carboidratos no gnero masculino entre 12 e 15 anos de idade e para os lip’dios no gnero masculino dos 12 aos 15 anos e no feminino dos 13 aos 18 anos (ambos os grupos com excesso de peso). A frequncia das refei›es foi 100% no almoo, 97% no jantar e 91% nos lanches intermedi‡rios. Os alimentos mais consumidos foram o leite, o arroz, os aœcares e doces. Foi detectado excesso de peso e obesidade em 28,5% dos adolescentes e consumo excessivo dos alimentos industrializados (produtos gordurosos, aœcares, doces e bebidas aucaradas) e consumo insuficiente de frutas, verduras e legumes e gr‹os integrais.

PALAVRAS-CHAVE: Adolescncia. Estado Nutricional. Consumo Alimentar.

 

ABSTRACT: The aim of this study was to characterize the nutritional status and dietary intake among adolescents in a private institution of teahing, and to verify the most consumed foods and to identify possible associations between dietary intake, physical activity and body mass index.. Nutritional status was assessed by calculating the Body Mass Index and ranked by the cutoff points proposed by the World Health Organization. Food consumption was obtained through the food diary. We used descriptive analysis, t test, with α= 0.05, chi-square (X²), prevalence ratio and relative risk. The results indicated that most of the students were female (65%), with light physical activity and normal (57.1% in males). The diet was characterized by higher or lower energy consumption to the recommendations at all ages. In the distribution of macronutrients observed percentage above the recommendations for carbohydrate in males between 12 and 15 years of age and lipids in males from 12 to 15 years and for females from 13 to 18 years (both groups with excess weight). The frequency of meals at lunch was 100%, 97% and 91% at dinner with snacks in between. The most consumed foods were milk, rice, sugar and sweets. It was detected overweight and obesity in 28.5% of adolescents and excessive consumption of processed foods (fat products, sugar, sweets and sugary drinks) and insufficient consumption of fruits, vegetables and whole grains.

KEY-WORDS: Adolescence. Nutritional Status. Food Consumption.

 



INTRODU‚ÌO

 

A adolescncia Ž o est‡gio da vida definido pela Organiza‹o Mundial de Saœde (OMS) como o intervalo compreendido entre 10 e 19 anos de idade. Aproximadamente 1,2 bilh›es de pessoas (uma em cada cinco) s‹o adolescentes. Este per’odo Ž caracterizado por mudanas psicol—gicas, f’sicas e sociais1.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) ocorreu no Brasil um crescimento da popula‹o de adolescentes, sendo aproximadamente 2,3 milh›es no Estado de S‹o Paulo2. O fato tambŽm foi observado no Munic’pio de Guarulhos-SP, onde o aumento da popula‹o de adolescentes entre 2000 e 2009 correspondeu aproximadamente 30% do crescimento populacional do munic’pio3.   

Em virtude do r‡pido crescimento e desenvolvimento, o adolescente necessita de maior demanda energŽtica e nutricional. TambŽm Ž nessa fase que as atitudes podem repercutir nas escolhas alimentares4 e no desenvolvimento do h‡bito alimentar. Este poder‡ influenciar no estado nutricional atual, ao longo da vida5,6,7,8 e no desequil’brio do balano energŽtico. Com isso, os fatores que podem interferir no consumo alimentar, tais como, ambientais, sociais, preferncias individuais e padr‹o das refei›es em fam’lia devem ser observados, pois a inadequa‹o nutricional nessa fase pode repercutir sobre o estado nutricional e de saœde, acarretando h‡bitos alimentares inadequados e consequentemente a obesidade, doenas carenciais e DCNT (doenas cr™nico n‹o transmiss’veis) 9.

Segundo Fisberg et al10 o comportamento alimentar dos adolescentes vincula-se aos padr›es manifestados pelo grupo et‡rio ao qual pertence, pela omiss‹o de refei›es, pelo consumo de alimentos de elevado conteœdo energŽtico e pobre em nutrientes, pela ingest‹o precoce de bebidas alco—licas e pelas tendncias ˆs restri›es dietŽticas. Esses comportamentos fazem parte de um estilo de vida dos adolescentes e podem contribuir para altera›es no estado nutricional11.

ƒ importante conhecer o comportamento alimentar dos adolescentes, devido ao fato de haver uma correla‹o positiva entre dieta e risco de morbimortalidade12. De acordo com Sichieri13, as mudanas no consumo alimentar, junto com outras altera›es no estilo de vida, como a diminui‹o da pr‡tica de atividade f’sica, podem contribuir para elevadas taxas de prevalncia de excesso de peso e obesidade nos diferentes grupos et‡rios.

O estado nutricional pode exercer influncia nos riscos de morbimortalidade, no crescimento e desenvolvimento dos adolescentes, no estabelecimento e desenvolvimento de interven‹o em saœde. Os dados que contribuem para a avalia‹o do estado nutricional podem ser agrupados em consumo alimentar, antropometria, testes bioqu’micos e sinais cl’nicos.

A avalia‹o do consumo alimentar e do estado nutricional em adolescentes Ž tema de grande import‰ncia para saœde pœblica, pois h‡bitos alimentares inadequados podem ocasionar desequil’brios nutricionais desfavor‡veis ao bom funcionamento do organismo.

Os objetivos do presente estudo foram avaliar o consumo alimentar e o estado nutricional quanto ao ’ndice de massa corporal de adolescentes de uma institui‹o Particular de Ensino, bem como, listar os alimentos mais consumidos e identificar poss’veis associa›es entre o consumo alimentar, atividade f’sica e ’ndice de massa corporal.

 

MATERIAIS E MƒTODOS

 

        Trata-se de um estudo transversal, com amostra obtida a partir de adolescentes, de 10 a 18 anos, matriculados em uma escola privada do munic’pio de Guarulhos, S‹o Paulo.

        A coleta de dados foi realizada no primeiro semestre de 1997, durante os meses de maro a maio. Anteriormente ao in’cio da coleta foi realizado um estudo piloto com 18 adolescentes de ambos os gneros, a fim de aperfeioar os instrumentos e procedimentos metodol—gicos.

        As vari‡veis do estudo foram gnero, idade, peso, estatura, IMC, atividade f’sica e consumo alimentar.

        Para avaliar o estado nutricional dos adolescentes, calculou-se o êndice de Massa Corporal (IMC), adotando como critŽrio de classifica‹o os valores para idade e sexo os respectivos pontos de corte pela World Health Organization1. Medidas de peso (em quilogramas) e estatura (em metros) foram obtidas em balana eletr™nica do tipo plataforma da marca Filizola, graduada em 100 gramas e com capacidade de 150 Kg, e em estadiomtro port‡til da marca TBW, com escala em cent’metros.

        As informa›es sobre o consumo alimentar foram obtidas por meio de duas aplica›es do di‡rio alimentar, realizadas em dias aleat—rios, em que foi poss’vel verificar quais as refei›es usuais e mais frequentes, assim como os alimentos mais consumidos pelos jovens.

        As an‡lises do consumo alimentar, para a obten‹o dos valores de energia e macronutrientes foram realizadas por meio do Software Virtual Nutri14. Para a compara‹o dos resultados foram utilizadas as referncias das Dietary Reference Intakes, (DRIÕs)15 e as recomenda›es expressas na Pir‰mide Alimentar Adaptada para adolescentes16.

        O tratamento estat’stico foi realizado por meio dos Softwares Excel, (vers‹o 5.0), Epi-info (vers‹o 6,04) e SPSS (vers‹o 5,02). Para an‡lise dos dados utilizou-se a mŽdia, como medida de tendncia central e o desvio padr‹o, para descrever a variabilidade da distribui‹o de peso, estatura, IMC e consumo alimentar. Para verificar a diferena entre as mŽdias do valor energŽtico e dos macronutrientes do consumo alimentar aplicou-se o teste t de Student, com n’vel de signific‰ncia de p<0,05 e α=5%. O teste Qui-quadrado (X²) foi utilizado para explorar as rela›es de dependncia entre as vari‡veis. Como medida de associa›es entre os sexos e a classifica‹o do estado nutricional mediante o ’ndice de massa corporal, foram empregados a raz‹o de prevalncia e o risco relativo.

        Este estudo foi aprovado pelo Comit de ƒtica em Pesquisa da Faculdade de Saœde Pœblica, conforme a resolu‹o 196/96 do Conselho Nacional de Saœde que envolve pesquisas em seres humanos.

 

RESULTADOS

 

        Foram avaliados 200 adolescentes sadios, sendo 130 do gnero feminino (65%) com idade entre 10 e 18 anos.

De acordo com a classifica‹o de atividade f’sica em leve, moderada e intensa, verificou-se predom’nio da atividade moderada e leve, no gnero masculino (65,7%) e feminino (75,4%), respectivamente.

        Quanto ao estado nutricional dos adolescentes a mŽdia do IMC do gnero masculino entre 10 e 13 anos de idade apresentou-se acima do percentil 85 da popula‹o de referncia e no percentil 85 aos 14 anos, apontando uma prevalncia de excesso de peso nestas fases. Dos 15 aos 17 anos, houve um decl’nio no IMC, atingindo o percentil 50 na idade de 17 anos (Figura 1).


 

Figura 1 - MŽdia do IMC de adolescentes do gnero masculino, comparada com a popula‹o de referncia, OMS 2007.

 


No gnero feminino a mŽdia do IMC estava abaixo do percentil 85 e acima do percentil 50 da popula‹o de referncia, indicando a prevalncia da normalidade do peso em rela‹o ˆ estatura elevada ao quadrado, neste grupo populacional (Figura 2).

Na classifica‹o do estado nutricional verificou-se que a prevalncia de excesso de peso no gnero feminino foi de 20,8% e diferiu entre as etapas de crescimento. Entre os meninos foi de 42,9%, apresentando-se maior que nas meninas, mas tambŽm diferiu entre as etapas de crescimento (Tabela 1).



Figura 2. MŽdia do IMC de adolescentes do gnero feminino, comparada com a popula‹o de referncia, OMS 2007.

 

Tabela 1 - Classifica‹o do estado nutricional, segundo IMC por idade e gnero – Institui‹o Particular de Ensino – Guarulhos –SP, 1997.

             IMC

 

 

*eutr—f.

**exc. peso

Total

Idade (anos)

N

%

N

%

N

%

Gnero feminino

10 I- 13

25

64,1

14

35,9

39

100,0

13 I- 18

78

85,7

13

14,3

91

100,0

TOTAL

103

79,2

27

20,8

130

100,0

Gnero masculino

 

 

 

 

 

 

10 I- 12

09

50,0

09

50,0

18

100,0

12 I- 15

10

40,0

15

60,0

25

100,0

15 I- 18

21

77,8

06

22,2

27

100,0

TOTAL

40

57,1

30

42,9

70

100,0

* = eutr—fico

** = excesso de peso

 

 


 

Ao avaliar o consumo alimentar observou-se entre os meninos que o total cal—rico das dietas do grupo eutr—fico foi superior ao excesso de peso em todas as idades e superior ˆ recomenda‹o das DRIÕs dos 10 aos 12 anos de idade. Em ambos os casos, observaram que as calorias da dieta aumentaram proporcionalmente ˆ idade. Entre as meninas, as calorias da dieta do grupo normal foram superiores ao grupo excesso de peso em todas as idades e entre 10 e 13 anos encontraram-se acima do recomendado. Com rela‹o aos adolescentes entre 13 e 18 anos encontrou-se que as calorias da dieta estavam abaixo do recomendado pelas DRIÕs. Independentemente do estado nutricional, as calorias da dieta diminuem conforme aumenta a idade e no grupo excesso de peso elas distam mais da recomenda‹o para o grupo et‡rio (Tabela 2).


 


Tabela 2 - MŽdia e desvio padr‹o das calorias das dietas de ambos os gneros, segundo classifica‹o IMC e idade – Institui‹o Particular de Ensino

Idade

(anos)

QTD

ENERGIA

RECOMENDADO ENERGIA (kCAL)

Feminino

 

NORMAL

Excesso de peso

 

 

 

mŽdia

DP

MŽdia

DP

 

10 I- 13

39

2222,03

860,12

1750,70

591,08

1907,00

13I- 18

91

2012,70

592,42

1615,46

475,81

2302,00

TOTAL

130

2063,51

668,69

1685,58

532,84

2104,5

Masculino

 

 

 

 

 

 

10 I- 12

18

2275,38

652,03

1921,68

582,97

2079,00

12 I-15

25

2465,08

618,99

2278,22

796,17

2597,50

15 I- 18

27

2966,92

781,63

2414,42

743,53

3116,00

TOTAL

70

2685,87

763,45

2159,54

709,68

2597,5

 


        Em rela‹o aos macronutrientes, observou-se que o consumo de carboidratos dos meninos em ambos os grupos foi semelhante ˆ recomenda‹o com exce‹o do grupo de 12 a 15 anos com excesso de peso, que foi inferior ˆ recomenda‹o.

Analisando-se o consumo de prote’nas observou-se ingest‹o recomendada em todas as idades independentemente do estado nutricional. Quanto ao consumo de gorduras verificou-se que o consumo entre 12 e 15 anos no grupo excesso de peso estava acima do recomendado. O grupo de maior prevalncia de excesso de peso, 12 a 15 anos apresentou maior consumo de gordura e prote’nas e menor consumo de carboidratos. Entre as meninas houve consumo semelhante ˆ recomenda‹o de carboidratos e prote’nas em todas as idades e grupos. O consumo de gorduras ultrapassou a recomenda‹o entre 13-18 anos (Tabela 3).


 

Tabela 3 - Distribui‹o percentual dos macronutrientes das dietas dos adolescentes de ambos os gneros em rela‹o a energia total, segundo classifica‹o do IMC e idade – Institui‹o particular de Ensino – Guarulhos – SP, 1997

IDADE

(anos)

DISTRIBUI‚ÌO % DOS MACRONUTRIENTES

PREVALæNCIA

 

 

CARBOIDRATO

PROTEêNA

GORDURA

Excesso peso

Masculino

Normal.

Exc.peso

Normal.

Exc.peso

Normal.

Exc.peso

%

10 I- 12

52,0

53,0

15,0

15,0

33,0

32,0

50,0

12 I- 15

50,5

43,5

15,5

18,5

34,0

38,0

60,0

15 I- 18

51,0

50,0

15,0

14,0

34,0

35,0

22,2

Feminino

 

 

 

 

 

 

 

10 I- 13

54,0

51,0

14,0

17,0

32,0

32,0

35,9

13 I- 18

51,0

48,0

15,0

16,0

34,0

36,0

14,3

test t (diferenas entre as mŽdias da normal e exc.peso) α= 5% p>0,05

 


        Quanto ˆ frequncia das refei›es e alimentos mais consumidos pelos adolescentes observou-se que 100% dos adolescentes realizavam o almoo e o jantar e a maioria tomava o cafŽ da manh‹ e lanche da tarde (97,5% e 91%, respectivamente).

        Os trs alimentos mais consumidos foram leite, arroz, aœcares e doces, respectivamente. Os menos consumidos foram carne su’na, peixe e cereais matinais, respectivamente. Os alimentos mais consumidos est‹o representados em grupos e nœmeros de por›es e quando comparados com as por›es recomendadas pela Pir‰mide Alimentar Adaptada para adolescentes16 observa-se que as por›es do grupo do arroz, p‹o, massa, batata e mandioca, do grupo das frutas, do grupo das verduras e legumes e do grupo do leite, queijo e iogurte foram inferiores ˆs recomendadas, enquanto que o grupo dos aœcares e doces foram superiores (Tabela 4).


 

Tabela 4. Nœmero de por›es di‡rias dos grupos dos alimentos de acordo com a Pir‰mide Alimentar consumidos pelos adolescentes. Guarulhos – SP, 1997.

GRUPOS DE ALIMENTOS

N¼ DE POR‚ÍES/DIA (consumo mŽdio)

N¼ DE POR‚ÍES/DIA (recomendado na pir‰mide *)

Arroz, p‹o, massa, batata e mandioca

4

7-9

Verduras e legumes

1

3-5

Frutas

1

3-5

Carnes e ovos

1,5

1 ½ -2

Feij›es

1

1

Leite, queijo, iogurte

2

4

Aœcares e doces

3

1

* Philippi et al, 2009

 


        A propor‹o de adolescentes meninos com excesso de peso foi diferente da propor‹o no feminino, ou seja, houve rela‹o de dependncia entre ser menino e ter excesso de peso, considerando-se o n’vel de signific‰ncia de 5%, o X² (10,9) foi maior que o X² cr’tico (3,841). A estimativa do risco relativo foi igual a 2,06 (RR=2,06), indicando que o risco de ter excesso de peso entre os meninos foi 2,06 vezes maior do que entre as meninas.

        A associa‹o de Yule entre atividade f’sica (leve ou moderada) e o excesso de peso nos meninos Ž positiva (Y=0,22). Entretanto, por meio do X² a propor‹o de adolescentes com atividade leve e excesso de peso foi igual a propor‹o de atividade moderada e excesso de peso , com n’vel de signific‰ncia de α =5%. Para as meninas a associa‹o de Yule foi negativa (Y=-0,54), por meio do X² a propor‹o de adolescentes com atividade leve e excesso de peso foi diferente daquelas com atividade moderada e excesso de peso (α =5%).

 

DISCUSSÌO

 

         A propor‹o de adolescentes do gnero feminino (65%) foi maior durante todo o estudo e de car‡ter mais participativo quando comparada ao masculino (35%).

        Verificou-se predom’nio da atividade moderada e leve entre os meninos e meninas, respectivamente. Umas das poss’veis explica›es para o fato Ž que jovens passam muito tempo diante da televis‹o, computador e v’deo game, o que favorece a n‹o atividade f’sica. Roberts e Rideout17, afirmaram que adolescentes assistem em mŽdia 18 horas de televis‹o por semana. Durante este per’odo, os adolescentes gastam pouca energia, favorecendo o sedentarismo, e tambŽm s‹o expostos a comerciais de fast foods, alimentos com alto teor de gordura e aœcar e bebidas aucaradas que podem prejudicar o consumo alimentar saud‡vel18. Segundo Boynton19 cada hora adicional assistida de televis‹o alŽm do nœmero ÒnormalÓ pode resultar na redu‹o de uma por‹o de frutas e vegetais por semana.

        A vari‡vel IMC foi comparada ao padr‹o de referncia proposto pela Organiza‹o Mundial da Saœde1, uma vez que no Brasil, s‹o escassos os estudos que adotaram este padr‹o de referncia, considerando as divergncias quanto aos pontos de corte utilizados para definir o estado nutricional de adolescentes. Os mais utilizados tem sido os propostos pela WHO20, pela International Obesity Task Force21, pelo Centers for Disease Control and Prevention22 e os dados de referncia para obesidade de Must et al23.

        Diante dos pontos de corte do IMC propostos pela OMS1, n‹o foram encontrados adolescentes com baixo peso, mas eutr—ficos, com excesso de peso e obesos. A maioria dos adolescentes (71,5%) apresentou estado nutricional dentro dos padr›es de normalidade, sendo detectado excesso de peso e obesidade em 28,5% (42,9% dos meninos e 20,8% das meninas). Esta propor‹o de excesso de peso mostra-se inferior ˆ relatada em estudos no Canad‡, para as meninas (27,7 dos meninos e 33,7 das meninas)24 e nos Estados Unidos (34% das meninas e 35% dos meninos)25. No Brasil, incluindo a œltima Pesquisa de Oramentos Familiares – POF, a prevalncia esteve entre 25,5 e 30,0% 26-29.

Contudo, a prevalncia de excesso de peso e de obesidade de 28,5% pode ser considerada elevada quando comparadas com crianas e adolescentes norte-americanas do estudo National Health and Nutrition Examination Survey29, em que a prevalncia de excesso de peso foi de 17% (esta aumentou de 11% para 17% de 1988-1994 a 2003-2004). O excesso de peso nessa faixa et‡ria pode predispor ˆ presena de doenas cr™nicas n‹o transmiss’veis na vida adulta9,24.

         Quanto ao consumo alimentar de energia e macronutrientes, os resultados foram analisados entre os grupos excesso de peso e eutr—ficos e comparados com a DRIÕs15.

        A ingest‹o energŽtica dos adolescentes que apresentaram excesso de peso foi menor do que entre os eutr—ficos, em ambos os gneros. Entre os meninos o aporte energŽtico por idade foi crescente em ambos os casos e esteve pr—ximo ˆ recomenda‹o. No feminino, o aporte energŽtico foi decrescente, em ambos os casos, contrariando a recomenda‹o. Resultados semelhantes foram encontrados por Rennie et al30, com tendncia de sub-relato da ingest‹o energŽtica em jovens com excesso de peso e conforme aumentou a idade.

        O consumo protŽico dos adolescentes independentemente do estado nutricional apresentou-se dentro da recomenda‹o de 10-30% do valor energŽtico total. Bertin et al31 verificaram um consumo recomendado de prote’na em 100% dos meninos e 99,1% das meninas. Caroba e Silva32 avaliaram 578 adolescentes de escolas pœblicas e tambŽm observaram consumo mŽdio recomendado de prote’nas.   

        Kazap et al33 encontraram associa‹o entre ter excesso de peso e o consumo de gordura aumentado e, sendo que o consumo aumentado de gordura influencia mais o excesso de peso do que o consumo energŽtico total. No presente estudo, o consumo entre os meninos foi de 32%-38% e 32%-36% entre as meninas, enquanto a recomenda‹o Ž de 20-35% do valor energŽtico total15.

O grupo dos adolescentes dos 13 aos 18 anos apresentou maior consumo de gordura, porŽm n‹o foi este o grupo que apresentou maior prevalncia de excesso de peso. O contr‡rio foi observado entre os meninos, em que os adolescentes que apresentaram maior consumo de gordura foram os que mais tiveram excesso de peso. Entretanto, os valores de gordura dos grupos, em ambos os gneros, n‹o apresentaram diferenas estatisticamente significantes. Ao se avaliar os valores de carboidratos e prote’nas entre os grupos tambŽm n‹o houve diferena significante.

        No presente estudo n‹o foi encontrada associa‹o estatisticamente significante entre a composi‹o da dieta e IMC, n‹o permitindo inferir a causa de excesso de peso entre os adolescentes do estudo.

        Verificando-se as refei›es realizadas foi observado que 97,5%, 100% e 100% costumavam fazer o cafŽ da manh‹, almoo e jantar, respectivamente. E, 79,5% e 91% realizavam o lanche da manh‹ e da tarde, respectivamente. Costa et al34 analisando a frequncia das refei›es di‡rias observaram que o cafŽ da manh‹ foi menos prevalente (66,5%), enquanto o almoo e jantar foram os mais frequentes (98,4% e 83,6%, respectivamente). Quanto aos lanches, nesse mesmo estudo foi observada maior frequncia no consumo do lanche da tarde (73,0%).

        Dentre os alimentos mais consumidos pelos adolescentes destacam-se o leite, o arroz e os aœcares e doces. Resultados semelhantes foram encontrados em outro estudo35 em que o leite e o arroz eram consumidos habitualmente (95% e 51,1%, respectivamente).

        Considerando o consumo adequado de aœcares e doces de uma por‹o por dia, segundo a Pir‰mide Alimentar Adaptada para adolescentes16 observou-se um consumo excessivo deste grupo de alimentos (trs por›es por dia). O consumo habitual de doces e aœcares pode refletir as mudanas no h‡bito alimentar, com consumo excessivo dos alimentos industrializados (produtos gordurosos, aœcares, doces e bebidas aucaradas) e consumo insuficiente de frutas, verduras e legumes e gr‹os integrais. AlŽm disso, os alimentos com aœcares e doces devem ter consumo moderado, uma vez que podem estar presentes nos alimentos na sua forma natural ou adicionados em prepara›es.

       

CONCLUSÌO

 

        Foi detectado excesso de peso e obesidade em 28,5% (42,9% dos meninos e 20,8% das meninas), consumo excessivo dos alimentos industrializados (produtos gordurosos, aœcares, doces e bebidas aucaradas) e consumo insuficiente de frutas, verduras e legumes e gr‹os integrais.

 

REFERæNCIAS

 

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* Letizia Nuzzo - Mestre em Saœde Pœblica pela Faculdade de Saœde Pœblica da USP e docente do curso de nutri‹o da Universidade Guarulhos. e-mail: lnuzzo@prof.ung.br

** Sonia Tucunduva Philippi - Professora Associada do Departamento de Nutri‹o da Faculdade de Saœde Pœblica da Universidade de S‹o Paulo. e-mail: philippi@usp.br

*** Greisse Viero Silva Leal - Mestre em Saœde Pœblica pela Faculdade de Saœde Pœblica da Universidade de S‹o Paulo. e-mail: greisse@usp.br

**** Marcelle Flores Martinez - Mestranda em Nutri‹o Humana Aplicada (PRONUT) da Universidade de S‹o Paulo. e-mail: marcellefmartinez@usp.br



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