ESTADO
NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE ADOLESCENTES DE UMA INSTITUIÇÃO
PARTICULAR DE ENSINO DE SÃO PAULO, BRASIL
NUTRITIONAL
STATUS AND FOOD CONSUMPTION IN ADOLESCENTS OF AN INSTITUTION OF PRIVATE
EDUCATION IN SO PAULO, BRAZIL
Nuzzo
L*, Philippi ST **, Leal GVS ***, Martinez MF ****
RESUMO: O objetivo deste trabalho foi
caracterizar o estado nutricional e o consumo alimentar de adolescentes de uma
Instituio Particular de Ensino, bem como, verificar os alimentos mais
consumidos e identificar possveis associaes entre o consumo alimentar,
atividade fsica e ndice de massa corporal. O estado nutricional foi avaliado
por meio do clculo do ndice de Massa Corporal e classificado pelos pontos de
corte propostos pela Organizao Mundial da Sade. O consumo alimentar foi
obtido por meio do dirio alimentar. Foi utilizada anlise descritiva, teste t de Student,
com α= 0,05, teste Qui-quadrado (X²), razo de prevalncia e risco
relativo. Os resultados indicaram que a maioria dos adolescentes era do gnero
feminino (65%), com atividade fsica leve e eutrficos (57,1% no gnero
masculino). A dieta foi caracterizada por consumo energtico superior ou
inferior s recomendaes em todas as idades. Na distribuio dos
macronutrientes observou-se percentual superior s recomendaes para os
carboidratos no gnero masculino entre 12 e 15 anos de idade e para os lipdios
no gnero masculino dos 12 aos 15 anos e no feminino dos 13 aos 18 anos (ambos
os grupos com excesso de peso). A frequncia
das refeies foi 100% no almoo, 97% no jantar e 91% nos lanches
intermedirios. Os alimentos mais consumidos foram o leite, o arroz, os
acares e doces. Foi detectado excesso de peso e obesidade em 28,5% dos
adolescentes e consumo excessivo dos alimentos industrializados (produtos
gordurosos, acares, doces e bebidas aucaradas) e consumo insuficiente de
frutas, verduras e legumes e gros integrais.
PALAVRAS-CHAVE: Adolescncia. Estado Nutricional. Consumo
Alimentar.
ABSTRACT: The aim of this study was to characterize the nutritional
status and dietary intake among adolescents in a private institution of teahing,
and to verify the most consumed foods and to identify possible associations
between dietary intake, physical activity and body mass index.. Nutritional
status was assessed by calculating the Body Mass Index and ranked by the cutoff
points proposed by the World Health Organization. Food consumption was obtained
through the food diary. We used descriptive analysis, t test, with α= 0.05, chi-square (X²), prevalence ratio and
relative risk. The results indicated that most of the students were female
(65%), with light physical activity and normal (57.1% in males). The diet was
characterized by higher or lower energy consumption to the recommendations at
all ages. In the distribution of macronutrients observed percentage above the
recommendations for carbohydrate in males between 12 and 15 years of age and
lipids in males from 12 to 15 years and for females from 13 to 18 years (both groups
with excess weight). The frequency of meals at lunch was 100%, 97% and 91% at
dinner with snacks in between. The most consumed foods were milk, rice, sugar
and sweets. It was detected overweight and obesity in 28.5% of adolescents and
excessive consumption of processed foods (fat products, sugar, sweets and
sugary drinks) and insufficient consumption of fruits, vegetables and whole
grains.
KEY-WORDS: Adolescence. Nutritional Status. Food
Consumption.
INTRODUO
A
adolescncia o estgio da vida definido pela Organizao Mundial de Sade
(OMS) como o intervalo compreendido entre 10 e 19 anos de idade.
Aproximadamente 1,2 bilhes de pessoas (uma em cada cinco) so adolescentes.
Este perodo caracterizado por mudanas psicolgicas, fsicas e sociais1.
Segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) ocorreu no Brasil um crescimento da
populao de adolescentes, sendo aproximadamente 2,3 milhes no Estado de So
Paulo2. O fato tambm foi observado no Municpio de
Guarulhos-SP, onde o aumento da populao de adolescentes entre 2000 e 2009
correspondeu aproximadamente 30% do crescimento populacional do municpio3.
Em
virtude do rpido crescimento e desenvolvimento, o adolescente necessita de
maior demanda energtica e nutricional. Tambm nessa fase que as atitudes
podem repercutir nas escolhas alimentares4 e no desenvolvimento do
hbito alimentar. Este poder influenciar no estado nutricional atual, ao longo
da vida5,6,7,8 e no desequilbrio do balano energtico. Com isso,
os fatores que podem interferir no consumo alimentar, tais como, ambientais,
sociais, preferncias individuais e padro das refeies em famlia devem ser
observados, pois a inadequao nutricional nessa fase pode repercutir sobre o
estado nutricional e de sade, acarretando hbitos alimentares inadequados e
consequentemente a obesidade, doenas carenciais e DCNT (doenas crnico no
transmissveis) 9.
Segundo
Fisberg et al10 o comportamento alimentar dos adolescentes
vincula-se aos padres manifestados pelo grupo etrio ao qual pertence, pela
omisso de refeies, pelo consumo de alimentos de elevado contedo energtico
e pobre em nutrientes, pela ingesto precoce de bebidas alcolicas e pelas
tendncias s restries dietticas. Esses comportamentos fazem parte de um
estilo de vida dos adolescentes e podem contribuir para alteraes no estado
nutricional11.
importante conhecer o comportamento alimentar dos adolescentes, devido ao fato
de haver uma correlao positiva entre dieta e risco de morbimortalidade12.
De acordo com Sichieri13, as mudanas no consumo alimentar, junto
com outras alteraes no estilo de vida, como a diminuio da prtica de
atividade fsica, podem contribuir para elevadas taxas de prevalncia de
excesso de peso e obesidade nos diferentes grupos etrios.
O
estado nutricional pode exercer influncia nos riscos de morbimortalidade, no
crescimento e desenvolvimento dos adolescentes, no estabelecimento e
desenvolvimento de interveno em sade. Os dados que contribuem para a
avaliao do estado nutricional podem ser agrupados em consumo alimentar,
antropometria, testes bioqumicos e sinais clnicos.
A
avaliao do consumo alimentar e do estado nutricional em adolescentes tema
de grande importncia para sade pblica, pois hbitos alimentares inadequados
podem ocasionar desequilbrios nutricionais desfavorveis ao bom funcionamento
do organismo.
Os
objetivos do presente estudo foram avaliar o consumo alimentar e o estado
nutricional quanto ao ndice de massa corporal de adolescentes de uma
instituio Particular de Ensino, bem como, listar os alimentos mais consumidos
e identificar possveis associaes entre o consumo alimentar, atividade fsica
e ndice de massa corporal.
MATERIAIS E MTODOS
Trata-se
de um estudo transversal, com amostra obtida a partir de adolescentes, de 10 a
18 anos, matriculados em uma escola privada do municpio de Guarulhos, So
Paulo.
A
coleta de dados foi realizada no primeiro semestre de 1997, durante os meses de
maro a maio. Anteriormente ao incio da coleta foi realizado um estudo piloto
com 18 adolescentes de ambos os gneros, a fim de aperfeioar os instrumentos e
procedimentos metodolgicos.
As
variveis do estudo foram gnero, idade, peso, estatura, IMC, atividade fsica
e consumo alimentar.
Para
avaliar o estado nutricional dos adolescentes, calculou-se o ndice de Massa
Corporal (IMC), adotando como critrio de classificao os valores para idade e
sexo os respectivos pontos de corte pela World Health Organization1.
Medidas de peso (em quilogramas) e estatura (em metros) foram obtidas em
balana eletrnica do tipo plataforma da marca Filizola, graduada em 100 gramas
e com capacidade de 150 Kg, e em estadiomtro porttil da marca TBW, com escala
em centmetros.
As
informaes sobre o consumo alimentar foram obtidas por meio de duas aplicaes
do dirio alimentar, realizadas em dias aleatrios, em que foi possvel
verificar quais as refeies usuais e mais frequentes, assim como os alimentos
mais consumidos pelos jovens.
As
anlises do consumo alimentar, para a obteno dos valores de energia e
macronutrientes foram realizadas por meio do Software Virtual Nutri14. Para a comparao dos
resultados foram utilizadas as referncias das Dietary Reference Intakes, (DRIs)15 e as recomendaes
expressas na Pirmide Alimentar Adaptada para adolescentes16.
O
tratamento estatstico foi realizado por meio dos Softwares Excel, (verso 5.0), Epi-info (verso 6,04) e SPSS (verso
5,02). Para anlise dos dados utilizou-se a mdia, como medida de tendncia
central e o desvio padro, para descrever a variabilidade da distribuio de
peso, estatura, IMC e consumo alimentar. Para verificar a diferena entre as
mdias do valor energtico e dos macronutrientes do consumo alimentar
aplicou-se o teste t de Student, com
nvel de significncia de p<0,05 e α=5%. O teste Qui-quadrado (X²)
foi utilizado para explorar as relaes de dependncia entre as variveis. Como
medida de associaes entre os sexos e a classificao do estado nutricional
mediante o ndice de massa corporal, foram empregados a razo de prevalncia e
o risco relativo.
Este
estudo foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da Faculdade de Sade
Pblica, conforme a resoluo 196/96 do Conselho Nacional de Sade que envolve
pesquisas em seres humanos.
RESULTADOS
Foram avaliados 200 adolescentes sadios,
sendo 130 do gnero feminino (65%) com idade entre 10 e 18 anos.
De
acordo com a classificao de atividade fsica em leve, moderada e intensa,
verificou-se predomnio da atividade moderada e leve, no gnero masculino
(65,7%) e feminino (75,4%), respectivamente.
Quanto
ao estado nutricional dos adolescentes a mdia do IMC do gnero masculino entre
10 e 13 anos de idade apresentou-se acima do percentil 85 da populao de
referncia e no percentil 85 aos 14 anos, apontando uma prevalncia de excesso
de peso nestas fases. Dos 15 aos 17 anos, houve um declnio no IMC, atingindo o
percentil 50 na idade de 17 anos (Figura 1).
Figura 1 - Mdia do IMC de adolescentes do gnero masculino, comparada
com a populao de referncia, OMS 2007.
No
gnero feminino a mdia do IMC estava abaixo do percentil 85 e acima do
percentil 50 da populao de referncia, indicando a prevalncia da normalidade
do peso em relao estatura elevada ao quadrado, neste grupo populacional
(Figura 2).
Na
classificao do estado nutricional verificou-se que a prevalncia de excesso
de peso no gnero feminino foi de 20,8% e diferiu entre as etapas de
crescimento. Entre os meninos foi de 42,9%, apresentando-se maior que nas
meninas, mas tambm diferiu entre as etapas de crescimento (Tabela 1).
Figura 2. Mdia do IMC de adolescentes do gnero
feminino, comparada com a populao de referncia, OMS 2007.
Tabela 1 - Classificao do estado nutricional, segundo
IMC por idade e gnero – Instituio Particular de Ensino –
Guarulhos –SP, 1997.
IMC |
|
|||||
|
*eutrf. |
**exc.
peso |
Total |
|||
Idade
(anos) |
N |
% |
N |
% |
N |
% |
Gnero
feminino 10 I-
13 |
25 |
64,1 |
14 |
35,9 |
39 |
100,0 |
13 I-
18 |
78 |
85,7 |
13 |
14,3 |
91 |
100,0 |
TOTAL |
103 |
79,2 |
27 |
20,8 |
130 |
100,0 |
Gnero
masculino |
|
|
|
|
|
|
10 I-
12 |
09 |
50,0 |
09 |
50,0 |
18 |
100,0 |
12 I-
15 |
10 |
40,0 |
15 |
60,0 |
25 |
100,0 |
15 I-
18 |
21 |
77,8 |
06 |
22,2 |
27 |
100,0 |
TOTAL |
40 |
57,1 |
30 |
42,9 |
70 |
100,0 |
*
= eutrfico
**
= excesso de peso
Ao
avaliar o consumo alimentar observou-se entre os meninos que o total calrico
das dietas do grupo eutrfico foi superior ao excesso de peso em todas as
idades e superior recomendao das DRIs dos 10 aos 12 anos de idade. Em
ambos os casos, observaram que as calorias da dieta aumentaram
proporcionalmente idade. Entre as meninas, as calorias da dieta do grupo
normal foram superiores ao grupo excesso de peso em todas as idades e entre 10
e 13 anos encontraram-se acima do recomendado. Com relao aos adolescentes
entre 13 e 18 anos encontrou-se que as calorias da dieta estavam abaixo do
recomendado pelas DRIs. Independentemente do estado nutricional, as calorias
da dieta diminuem conforme aumenta a idade e no grupo excesso de peso elas
distam mais da recomendao para o grupo etrio (Tabela 2).
Tabela 2 - Mdia
e desvio padro das calorias das dietas de ambos os gneros, segundo
classificao IMC e idade – Instituio Particular de Ensino
Idade (anos) |
QTD |
ENERGIA |
RECOMENDADO ENERGIA (kCAL) |
|||
Feminino |
|
NORMAL |
Excesso de peso |
|
||
|
|
mdia |
DP |
Mdia |
DP |
|
10 I- 13 |
39 |
2222,03 |
860,12 |
1750,70 |
591,08 |
1907,00 |
13I- 18 |
91 |
2012,70 |
592,42 |
1615,46 |
475,81 |
2302,00 |
TOTAL |
130 |
2063,51 |
668,69 |
1685,58 |
532,84 |
2104,5 |
Masculino |
|
|
|
|
|
|
10 I- 12 |
18 |
2275,38 |
652,03 |
1921,68 |
582,97 |
2079,00 |
12 I-15 |
25 |
2465,08 |
618,99 |
2278,22 |
796,17 |
2597,50 |
15 I- 18 |
27 |
2966,92 |
781,63 |
2414,42 |
743,53 |
3116,00 |
TOTAL |
70 |
2685,87 |
763,45 |
2159,54 |
709,68 |
2597,5 |
Em
relao aos macronutrientes, observou-se que o consumo de carboidratos dos
meninos em ambos os grupos foi semelhante recomendao com exceo do grupo
de 12 a 15 anos com excesso de peso, que foi inferior recomendao.
Analisando-se
o consumo de protenas observou-se ingesto recomendada em todas as idades
independentemente do estado nutricional. Quanto ao consumo de gorduras
verificou-se que o consumo entre 12 e 15 anos no grupo excesso de peso estava
acima do recomendado. O grupo de maior prevalncia de excesso de peso, 12 a 15
anos apresentou maior consumo de gordura e protenas e menor consumo de
carboidratos. Entre as meninas houve consumo semelhante recomendao de
carboidratos e protenas em todas as idades e grupos. O consumo de gorduras
ultrapassou a recomendao entre 13-18 anos (Tabela 3).
Tabela 3 -
Distribuio percentual dos macronutrientes das dietas dos adolescentes de
ambos os gneros em relao a energia total, segundo classificao do IMC e
idade – Instituio particular de Ensino – Guarulhos – SP,
1997
IDADE (anos) |
DISTRIBUIO % DOS MACRONUTRIENTES |
PREVALNCIA |
|||||
|
CARBOIDRATO |
PROTENA |
GORDURA |
Excesso peso |
|||
Masculino |
Normal. |
Exc.peso |
Normal. |
Exc.peso |
Normal. |
Exc.peso |
% |
10 I- 12 |
52,0 |
53,0 |
15,0 |
15,0 |
33,0 |
32,0 |
50,0 |
12 I- 15 |
50,5 |
43,5 |
15,5 |
18,5 |
34,0 |
38,0 |
60,0 |
15 I- 18 |
51,0 |
50,0 |
15,0 |
14,0 |
34,0 |
35,0 |
22,2 |
Feminino |
|
|
|
|
|
|
|
10 I- 13 |
54,0 |
51,0 |
14,0 |
17,0 |
32,0 |
32,0 |
35,9 |
13 I- 18 |
51,0 |
48,0 |
15,0 |
16,0 |
34,0 |
36,0 |
14,3 |
test t (diferenas entre as mdias da
normal e exc.peso) α= 5% p>0,05
Quanto frequncia das refeies e
alimentos mais consumidos pelos adolescentes observou-se que 100% dos
adolescentes realizavam o almoo e o jantar e a maioria tomava o caf da manh
e lanche da tarde (97,5% e 91%, respectivamente).
Os
trs alimentos mais consumidos foram leite, arroz, acares e doces,
respectivamente. Os menos consumidos foram carne suna, peixe e cereais matinais,
respectivamente. Os alimentos mais consumidos esto representados em grupos e
nmeros de pores e quando comparados com as pores recomendadas pela
Pirmide Alimentar Adaptada para adolescentes16 observa-se que as
pores do grupo do arroz, po, massa, batata e mandioca, do grupo das frutas,
do grupo das verduras e legumes e do grupo do leite, queijo e iogurte foram
inferiores s recomendadas, enquanto que o grupo dos acares e doces foram
superiores (Tabela 4).
Tabela 4.
Nmero de pores dirias dos grupos dos alimentos de acordo com a Pirmide
Alimentar consumidos pelos adolescentes. Guarulhos – SP, 1997.
GRUPOS DE ALIMENTOS |
N DE PORES/DIA (consumo mdio) |
N DE PORES/DIA (recomendado na pirmide *) |
Arroz, po, massa, batata e mandioca |
4 |
7-9 |
Verduras e legumes |
1 |
3-5 |
Frutas |
1 |
3-5 |
Carnes e ovos |
1,5 |
1 ½ -2 |
Feijes |
1 |
1 |
Leite, queijo, iogurte |
2 |
4 |
Acares e doces |
3 |
1 |
* Philippi et al, 2009
A proporo de adolescentes meninos com
excesso de peso foi diferente da proporo no feminino, ou seja, houve relao
de dependncia entre ser menino e ter excesso de peso, considerando-se o nvel
de significncia de 5%, o X² (10,9) foi maior que o X² crtico
(3,841). A estimativa do risco relativo foi igual a 2,06 (RR=2,06), indicando que
o risco de ter excesso de peso entre os meninos foi 2,06 vezes maior do que
entre as meninas.
A
associao de Yule entre atividade fsica (leve ou moderada) e o excesso de
peso nos meninos positiva (Y=0,22). Entretanto, por meio do X² a
proporo de adolescentes com atividade leve e excesso de peso foi igual a
proporo de atividade moderada e excesso de peso , com nvel de significncia
de α =5%. Para as meninas a associao de Yule foi negativa (Y=-0,54), por
meio do X² a proporo de adolescentes com atividade leve e excesso de
peso foi diferente daquelas com atividade moderada e excesso de peso (α =5%).
DISCUSSO
A proporo de adolescentes do gnero
feminino (65%) foi maior durante todo o estudo e de carter mais participativo
quando comparada ao masculino (35%).
Verificou-se
predomnio da atividade moderada e leve entre os meninos e meninas,
respectivamente. Umas das possveis explicaes para o fato que jovens passam
muito tempo diante da televiso, computador e vdeo game, o que favorece a no
atividade fsica. Roberts e Rideout17, afirmaram que adolescentes
assistem em mdia 18 horas de televiso por semana. Durante este perodo, os
adolescentes gastam pouca energia, favorecendo o sedentarismo, e tambm so
expostos a comerciais de fast foods,
alimentos com alto teor de gordura e acar e bebidas aucaradas que podem
prejudicar o consumo alimentar saudvel18. Segundo Boynton19
cada hora adicional assistida de televiso alm do nmero normal pode
resultar na reduo de uma poro de frutas e vegetais por semana.
A
varivel IMC foi comparada ao padro de referncia proposto pela Organizao
Mundial da Sade1, uma vez que no Brasil, so escassos os estudos
que adotaram este padro de referncia, considerando as divergncias
quanto aos pontos de corte utilizados para definir o estado nutricional de
adolescentes. Os mais utilizados tem sido os propostos pela WHO20,
pela International Obesity Task Force21, pelo Centers for Disease Control and Prevention22 e os dados de referncia
para obesidade de Must et al23.
Diante
dos pontos de corte do IMC propostos pela OMS1, no foram
encontrados adolescentes com baixo peso, mas eutrficos, com excesso de peso e
obesos. A maioria dos adolescentes (71,5%) apresentou estado nutricional dentro
dos padres de normalidade, sendo detectado excesso de peso e obesidade em
28,5% (42,9% dos meninos e 20,8% das meninas). Esta proporo de excesso de
peso mostra-se inferior relatada em estudos no Canad, para as meninas (27,7
dos meninos e 33,7 das meninas)24 e nos Estados Unidos (34% das
meninas e 35% dos meninos)25. No Brasil, incluindo a ltima Pesquisa
de Oramentos Familiares – POF, a prevalncia esteve entre 25,5 e 30,0% 26-29.
Contudo, a
prevalncia de excesso de peso e de obesidade de 28,5% pode ser considerada
elevada quando comparadas com crianas e adolescentes norte-americanas do
estudo National Health and Nutrition Examination Survey29, em
que a prevalncia de excesso de peso foi de 17% (esta aumentou de 11% para 17%
de 1988-1994 a 2003-2004). O excesso de peso nessa faixa etria pode predispor
presena de doenas crnicas no transmissveis na vida adulta9,24.
Quanto ao consumo alimentar de energia e
macronutrientes, os resultados foram analisados entre os grupos excesso de peso
e eutrficos e comparados com a DRIs15.
A
ingesto energtica dos adolescentes que apresentaram excesso de peso foi menor
do que entre os eutrficos, em ambos os gneros. Entre os meninos o aporte
energtico por idade foi crescente em ambos os casos e esteve prximo
recomendao. No feminino, o aporte energtico foi decrescente, em ambos os
casos, contrariando a recomendao. Resultados semelhantes foram encontrados
por Rennie et al30, com tendncia de sub-relato da ingesto
energtica em jovens com excesso
de peso e conforme aumentou a idade.
O
consumo protico dos adolescentes independentemente do estado nutricional
apresentou-se dentro da recomendao de 10-30% do valor energtico total.
Bertin et al31 verificaram
um consumo recomendado de protena em 100% dos meninos e 99,1% das meninas.
Caroba e Silva32 avaliaram 578 adolescentes de escolas pblicas e
tambm observaram consumo mdio recomendado de protenas.
Kazap
et al33 encontraram associao entre ter excesso de peso e o consumo
de gordura aumentado e, sendo que o consumo aumentado de gordura influencia
mais o excesso de peso do que o consumo energtico total. No presente estudo, o
consumo entre os meninos foi de 32%-38% e 32%-36% entre as meninas, enquanto a
recomendao de 20-35% do valor energtico total15.
O
grupo dos adolescentes dos 13 aos 18 anos apresentou maior consumo de gordura,
porm no foi este o grupo que apresentou maior prevalncia de excesso de peso.
O contrrio foi observado entre os meninos, em que os adolescentes que
apresentaram maior consumo de gordura foram os que mais tiveram excesso de
peso. Entretanto, os valores de gordura dos grupos, em ambos os gneros, no
apresentaram diferenas estatisticamente significantes. Ao se avaliar os
valores de carboidratos e protenas entre os grupos tambm no houve diferena
significante.
No
presente estudo no foi encontrada associao estatisticamente significante entre
a composio da dieta e IMC, no permitindo inferir a causa de excesso de peso
entre os adolescentes do estudo.
Verificando-se
as refeies realizadas foi observado que 97,5%, 100% e 100% costumavam fazer o
caf da manh, almoo e jantar, respectivamente. E, 79,5% e 91% realizavam o
lanche da manh e da tarde, respectivamente. Costa et al34
analisando a frequncia das refeies dirias observaram que o caf da manh
foi menos prevalente (66,5%), enquanto o almoo e jantar foram os mais frequentes
(98,4% e 83,6%, respectivamente). Quanto aos lanches, nesse mesmo estudo foi
observada maior frequncia no consumo do lanche da tarde (73,0%).
Dentre
os alimentos mais consumidos pelos adolescentes destacam-se o leite, o arroz e
os acares e doces. Resultados semelhantes foram encontrados em outro estudo35
em que o leite e o arroz eram consumidos habitualmente (95% e 51,1%,
respectivamente).
Considerando
o consumo adequado de acares e doces de uma poro por dia, segundo a
Pirmide Alimentar Adaptada para adolescentes16 observou-se um
consumo excessivo deste grupo de alimentos (trs pores por dia). O consumo
habitual de doces e acares pode refletir as mudanas no hbito alimentar, com
consumo excessivo dos alimentos industrializados (produtos gordurosos,
acares, doces e bebidas aucaradas) e consumo insuficiente de frutas,
verduras e legumes e gros integrais. Alm disso, os alimentos com acares e
doces devem ter consumo moderado, uma vez que podem estar presentes nos
alimentos na sua forma natural ou adicionados em preparaes.
CONCLUSO
Foi
detectado excesso de peso e obesidade em 28,5% (42,9% dos meninos e 20,8% das
meninas), consumo excessivo dos alimentos industrializados (produtos
gordurosos, acares, doces e bebidas aucaradas) e consumo insuficiente de
frutas, verduras e legumes e gros integrais.
REFERNCIAS
1. World health organization. [homepage na internet];
Geneva: Who. [Atualizada em 2009; acesso em 25 jul. 2009]. Growth reference
data for 5-19 years, 2007. Disponvel em: <http://www.who.int/growthref/en/>
2. Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatstica (IBGE). [Home Page na Internet]. Rio de Janeiro:
IBGE. [Atualizada em 2007; Acesso em 28 ago. 2010]. Contagem da populao.
Disponvel em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
contagem2007/contagem>
3.
Fundao Seade. Informaes dos municpios paulistas, 2009. [Base de dados na
internet] Local: Instituio. Data. [Atualizada em dia ms ano; acesso em 02
out. 2010]. Disponvel em: <http://www.seade.gov.br/>
10. Fisberg
M, Bandeira CRS, Bonilla EA, Halpern G, Hirschbruch MD. Hbitos alimentares na
adolescncia. Pediatr Mod. 2000; 36:724-34.
13. Sichieri R. Avaliao do consumo alimentar e
do consumo de energia. In: Sichiere R, organizador. Epidemiologia da obesidade.
Rio de Janeiro: EDUEJ; 1998. p. 65-88.
14. Philippi ST, Szarfarc SC, Latterza AR. Virtual
nutria. [software].
Verso 1.0, for windows. So Paulo, Departamento de Nutrio da Faculdade de
Sade Pblica/USP; 1996.
15. Dietary Reference Intakes
for Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, and
Amino Acids (Macronutrients). A Report of the Panel on Macronutrients 2005. 1357p.
16.
Philippi ST, Aquino RC, Leal GVS. Necessidades e recomendaes nutricionais. In:
Palma D, Oliveira FLC, Escrivo MAMS. Guia
de nutrio clnica na Infncia e na adolescncia. Barueri, SP: Manole;
2009. p. 55-67.
18. Gantz W, Schwartz N, Angelini JR, Rideout V. Food for thought: Television food advertising
to children in the United States. Menlo Park: Kaiser Family Foundation;
2007. p.1-55.
19. Boynton-Jarrett R, Thomas TN, Peterson KE,
Wiecha J, Sobol AM, Gortmaker SL. Impact
of television viewing patterns on fruit and vegetable consumption among
adolescents. Pediatrics. 2003;
112(6 Pt 1):1321-1326.
26. Nuzzo
L. Avaliao do estado nutricional de
adolescentes de uma escola privada de ensino. [Dissertao de Mestrado].
So Paulo: Faculdade de Sade Pblica, Universidade de So Paulo; 1998.
27. Albano
RB. Estado nutricional e consumo
alimentar de adolescentes. [Dissertao de mestrado]. So Paulo: faculdade
de sade pblica, Universidade de So Paulo; 2000.
29. Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica (IBGE). [Homepage na internet]. Rio de Janeiro: IBGE. 2010. [Atualizada
em data; acesso em 25 out. 2010.] Pesquisa de Oramentos Familiares 2008-2009:
antropometria e estado nutricional de crianas, adolescentes e adultos no
Brasil. Disponvel em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009_encaa/pof_20082009_encaa.pdf
30. United States Department of Health and Human Services. [Homepage na internet] Estados Unidos: CDC, 2009. [Atualizada em 2010; Acesso em 19 abr. 2009]. Centers for Disease Control and Prevention. National Center for Health Statistics. National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), 2003-2004. Disponvel em: <http://www.cdc.gov/nchs/nhanes/nhanes2003-2004/nhanes03_04.htm.>
32. Caroba DCR, Silva MV. Consumo alimentar de adolescentes matriculados
na rede pblica de ensino de Piracicaba-SP. Segurana alimentar e nutricional.
Rev Nutr PUCCAMP. 2005; 12: 55-66.
34. Costa
MCD, Cordoni Junior L, Matsuo T. Hbito alimentar de escolares adolescentes de
um municpio do oeste do Paran. Rev Nutr. 2007;20(5):461-71.
36. Philippi
ST. Alimentao saudvel e as pirmide dos alimentos. In: Pirmide dos
alimentos: fundamentos bsicos da nutrio. Barueri: Manole; 2008. p. 1-30.
*
Letizia Nuzzo - Mestre em Sade Pblica pela Faculdade de Sade Pblica da USP
e docente do curso de nutrio da Universidade Guarulhos. e-mail: lnuzzo@prof.ung.br
** Sonia Tucunduva
Philippi - Professora Associada do Departamento de Nutrio da Faculdade de
Sade Pblica da Universidade de So Paulo. e-mail: philippi@usp.br
*** Greisse Viero
Silva Leal - Mestre em Sade Pblica pela Faculdade de Sade Pblica da
Universidade de So Paulo. e-mail: greisse@usp.br
**** Marcelle Flores
Martinez - Mestranda em Nutrio Humana Aplicada (PRONUT)
da Universidade de So Paulo. e-mail: marcellefmartinez@usp.br