ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE ADOLESCENTES DE UMA INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE ENSINO DE SÃO PAULO, BRASIL

NUTRITIONAL STATUS AND FOOD CONSUMPTION IN ADOLESCENTS OF AN INSTITUTION OF PRIVATE EDUCATION IN SO PAULO, BRAZIL

Nuzzo L*, Philippi ST **, Leal GVS ***, Martinez MF ****

 

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi caracterizar o estado nutricional e o consumo alimentar de adolescentes de uma Instituio Particular de Ensino, bem como, verificar os alimentos mais consumidos e identificar possveis associaes entre o consumo alimentar, atividade fsica e ndice de massa corporal. O estado nutricional foi avaliado por meio do clculo do ndice de Massa Corporal e classificado pelos pontos de corte propostos pela Organizao Mundial da Sade. O consumo alimentar foi obtido por meio do dirio alimentar. Foi utilizada anlise descritiva, teste t de Student, com α= 0,05, teste Qui-quadrado (X²), razo de prevalncia e risco relativo. Os resultados indicaram que a maioria dos adolescentes era do gnero feminino (65%), com atividade fsica leve e eutrficos (57,1% no gnero masculino). A dieta foi caracterizada por consumo energtico superior ou inferior s recomendaes em todas as idades. Na distribuio dos macronutrientes observou-se percentual superior s recomendaes para os carboidratos no gnero masculino entre 12 e 15 anos de idade e para os lipdios no gnero masculino dos 12 aos 15 anos e no feminino dos 13 aos 18 anos (ambos os grupos com excesso de peso). A frequncia das refeies foi 100% no almoo, 97% no jantar e 91% nos lanches intermedirios. Os alimentos mais consumidos foram o leite, o arroz, os acares e doces. Foi detectado excesso de peso e obesidade em 28,5% dos adolescentes e consumo excessivo dos alimentos industrializados (produtos gordurosos, acares, doces e bebidas aucaradas) e consumo insuficiente de frutas, verduras e legumes e gros integrais.

PALAVRAS-CHAVE: Adolescncia. Estado Nutricional. Consumo Alimentar.

 

ABSTRACT: The aim of this study was to characterize the nutritional status and dietary intake among adolescents in a private institution of teahing, and to verify the most consumed foods and to identify possible associations between dietary intake, physical activity and body mass index.. Nutritional status was assessed by calculating the Body Mass Index and ranked by the cutoff points proposed by the World Health Organization. Food consumption was obtained through the food diary. We used descriptive analysis, t test, with α= 0.05, chi-square (X²), prevalence ratio and relative risk. The results indicated that most of the students were female (65%), with light physical activity and normal (57.1% in males). The diet was characterized by higher or lower energy consumption to the recommendations at all ages. In the distribution of macronutrients observed percentage above the recommendations for carbohydrate in males between 12 and 15 years of age and lipids in males from 12 to 15 years and for females from 13 to 18 years (both groups with excess weight). The frequency of meals at lunch was 100%, 97% and 91% at dinner with snacks in between. The most consumed foods were milk, rice, sugar and sweets. It was detected overweight and obesity in 28.5% of adolescents and excessive consumption of processed foods (fat products, sugar, sweets and sugary drinks) and insufficient consumption of fruits, vegetables and whole grains.

KEY-WORDS: Adolescence. Nutritional Status. Food Consumption.

 



INTRODUO

 

A adolescncia o estgio da vida definido pela Organizao Mundial de Sade (OMS) como o intervalo compreendido entre 10 e 19 anos de idade. Aproximadamente 1,2 bilhes de pessoas (uma em cada cinco) so adolescentes. Este perodo caracterizado por mudanas psicolgicas, fsicas e sociais1.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) ocorreu no Brasil um crescimento da populao de adolescentes, sendo aproximadamente 2,3 milhes no Estado de So Paulo2. O fato tambm foi observado no Municpio de Guarulhos-SP, onde o aumento da populao de adolescentes entre 2000 e 2009 correspondeu aproximadamente 30% do crescimento populacional do municpio3.   

Em virtude do rpido crescimento e desenvolvimento, o adolescente necessita de maior demanda energtica e nutricional. Tambm nessa fase que as atitudes podem repercutir nas escolhas alimentares4 e no desenvolvimento do hbito alimentar. Este poder influenciar no estado nutricional atual, ao longo da vida5,6,7,8 e no desequilbrio do balano energtico. Com isso, os fatores que podem interferir no consumo alimentar, tais como, ambientais, sociais, preferncias individuais e padro das refeies em famlia devem ser observados, pois a inadequao nutricional nessa fase pode repercutir sobre o estado nutricional e de sade, acarretando hbitos alimentares inadequados e consequentemente a obesidade, doenas carenciais e DCNT (doenas crnico no transmissveis) 9.

Segundo Fisberg et al10 o comportamento alimentar dos adolescentes vincula-se aos padres manifestados pelo grupo etrio ao qual pertence, pela omisso de refeies, pelo consumo de alimentos de elevado contedo energtico e pobre em nutrientes, pela ingesto precoce de bebidas alcolicas e pelas tendncias s restries dietticas. Esses comportamentos fazem parte de um estilo de vida dos adolescentes e podem contribuir para alteraes no estado nutricional11.

importante conhecer o comportamento alimentar dos adolescentes, devido ao fato de haver uma correlao positiva entre dieta e risco de morbimortalidade12. De acordo com Sichieri13, as mudanas no consumo alimentar, junto com outras alteraes no estilo de vida, como a diminuio da prtica de atividade fsica, podem contribuir para elevadas taxas de prevalncia de excesso de peso e obesidade nos diferentes grupos etrios.

O estado nutricional pode exercer influncia nos riscos de morbimortalidade, no crescimento e desenvolvimento dos adolescentes, no estabelecimento e desenvolvimento de interveno em sade. Os dados que contribuem para a avaliao do estado nutricional podem ser agrupados em consumo alimentar, antropometria, testes bioqumicos e sinais clnicos.

A avaliao do consumo alimentar e do estado nutricional em adolescentes tema de grande importncia para sade pblica, pois hbitos alimentares inadequados podem ocasionar desequilbrios nutricionais desfavorveis ao bom funcionamento do organismo.

Os objetivos do presente estudo foram avaliar o consumo alimentar e o estado nutricional quanto ao ndice de massa corporal de adolescentes de uma instituio Particular de Ensino, bem como, listar os alimentos mais consumidos e identificar possveis associaes entre o consumo alimentar, atividade fsica e ndice de massa corporal.

 

MATERIAIS E MTODOS

 

        Trata-se de um estudo transversal, com amostra obtida a partir de adolescentes, de 10 a 18 anos, matriculados em uma escola privada do municpio de Guarulhos, So Paulo.

        A coleta de dados foi realizada no primeiro semestre de 1997, durante os meses de maro a maio. Anteriormente ao incio da coleta foi realizado um estudo piloto com 18 adolescentes de ambos os gneros, a fim de aperfeioar os instrumentos e procedimentos metodolgicos.

        As variveis do estudo foram gnero, idade, peso, estatura, IMC, atividade fsica e consumo alimentar.

        Para avaliar o estado nutricional dos adolescentes, calculou-se o ndice de Massa Corporal (IMC), adotando como critrio de classificao os valores para idade e sexo os respectivos pontos de corte pela World Health Organization1. Medidas de peso (em quilogramas) e estatura (em metros) foram obtidas em balana eletrnica do tipo plataforma da marca Filizola, graduada em 100 gramas e com capacidade de 150 Kg, e em estadiomtro porttil da marca TBW, com escala em centmetros.

        As informaes sobre o consumo alimentar foram obtidas por meio de duas aplicaes do dirio alimentar, realizadas em dias aleatrios, em que foi possvel verificar quais as refeies usuais e mais frequentes, assim como os alimentos mais consumidos pelos jovens.

        As anlises do consumo alimentar, para a obteno dos valores de energia e macronutrientes foram realizadas por meio do Software Virtual Nutri14. Para a comparao dos resultados foram utilizadas as referncias das Dietary Reference Intakes, (DRIs)15 e as recomendaes expressas na Pirmide Alimentar Adaptada para adolescentes16.

        O tratamento estatstico foi realizado por meio dos Softwares Excel, (verso 5.0), Epi-info (verso 6,04) e SPSS (verso 5,02). Para anlise dos dados utilizou-se a mdia, como medida de tendncia central e o desvio padro, para descrever a variabilidade da distribuio de peso, estatura, IMC e consumo alimentar. Para verificar a diferena entre as mdias do valor energtico e dos macronutrientes do consumo alimentar aplicou-se o teste t de Student, com nvel de significncia de p<0,05 e α=5%. O teste Qui-quadrado (X²) foi utilizado para explorar as relaes de dependncia entre as variveis. Como medida de associaes entre os sexos e a classificao do estado nutricional mediante o ndice de massa corporal, foram empregados a razo de prevalncia e o risco relativo.

        Este estudo foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da Faculdade de Sade Pblica, conforme a resoluo 196/96 do Conselho Nacional de Sade que envolve pesquisas em seres humanos.

 

RESULTADOS

 

        Foram avaliados 200 adolescentes sadios, sendo 130 do gnero feminino (65%) com idade entre 10 e 18 anos.

De acordo com a classificao de atividade fsica em leve, moderada e intensa, verificou-se predomnio da atividade moderada e leve, no gnero masculino (65,7%) e feminino (75,4%), respectivamente.

        Quanto ao estado nutricional dos adolescentes a mdia do IMC do gnero masculino entre 10 e 13 anos de idade apresentou-se acima do percentil 85 da populao de referncia e no percentil 85 aos 14 anos, apontando uma prevalncia de excesso de peso nestas fases. Dos 15 aos 17 anos, houve um declnio no IMC, atingindo o percentil 50 na idade de 17 anos (Figura 1).


 

Figura 1 - Mdia do IMC de adolescentes do gnero masculino, comparada com a populao de referncia, OMS 2007.

 


No gnero feminino a mdia do IMC estava abaixo do percentil 85 e acima do percentil 50 da populao de referncia, indicando a prevalncia da normalidade do peso em relao estatura elevada ao quadrado, neste grupo populacional (Figura 2).

Na classificao do estado nutricional verificou-se que a prevalncia de excesso de peso no gnero feminino foi de 20,8% e diferiu entre as etapas de crescimento. Entre os meninos foi de 42,9%, apresentando-se maior que nas meninas, mas tambm diferiu entre as etapas de crescimento (Tabela 1).



Figura 2. Mdia do IMC de adolescentes do gnero feminino, comparada com a populao de referncia, OMS 2007.

 

Tabela 1 - Classificao do estado nutricional, segundo IMC por idade e gnero – Instituio Particular de Ensino – Guarulhos –SP, 1997.

             IMC

 

 

*eutrf.

**exc. peso

Total

Idade (anos)

N

%

N

%

N

%

Gnero feminino

10 I- 13

25

64,1

14

35,9

39

100,0

13 I- 18

78

85,7

13

14,3

91

100,0

TOTAL

103

79,2

27

20,8

130

100,0

Gnero masculino

 

 

 

 

 

 

10 I- 12

09

50,0

09

50,0

18

100,0

12 I- 15

10

40,0

15

60,0

25

100,0

15 I- 18

21

77,8

06

22,2

27

100,0

TOTAL

40

57,1

30

42,9

70

100,0

* = eutrfico

** = excesso de peso

 

 


 

Ao avaliar o consumo alimentar observou-se entre os meninos que o total calrico das dietas do grupo eutrfico foi superior ao excesso de peso em todas as idades e superior recomendao das DRIs dos 10 aos 12 anos de idade. Em ambos os casos, observaram que as calorias da dieta aumentaram proporcionalmente idade. Entre as meninas, as calorias da dieta do grupo normal foram superiores ao grupo excesso de peso em todas as idades e entre 10 e 13 anos encontraram-se acima do recomendado. Com relao aos adolescentes entre 13 e 18 anos encontrou-se que as calorias da dieta estavam abaixo do recomendado pelas DRIs. Independentemente do estado nutricional, as calorias da dieta diminuem conforme aumenta a idade e no grupo excesso de peso elas distam mais da recomendao para o grupo etrio (Tabela 2).


 


Tabela 2 - Mdia e desvio padro das calorias das dietas de ambos os gneros, segundo classificao IMC e idade – Instituio Particular de Ensino

Idade

(anos)

QTD

ENERGIA

RECOMENDADO ENERGIA (kCAL)

Feminino

 

NORMAL

Excesso de peso

 

 

 

mdia

DP

Mdia

DP

 

10 I- 13

39

2222,03

860,12

1750,70

591,08

1907,00

13I- 18

91

2012,70

592,42

1615,46

475,81

2302,00

TOTAL

130

2063,51

668,69

1685,58

532,84

2104,5

Masculino

 

 

 

 

 

 

10 I- 12

18

2275,38

652,03

1921,68

582,97

2079,00

12 I-15

25

2465,08

618,99

2278,22

796,17

2597,50

15 I- 18

27

2966,92

781,63

2414,42

743,53

3116,00

TOTAL

70

2685,87

763,45

2159,54

709,68

2597,5

 


        Em relao aos macronutrientes, observou-se que o consumo de carboidratos dos meninos em ambos os grupos foi semelhante recomendao com exceo do grupo de 12 a 15 anos com excesso de peso, que foi inferior recomendao.

Analisando-se o consumo de protenas observou-se ingesto recomendada em todas as idades independentemente do estado nutricional. Quanto ao consumo de gorduras verificou-se que o consumo entre 12 e 15 anos no grupo excesso de peso estava acima do recomendado. O grupo de maior prevalncia de excesso de peso, 12 a 15 anos apresentou maior consumo de gordura e protenas e menor consumo de carboidratos. Entre as meninas houve consumo semelhante recomendao de carboidratos e protenas em todas as idades e grupos. O consumo de gorduras ultrapassou a recomendao entre 13-18 anos (Tabela 3).


 

Tabela 3 - Distribuio percentual dos macronutrientes das dietas dos adolescentes de ambos os gneros em relao a energia total, segundo classificao do IMC e idade – Instituio particular de Ensino – Guarulhos – SP, 1997

IDADE

(anos)

DISTRIBUIO % DOS MACRONUTRIENTES

PREVALNCIA

 

 

CARBOIDRATO

PROTENA

GORDURA

Excesso peso

Masculino

Normal.

Exc.peso

Normal.

Exc.peso

Normal.

Exc.peso

%

10 I- 12

52,0

53,0

15,0

15,0

33,0

32,0

50,0

12 I- 15

50,5

43,5

15,5

18,5

34,0

38,0

60,0

15 I- 18

51,0

50,0

15,0

14,0

34,0

35,0

22,2

Feminino

 

 

 

 

 

 

 

10 I- 13

54,0

51,0

14,0

17,0

32,0

32,0

35,9

13 I- 18

51,0

48,0

15,0

16,0

34,0

36,0

14,3

test t (diferenas entre as mdias da normal e exc.peso) α= 5% p>0,05

 


        Quanto frequncia das refeies e alimentos mais consumidos pelos adolescentes observou-se que 100% dos adolescentes realizavam o almoo e o jantar e a maioria tomava o caf da manh e lanche da tarde (97,5% e 91%, respectivamente).

        Os trs alimentos mais consumidos foram leite, arroz, acares e doces, respectivamente. Os menos consumidos foram carne suna, peixe e cereais matinais, respectivamente. Os alimentos mais consumidos esto representados em grupos e nmeros de pores e quando comparados com as pores recomendadas pela Pirmide Alimentar Adaptada para adolescentes16 observa-se que as pores do grupo do arroz, po, massa, batata e mandioca, do grupo das frutas, do grupo das verduras e legumes e do grupo do leite, queijo e iogurte foram inferiores s recomendadas, enquanto que o grupo dos acares e doces foram superiores (Tabela 4).


 

Tabela 4. Nmero de pores dirias dos grupos dos alimentos de acordo com a Pirmide Alimentar consumidos pelos adolescentes. Guarulhos – SP, 1997.

GRUPOS DE ALIMENTOS

N DE PORES/DIA (consumo mdio)

N DE PORES/DIA (recomendado na pirmide *)

Arroz, po, massa, batata e mandioca

4

7-9

Verduras e legumes

1

3-5

Frutas

1

3-5

Carnes e ovos

1,5

1 ½ -2

Feijes

1

1

Leite, queijo, iogurte

2

4

Acares e doces

3

1

* Philippi et al, 2009

 


        A proporo de adolescentes meninos com excesso de peso foi diferente da proporo no feminino, ou seja, houve relao de dependncia entre ser menino e ter excesso de peso, considerando-se o nvel de significncia de 5%, o X² (10,9) foi maior que o X² crtico (3,841). A estimativa do risco relativo foi igual a 2,06 (RR=2,06), indicando que o risco de ter excesso de peso entre os meninos foi 2,06 vezes maior do que entre as meninas.

        A associao de Yule entre atividade fsica (leve ou moderada) e o excesso de peso nos meninos positiva (Y=0,22). Entretanto, por meio do X² a proporo de adolescentes com atividade leve e excesso de peso foi igual a proporo de atividade moderada e excesso de peso , com nvel de significncia de α =5%. Para as meninas a associao de Yule foi negativa (Y=-0,54), por meio do X² a proporo de adolescentes com atividade leve e excesso de peso foi diferente daquelas com atividade moderada e excesso de peso (α =5%).

 

DISCUSSO

 

         A proporo de adolescentes do gnero feminino (65%) foi maior durante todo o estudo e de carter mais participativo quando comparada ao masculino (35%).

        Verificou-se predomnio da atividade moderada e leve entre os meninos e meninas, respectivamente. Umas das possveis explicaes para o fato que jovens passam muito tempo diante da televiso, computador e vdeo game, o que favorece a no atividade fsica. Roberts e Rideout17, afirmaram que adolescentes assistem em mdia 18 horas de televiso por semana. Durante este perodo, os adolescentes gastam pouca energia, favorecendo o sedentarismo, e tambm so expostos a comerciais de fast foods, alimentos com alto teor de gordura e acar e bebidas aucaradas que podem prejudicar o consumo alimentar saudvel18. Segundo Boynton19 cada hora adicional assistida de televiso alm do nmero normal pode resultar na reduo de uma poro de frutas e vegetais por semana.

        A varivel IMC foi comparada ao padro de referncia proposto pela Organizao Mundial da Sade1, uma vez que no Brasil, so escassos os estudos que adotaram este padro de referncia, considerando as divergncias quanto aos pontos de corte utilizados para definir o estado nutricional de adolescentes. Os mais utilizados tem sido os propostos pela WHO20, pela International Obesity Task Force21, pelo Centers for Disease Control and Prevention22 e os dados de referncia para obesidade de Must et al23.

        Diante dos pontos de corte do IMC propostos pela OMS1, no foram encontrados adolescentes com baixo peso, mas eutrficos, com excesso de peso e obesos. A maioria dos adolescentes (71,5%) apresentou estado nutricional dentro dos padres de normalidade, sendo detectado excesso de peso e obesidade em 28,5% (42,9% dos meninos e 20,8% das meninas). Esta proporo de excesso de peso mostra-se inferior relatada em estudos no Canad, para as meninas (27,7 dos meninos e 33,7 das meninas)24 e nos Estados Unidos (34% das meninas e 35% dos meninos)25. No Brasil, incluindo a ltima Pesquisa de Oramentos Familiares – POF, a prevalncia esteve entre 25,5 e 30,0% 26-29.

Contudo, a prevalncia de excesso de peso e de obesidade de 28,5% pode ser considerada elevada quando comparadas com crianas e adolescentes norte-americanas do estudo National Health and Nutrition Examination Survey29, em que a prevalncia de excesso de peso foi de 17% (esta aumentou de 11% para 17% de 1988-1994 a 2003-2004). O excesso de peso nessa faixa etria pode predispor presena de doenas crnicas no transmissveis na vida adulta9,24.

         Quanto ao consumo alimentar de energia e macronutrientes, os resultados foram analisados entre os grupos excesso de peso e eutrficos e comparados com a DRIs15.

        A ingesto energtica dos adolescentes que apresentaram excesso de peso foi menor do que entre os eutrficos, em ambos os gneros. Entre os meninos o aporte energtico por idade foi crescente em ambos os casos e esteve prximo recomendao. No feminino, o aporte energtico foi decrescente, em ambos os casos, contrariando a recomendao. Resultados semelhantes foram encontrados por Rennie et al30, com tendncia de sub-relato da ingesto energtica em jovens com excesso de peso e conforme aumentou a idade.

        O consumo protico dos adolescentes independentemente do estado nutricional apresentou-se dentro da recomendao de 10-30% do valor energtico total. Bertin et al31 verificaram um consumo recomendado de protena em 100% dos meninos e 99,1% das meninas. Caroba e Silva32 avaliaram 578 adolescentes de escolas pblicas e tambm observaram consumo mdio recomendado de protenas.   

        Kazap et al33 encontraram associao entre ter excesso de peso e o consumo de gordura aumentado e, sendo que o consumo aumentado de gordura influencia mais o excesso de peso do que o consumo energtico total. No presente estudo, o consumo entre os meninos foi de 32%-38% e 32%-36% entre as meninas, enquanto a recomendao de 20-35% do valor energtico total15.

O grupo dos adolescentes dos 13 aos 18 anos apresentou maior consumo de gordura, porm no foi este o grupo que apresentou maior prevalncia de excesso de peso. O contrrio foi observado entre os meninos, em que os adolescentes que apresentaram maior consumo de gordura foram os que mais tiveram excesso de peso. Entretanto, os valores de gordura dos grupos, em ambos os gneros, no apresentaram diferenas estatisticamente significantes. Ao se avaliar os valores de carboidratos e protenas entre os grupos tambm no houve diferena significante.

        No presente estudo no foi encontrada associao estatisticamente significante entre a composio da dieta e IMC, no permitindo inferir a causa de excesso de peso entre os adolescentes do estudo.

        Verificando-se as refeies realizadas foi observado que 97,5%, 100% e 100% costumavam fazer o caf da manh, almoo e jantar, respectivamente. E, 79,5% e 91% realizavam o lanche da manh e da tarde, respectivamente. Costa et al34 analisando a frequncia das refeies dirias observaram que o caf da manh foi menos prevalente (66,5%), enquanto o almoo e jantar foram os mais frequentes (98,4% e 83,6%, respectivamente). Quanto aos lanches, nesse mesmo estudo foi observada maior frequncia no consumo do lanche da tarde (73,0%).

        Dentre os alimentos mais consumidos pelos adolescentes destacam-se o leite, o arroz e os acares e doces. Resultados semelhantes foram encontrados em outro estudo35 em que o leite e o arroz eram consumidos habitualmente (95% e 51,1%, respectivamente).

        Considerando o consumo adequado de acares e doces de uma poro por dia, segundo a Pirmide Alimentar Adaptada para adolescentes16 observou-se um consumo excessivo deste grupo de alimentos (trs pores por dia). O consumo habitual de doces e acares pode refletir as mudanas no hbito alimentar, com consumo excessivo dos alimentos industrializados (produtos gordurosos, acares, doces e bebidas aucaradas) e consumo insuficiente de frutas, verduras e legumes e gros integrais. Alm disso, os alimentos com acares e doces devem ter consumo moderado, uma vez que podem estar presentes nos alimentos na sua forma natural ou adicionados em preparaes.

       

CONCLUSO

 

        Foi detectado excesso de peso e obesidade em 28,5% (42,9% dos meninos e 20,8% das meninas), consumo excessivo dos alimentos industrializados (produtos gordurosos, acares, doces e bebidas aucaradas) e consumo insuficiente de frutas, verduras e legumes e gros integrais.

 

REFERNCIAS

 

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* Letizia Nuzzo - Mestre em Sade Pblica pela Faculdade de Sade Pblica da USP e docente do curso de nutrio da Universidade Guarulhos. e-mail: lnuzzo@prof.ung.br

** Sonia Tucunduva Philippi - Professora Associada do Departamento de Nutrio da Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo. e-mail: philippi@usp.br

*** Greisse Viero Silva Leal - Mestre em Sade Pblica pela Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo. e-mail: greisse@usp.br

**** Marcelle Flores Martinez - Mestranda em Nutrio Humana Aplicada (PRONUT) da Universidade de So Paulo. e-mail: marcellefmartinez@usp.br