PSICO-ONCOLOGIA: PROPOSTA
DE TRABALHO DE APOIO PSICOSSOCIAL AOS PACIENTES COM CÂNCER
PSYCHO-ONCOLOGY: PROPOSAL OF WORK OF PSYCHOSOCIAL SUPPORT TO THE
PATIENTS WITH CANCER
RESUMO: Este trabalho verificou a ocorrência de trabalho de apoio
psicossocial aos pacientes de câncer, bem como a atuação de profissionais de
Psico-oncologia, em um contexto no qual os pacientes sentem-se inseguros e
vulneráveis. A finalidade da averiguação foi delimitar, através de publicações,
instrumentos utilizados por profissionais envolvidos no tratamento, a fim de
reduzir o sofrimento destes e seus familiares. Propôs ainda, ser facilitador
para o enfrentamento e convívio com a doença. Este estudo promove uma reflexão
em torno da formação acadêmica dos profissionais da saúde, resultando em melhor
qualidade de vida aos pacientes. O método utilizado para a coleta de dados
consistiu de uma revisão bibliográfica através da busca eletrônica nos sites: Dedalus / Sibi (conectado via
Internet, contendo o acervo de obras da USP) e Scielo
(Scientific Eletronic Library Online). Além disso, também teve o acesso às
bibliotecas de universidades da cidade de Guarulhos e São Paulo. Com os
resultados alcançados, poder-se-á promover trabalhos de esclarecimentos e
aconselhamento aos profissionais da área de oncologia, que possam contribuir
para facilitar a integração destes com os pacientes e familiares, evitando
desajustamento pessoais que, com o passar do tempo, necessitariam de apoio
especializado e mais custoso.
PALAVRAS-CHAVE:
Tratamento oncológico. Pacientes de câncer. Psico-oncologia. Intervenção psicossocial. Apoio psicossocial e cuidadores.
ABSTRACT: This study examined the occurrence of work of
psychosocial support to the cancer patients, as well as the performance of
professionals of Psycho-oncology, in a context in which the patients feel
themselves unsafe and vulnerable. The purpose of the present study was to
delimit, through publications, instruments used by involved professionals in
the treatment, in order to reduce the suffering of these and their families. It
still considered, to be a facilitator for the facing and living with the
illness. This study promotes a reflection around the academic formation of the
professionals of the health, resulting in better quality of life to the
patients. The method used for the collection of data consisted of a
bibliographical revision through the electronic search on sites: Dedalus/Sibi
(connected way Internet, containing the collection of works of USP) and Scielo (Scientific Eletronic
Library Online). Moreover, they also had the access university libraries in the
city of Guarulhos and São Paulo. With the reached results, it will be able to
be promoted works of clarifications and advice to the professionals of
oncology, who can contribute to facilitate the integration of these with the
patients and families, avoiding personal maladjustment that, with passing of
the time, would need specialized support and costly.
KEYWORDS: Oncology treatment. Patients of cancer.
Psycho-oncology. Psychosocial intervention. Psychosocial
support and caregivers.
INTRODUÇÃO
Desde 1995, o Instituto Nacional do Câncer
– INCA1, estima e publica anualmente a incidência de câncer,
com o objetivo de subsidiar gestores e planejadores na área da saúde, com informações
atualizadas sobre casos novos e mortes por câncer. Segundo as divulgações do
INCA, atualmente no Brasil, o câncer se constitui na segunda causa de morte por
doença. As estimativas para o ano de 2008 e válidas também para o ano de 2009,
apontam que ocorrerão 466.730 casos novos de câncer.1
Essas publicações são importantes para
divulgar a magnitude do problema do câncer e projetar a preparação de recursos
humanos para a cobertura de serviços de atendimento oncológico no país. O INCA,
órgão de referência nacional no tratamento dessa patologia, apenas em 1979
contratou o primeiro psicólogo.1
Em 1985 o setor de psicologia passou a ser
um setor independente, com um corpo formado por seis profissionais. Em 2003
esta instituição cria o primeiro curso de especialização em Psicologia
Oncológica, formando dez profissionais. Entretanto, muitas dúvidas permeiam
este campo, que demanda decisões amplas, incluindo os vários setores
diretamente envolvidos, bem como a sociedade como um todo.1
Uma das dúvidas que aparecem em discussão
envolve a continuidade ou não de certos tratamentos, quem decide e quais os
critérios utilizados para a decisão final.1
É uma decisão individual ou envolve várias
instâncias? Se a decisão couber ao paciente, fica a dúvida se ele estará
devidamente capacitado para decidir. Há também nesta abordagem a discussão
sobre decisões que envolvem o risco de morte, onde os profissionais podem ser
apontados pelos familiares e/ ou pela sociedade de irresponsáveis, ao deixar a
decisão por conta do paciente. Além disso, entra a questão se o mais importante
para um sujeito é uma vida com melhor qualidade, embora mais curta ou uma vida
longa com sofrimento e limitações?2
Nesse contexto existe também a preocupação
com a pessoa do profissional encarregado de cuidar desses pacientes
oncológicos. Tem-se um grande desgaste nesse relacionamento, chegando até gerar
estresse.
Na temática de estresse no trabalho, de
acordo com Jacques (2004),3 há uma certa unanimidade entre os
autores de que o estresse se constitui em um quadro psicopatológico quando se
cronifica. Esta pesquisa aborda a hipótese básica de que os profissionais da
área de oncologia necessitam de treinamento e orientação técnica, para lidar
com o cotidiano de cuidar.
Surge, então, o problema de pesquisa:
- Ocorre trabalho de apoio psicossocial aos
pacientes de câncer?
A partir desse problema de pesquisa,
promoveu-se a coleta de dados bibliográficos, que possam delimitar métodos
eficientes de intervenção psicoterapêuticas e de suporte no contexto oncológico,
favorecendo o enfrentamento da doença e oferecendo aos pacientes a chance de
passar por esta etapa de suas vidas com dignidade, minimizando de alguma forma,
seus níveis de angústia.
Esse estudo bibliográfico visa contribuir
para o desenvolvimento de suporte psicológico diante das dúvidas que permeiam
este campo, citadas acima, justamente no momento em que os pacientes sentem-se
inseguros e vulneráveis, buscando amenizar, o quanto possível suas maiores
dificuldades. Além disso, esse estudo é útil para promover uma reflexão em
torno da formação acadêmica dos profissionais da saúde, resultando em melhor qualidade
de vida aos pacientes.
Objetivos
A finalidade da averiguação foi delimitar,
através da literatura existente, instrumentos utilizados por profissionais
envolvidos no tratamento de pacientes oncológicos, a fim de reduzir o
sofrimento deles e seus familiares. Propõe ainda, ser facilitador para o
enfrentamento e convívio com a doença, resultando em melhor qualidade de vida.
Para tal finalidade se fez necessário: verificar
através da literatura pertinente, a ocorrência de trabalho de apoio
psicossocial aos pacientes de câncer e familiares; verificar na literatura
existente, a atuação de profissionais de Psico-oncologia; examinar
bibliografias que discutem a relação entre estresse e o tratamento da doença; verificar
na literatura existente o que pode influenciar a não adesão ao tratamento;
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O
câncer
O câncer é doença que apresenta um processo
de crescimento desordenado de células anormais em diferentes partes do
organismo (com exceção do coração) e o seu desenvolvimento afeta tanto
crianças, quanto adultos.4 O modelo biomédico interpreta e pressupõe
a doença como “um mal do corpo”, o que é um reflexo da dicotomia cartesiana. Os
processos psicológicos e sociais estão excluídos desse modelo.5
Alguns estudos revelam que há indícios
sobre a existência de uma relação entre o aparecimento do câncer e um
funcionamento inadequado do sistema imunológico, que é responsável pela defesa
do organismo contra doenças em geral produzidas pela infecção de vírus e
bactérias, e também contra a produção de células anormais, tais como as células
do câncer. Fatores psicossociais (hábito de vida, fumo, álcool, drogas, hábitos
alimentares inadequado, sedentarismo e principalmente a exposição ao nível de
estresse inadequado) contribuem comprovadamente para o mau funcionamento do
sistema imunológico e podem estar correlacionados ao surgimento do câncer.4
A psiconeuroimunologia tem fornecido
enormes contribuições ao desenvolvimento da Psico-oncologia. Seus avanços vêm
demonstrando de forma irrefutável, a relação entre o funcionamento do sistema
imunológico e as emoções. Isso é revelado pelas pesquisas iniciais de Amkraut e Solomon (1975),6
citados por Mello Filho e Moreira (1992),7 que relacionam algumas
doenças, como o câncer, às disfunções do sistema imune, as quais são induzidas
pelo estresse mediadas pelo sistema endócrino.
Mello Filho e Moreira (1992)7
fazem referência aos estudos de Jerne (1974),8 os quais propiciam a
compreensão do sistema imune como um mediador das relações do indivíduo consigo
próprio e com o meio externo, pela percepção de estímulos não cognitivos, como
bactérias, vírus e diversas alterações no meio interno, envolvendo-se portanto
na manutenção da integridade corporal, como um sistema autorregulável,
adaptativo e da vida de relação, e operando em íntima associação com o sistema
endócrino.8
Conforme Costa Júnior (2001),4
há também crenças e comportamentos que estigmatizam o paciente oncológico,
isolando-o do convívio social, no qual prejudicam o combate à doença,
diagnóstico precoce e prevenção.
O câncer é doença que possui aspectos multietiológicos, sendo ainda apontados os fatores
pessoais, fatores genéticos (hereditariedade para alguns tipos), fatores
ambientais (exposição à radiação, poluentes, conservantes alimentares),
ocupação e estilo de vida como relevantes no processo de adoecer por câncer.9
Para que a doença se desenvolva, “parece
ser necessária uma operação conjunta de vários fatores, tais como a
predisposição genética, a exposição a fatores ambientais de risco, determinados
vírus, algumas substâncias alimentícias e outros fatores”.10
Segundo Carvalho, Tonani
e Barbosa (2005),9 é determinante para a prevenção e controle dessa
doença, o grau de conhecimento desses fatores e sua relação com o câncer, tanto
por parte da população quanto dos profissionais da área de saúde. As ações
preventivas ou de reabilitação, poderão evitar perdas de vidas e proporcionar
melhores condições de sobrevida.
Carvalho, M. M (2002) salienta que a
descoberta de tratamentos novos, foram modificando, a partir do século XX, a
visão do câncer como sentença de morte. Novas informações sobre as causas e os
processos de câncer, e novos tratamentos – radioterapia, quimioterapia,
imunoterapia e outros – começaram a modificar o panorama da doença,
trazendo esperança de maior sobrevida e cura, em um grande número de casos.11
Psico-oncologia
A Psico-oncologia é a área de interface
entre a oncologia e a psicologia, e visa o bem estar do paciente de câncer, bem
como sua qualidade de vida.5 Abrange a assistência ao paciente,
família e profissionais de saúde envolvidos com a prevenção, tratamento,
reabilitação e a fase em que os pacientes se encontram fora dos recursos de
cura da doença.
O corpo teórico e prático da
Psico-oncologia se constituiu assim que ressaltada a importância do modelo
biopsicossocial para a compreensão da etiologia do câncer e seus processos, e
as suas consequências físicas e psíquicas.10
Os primeiros estudos da ligação corpo e
mente no câncer tiveram início na Grécia, mas a expansão somente ocorreu no
século XIX, com a Psicanálise. Quando a medicina é submetida aos rigores da
ciência, o câncer passa ser estudado em melhores condições. Nos fins do mesmo
século, com o aparecimento da anestesia, inicia-se a grande trajetória nos
avanços das pesquisas em relação à doença.10
Há 2.300 anos antes do advento da
psicologia científica, os gregos formularam duas “teorias”: a platônica, que
postulava a imortalidade da alma e a concebia separada do corpo, e a
aristotélica, que afirmava a mortalidade da alma e a sua relação de
pertencimento ao corpo.12
No século XIX, temas da psicologia que eram
estudados exclusivamente pelos filósofos, começam a ser investigados pela
fisiologia e pela neurofisiologia. Sigmund Freud (1856/1939), alterou
radicalmente o modo de pensar a vida psíquica. Ele colocou como problemas
científicos, as regiões obscuras do psiquismo, como as fantasias, os sonhos e
os esquecimentos. A investigação sistemática desses problemas levou Freud à
criação da Psicanálise. Usa-se o termo Psicanálise para se referir a uma
teoria, a um método de investigação e a uma prática profissional.12
Segundo Cobra (2003),13 a
Psicanálise é ao mesmo tempo um modo particular de tratamento de desequilíbrio
mental e uma teoria psicológica que se ocupa dos processos mentais
inconscientes. É uma teoria da estrutura e funcionamento da mente humana e um
método de análise dos motivos do comportamento. E ainda uma doutrina filosófica
e um método terapêutico de doenças de natureza psicológica supostamente sem
motivação orgânica.
Ao serem incorporados, esses conhecimentos,
na Psicanálise, foi aberto o caminho para um número grande de conceitos
subordinados que eram novos, como os de atos sintomáticos, sublimação,
perversão, tipos de personalidade, recalque, transferência, narcisismo,
projeção, introjeção, etc. Por isso constituiu-se a Psicanálise, em um modo
novo de abordar as condições psíquicas correspondentes a estados de infelicidade
e a comportamentos anti-sociais, e deu nascimento ao tratamento clínico
psicológico e psiquiátrico moderno.13
A profissão de psicólogo foi criada em
1962, através da Lei 4.119 de 27/08/1962. Nesse momento já existiam alguns
cursos de Psicologia em níveis de graduação e especialização.14
Nessa época, também já existia a Associação Brasileira dos Psicólogos, criada
em 1954, com sede no Rio de Janeiro. Segundo o autor, com a primeira turma do
curso de Psicologia, formada pela PUC do Rio de Janeiro, em 1960, as várias
especialidades começaram a aparecer, tanto nas atividades práticas quanto em
reuniões científicas, indicando, assim, a consolidação da profissão.14
As equipes formadas por psiquiatras e
psicólogos só foram requisitadas pelos oncologistas a partir da década de 70 do
século XX, inicialmente com o objetivo de auxiliar o médico na dificuldade da
informação do diagnóstico de câncer ao paciente e sua família, e atualmente
essas equipes têm também a incumbência de fazer com que os profissionais envolvidos
no tratamento, compreendam que estamos tratando de um ser humano e não apenas
da enfermidade trazida por ele.11
A partir da publicação da portaria nº 3.535
do Ministério da Saúde, publicada no Diário Oficial da união em 14 out. 1998,
passa a ser oficial e determina a presença obrigatória do psicólogo clínico nos
serviços de suporte, como um dos critérios de cadastramento de centros de
atendimento em oncologia junto ao Sistema Único de Saúde – SUS.15
A atuação do psicólogo junto á área de
oncologia consiste em identificar fatores psicológicos e sociais, no
aparecimento, desenvolvimento, tratamento e reabilitação do paciente com câncer
e sistematizar um corpo de conhecimentos que possa permitir a assistência
integral do paciente com câncer e sua família, bem como a formação de
profissionais de saúde especializados com o seu tratamento, assim, colocando em
prática os objetivos da Psico-oncologia.4
O
câncer como ponto de mutação
Um dos pioneiros da Psico-oncologia
chama-se Lawrence Leshan. Ele descobre que a história
da vida emocional das pessoas desempenha importante papel na tendência ao
aparecimento do câncer. Diz que o câncer é a doença da não expressão.
A proposta de Leshan
(1992)16 presa pela individualidade, afirmando que as pessoas têm
necessidades diferenciadas e portanto requerem tratamento personalizado, sendo
que cada pessoa é única e só pode ser compreendida no contexto de sua herança
genética e experiências de vida particulares e na forma como interagiram.
Leshan (1992)16 trabalhando com a abordagem humanista da
psicologia, busca enfatizar o que o paciente tem de melhor, em vez de trabalhar
apenas sobre suas dificuldades. Fala em métodos para causar transformações
psicológicas, associadas a tratamentos médicos, para mobilizar um sistema imunológico
comprometido para cura. Mobilizar os poderes individuais de auto-cura e
colocá-los em ação na busca pela saúde.
Em seu trabalho, conduz a pessoa a
despertar em si motivação para alcançar seu ponto de mutação, "descobrir
ou re-descobrir a sua canção interior”. Ressalta a importância de que a família
rapidamente se torne uma força positiva para o crescimento do paciente16.
Pressupõe que raramente as pessoas intimamente envolvidas com câncer –
pacientes, famílias, profissionais – possuem informações a respeito de
uma área crucial: a mobilização da capacidade de auto-cura do paciente, para
que ela possa colaborar com o tratamento médico. Sua preocupação foi conduzir
pessoas a encontrar novas e eficientes maneiras de lutarem por suas vidas16.
Diagnóstico
e tratamento
De acordo com Souza (2003)17 a
simples menção da palavra câncer, já provoca impacto acompanhado de
significações metafóricas, refletindo a idéia de algo que consome silenciosa e
implacavelmente.
A atuação da Psico-oncologia se dá então,
desde a prevenção até quando não há mais possibilidades de redução do tumor ou
cura, com uma especialidade que recebe o nome de cuidados paliativos.
Normalmente o diagnóstico se inicia pela
retirada do tecido doente, através de procedimento cirúrgico e é realizado o
exame conhecido por biópsia ou punção. Segundo Souza (2003)17,
receber o diagnóstico de câncer, representa uma ameaça que engloba integridade
física, perda de objetos de relacionamento, necessidades sexuais e afetivas,
quebra na execução de projeto de vida, sonhos e possíveis realizações.
Oito
preocupações são constantes na vida de pacientes que vivenciam doenças crônicas
que ilustram claramente os maiores problemas trazidos também pelas mulheres com
câncer de mama: 1) perda do controle sobre a vida; 2) mudanças na autoimagem; 3) medo da dependência; 4) estigmas; 5) medo do
abandono; 6) raiva; 7) isolamento e 8) morte. O medo da progressão da doença e
da recidiva são outras preocupações constantes18.
Os tratamentos de câncer mais comuns são:
cirurgia (retirada do tumor), quimioterapia (tratamento sistêmico através de
substâncias químicas para células e tumores – QT), radioterapia
(tratamento local através de partículas radioativas – RT), hormonoterapia
(utilizada para casos de tumores originados dos hormônios) e Grupo de Apoio
Psicológico aos pacientes, amparado teoricamente pela Psico-oncologia. O
tratamento não é objetivo da Psico-oncologia, mas tem uma monitoração, quando
as pessoas fogem do tratamento19.
Segundo Kurita e
Pimenta (2004)20, o comportamento de adesão ao tratamento é
multifatorial, complexo e difícil de ser avaliado. Relaciona-se às
características da doença, do tratamento, dos profissionais envolvidos e do
perfil psicocultural dos doentes. A não adesão pode resultar em progressão da
doença, piora da qualidade de vida, ônus econômico ao indivíduo, ao serviço de
saúde e à sociedade.
Kurita
e Pimenta (2004)20 concluem em sua pesquisa, que os índices de
adesão parcial e não adesão ao tratamento medicamentoso foram altos e que o
índice de acerto de ingestão medicamentosa foi baixo. A adesão ao tratamento
foi insuficiente e não variou ao longo de seis meses. Supunha-se que a adesão
seria mais elevada no início e diminuiria com o tempo, o que não ocorreu. Os
índices de não adesão e de acerto de ingestão medicamentosa observados
descrevem valores entre 30% e 70% de não adesão ou adesão parcial. Tais dados
são preocupantes e indicam a necessidade de intervenções que melhorem a adesão.
De acordo com Kurita
e Pimenta (2004)20, a intensidade da dor diminuiu ao longo do
tratamento e essa diferença foi estatisticamente significativa (8,3 na primeira
avaliação e 6,5 a menor média). Apesar de estatisticamente diferente, é
possível que a expressão clínica dessa diferença seja modesta, isto é, a dor
pouco aliviou, e isto contribuiu para a manutenção dos altos índices de não
adesão e adesão parcial.
Segundo Dela Coleta (1987)21,
quem acredita que os resultados ao menos em parte, são dependentes das ações
tomadas, é considerado internamente orientado. Aquele que tem orientação
externa geralmente não acredita ou crê pouco na relação entre resultado e ação
individual. Um modelo que propõe ser a crença do indivíduo (motivação interna e
externa) que determina a ação a ser tomada, é denominado lócus de controle.
Conforme descrevem Kurita
e Pimenta (2004)20, indivíduos com estado de saúde precário podem
viver situações de impotência causadas por diversos fatores, que incluem
mudanças relacionadas à doença até a interação com a equipe de saúde. O lócus
de controle influencia o comportamento do doente diante do problema de saúde,
direcionando a percepção do indivíduo para fatores dependentes de si ou de
forças externas. Conhecer a orientação do lócus de controle do doente é
importante para que se antecipem as mudanças que ele necessitará fazer tendo em
vista o melhor manejo do tratamento.
Entretanto, Kurita
e Pimenta (2004)20, descrevem que é importante ter em mente a falta
de sustentação empírica do lócus de controle da saúde. Há controvérsias sobre a
orientação desejável e a falta de dados sobre diversos fatores como o
comportamento prévio, o suporte social, a motivação, a percepção dos custos, os
benefícios das ações e as atitudes em relação aos profissionais de saúde, entre
outros, que compõem o estilo de lócus de controle.
Os estudos de Kurita
e Pimenta (2004)20, demonstraram doentes com tendência a crer que o
cuidado à saúde depende mais de outros do que de si próprio. Segundo as
autoras, tais resultados mostram a importância das crenças no manejo do
tratamento da dor crônica e que intervenções específicas, visando incrementar a
adesão, devem ser testadas.
Segundo Souza (2003)17, para se
conseguir aderência e confiabilidade no tratamento, e diminuir o estresse
causado pelo conhecimento do diagnóstico, é fundamental que o profissional
esteja preparado para passar as informações.
Geralmente os procedimentos são
apresentados aos pacientes, mas devido á linguagem utilizada eles não podem
compreendê-los. Em tempos atrás, o diagnóstico não era informado ao paciente e
a equipe médica acreditava que devido às ansiedades que esse diagnóstico
causava, era melhor manter o paciente na ignorância. Porém, percebe-se que o
paciente, a partir de suas observações apuradas de comportamentos e falas da
equipe médica e algum conhecimento do seu próprio corpo, acaba fechando um
diagnóstico por si mesmo, gerando angústias, medo e causando incertezas17.
Segundo Souza (2003)17, esse
momento, ao receber o diagnóstico de câncer, é vivido com certa ansiedade e
depressão e as reações dependem muito do contato com a equipe
multiprofissional.
A relevância do esclarecimento por parte
dos profissionais envolvidos está em proporcionar ao paciente tranquilidade para reagir com menor ansiedade e encontrar
um alívio existencial importante. Essa condição de disponibilidade para ouvir
as dúvidas que surgem, proporcionam um relacionamento marcado pela
reciprocidade e participação17.
O cuidar
emerge de um processo de interação entre o paciente, a família e o profissional
que necessita colocar-se no lugar do
outro para identificar suas reais necessidades22-24. Para
o médico, o cuidar é visto ora como gratificante, ora como frustrante25.
De acordo com a evolução de cada paciente, acontece o envolvimento
emocional, conflitos entre vida pessoal e profissional e a dificuldade em lidar
com a dor, sofrimento e sentimentos de impotência.
Já o
envolvimento emocional do enfermeiro com o paciente e seus familiares se
estabelece principalmente por causa da agressividade e longevidade do
tratamento.
Nesse
sentido, ressalta-se a importância do preparo psicológico da enfermagem,
entendendo que a conscientização acerca dos aspectos emocionais envolvidos na
atuação cotidiana da equipe facilita e aprimora o cuidado, onde a técnica seja
mais um instrumento para o cuidar e não seu foco principal23.
Psicologia
Hospitalar
Profissionais da área de saúde podem se especializar na Psico-oncologia. No Brasil, ela está inserida na Psicologia Hospitalar. Porém, a especialidade da Psicologia no Brasil, denominada Hospitalar é inexistente em outros países26. Entram na questão a saber se a Psicologia da Saúde corresponde ao mesmo que Psicologia Hospitalar e chegam ao consenso de que esse dois conceitos não são equivalentes, pelo próprio significado de tais termos - saúde e hospital.
A prevenção na área da saúde, é abordada em três etapas:
1) prevenção primária: que é relativa à promoção e educação para saúde quando não existem problemas de saúde instalados;
2) prevenção secundária: que é quando já existe uma demanda e o profissional atua prevenindo seus possíveis efeitos adversos;
3) prevenção terciária: que é relativa ao trabalho com pessoas com problemas de saúde instalados, atuando para minimizar seu sofrimento;
A Psicologia da Saúde tem como objetivo compreender como os fatores biológicos, comportamentais e sociais influenciam na saúde e na doença, abrangendo a prevenção primária, a prevenção secundária, e a prevenção terciária. Já o psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar, tem sua função centrada nos âmbitos de prevenção secundária e prevenção terciária de atenção à saúde, atuando em instituição de saúde26.
Pode ser inadequado falar em Psicologia da Saúde e Psicologia Hospitalar como sinônimos, pois intervenções em saúde, a serem realizadas fora do hospital, podem não ser supridas, principalmente aquelas relativas à prevenção primária26.
No decorrer de suas pesquisas, Castro e Bornholdt (2004)26, discutem sobre as possibilidades de termos a Psicologia Hospitalar inserida na Psicologia da Saúde, intervindo em diferentes contextos do âmbito sanitário.
Segundo Reis (2007)27, a Psicologia da Saúde e a Psicologia Hospitalar são dois campos distintos, porém entrelaçados. A Psicologia da Saúde busca uma visão macro da Saúde, com questões relacionadas à saúde pública, epidemiologia e política. A Psicologia Hospitalar enfatiza a atuação do Psicólogo dentro do hospital.
Notando a vulnerabilidade da instituição hospitalar
diante da ação e mitificação da doença e as polêmicas e divergências entre os
profissionais envolvidos na temática, Meleti (1984)28 coloca a refletir sobre o
sistema de saúde oncológica e a busca de um tratamento que esteja de acordo com
a realidade de cada paciente, atentando para o fato de que cada pessoa é única
e tem suas necessidades diferenciadas.
De acordo com Costa Júnior (2001)4, para que a psicologia
possa auxiliar os pacientes em tratamento de câncer, é importante que os
hospitais e as equipes de saúde considerem a influência de alguns fatores, tais
como, a necessidade de substituição de modelos médicos tradicionais por abordagens
que priorizem a atenção global ao paciente e seus familiares, utilizando-se
equipes interdisciplinares de saúde; o reconhecimento da relevância da adesão
do paciente ao tratamento prescrito como fator que contribui para um bom
prognóstico clínico; além do reconhecimento de que a causa e o tratamento do
câncer estão associados a fatores de natureza psicossocial, indicando a
necessidade do desenvolvimento de estratégias eficientes que possam humanizar o
tratamento e assegurar a participação ativa do paciente nas diversas fases do
tratamento.
A compreensão da influência destes fatores contribui
para delimitar a intervenção profissional dentro do campo da oncologia, bem
como, há também a necessidade da compreensão mais precisa dos relacionamentos
estabelecidos entre o paciente de câncer e os cuidadores4.
Segundo
Campos (1998)29, cada dia mais a necessidade da multidisciplinaridade da
equipe de cuidadores se torna evidente. Está comprovada a diminuição do
estresse da equipe, se as decisões são tomadas em conjunto, e não isoladamente
como sempre foi feito. Os médicos sentem-se mais apoiados ao dividir com outros
profissionais da equipe de saúde as dúvidas e mesmo outros estados emocionais
que possam ocorrer29.
Entre os tipos de respostas a estressores
emocionais e interpessoais crônicos no trabalho se encontra o que foi
denominado de Síndrome de Burn-out –
ou Síndrome de Esgotamento Profissional, colocada como incapacidade de resolver
os problemas alheios, sendo que tal síndrome é prevalente entre trabalhadores
na área da saúde4.
Venâncio
(2004)30,
relata que atualmente, percebe-se uma maior inserção do psicólogo na área da
Saúde, porém, muitas conquistas ainda podem ser feitas buscando uma maior
integração entre os diversos profissionais da área de saúde, visando a criação
de um espaço próprio para a atuação do psicólogo. A autora acredita que é
importante maior congregação entre os psicólogos hospitalares atuantes na área
oncológica, ampliando os espaços de trocas e de produção científica, e ainda a
valorização dos cursos de especialização nessa área para a formação de
profissionais capacitados para a realização de um bom trabalho. Segundo a
autora, a divulgação da relevância do trabalho do psicólogo no âmbito da
oncologia, pode criar uma demanda e reconhecimento para esse profissional.
Orientação
Profissional
Nos anos 80, Maria Margarida M. J. de Carvalho
introduziu no Brasil, o Programa Simonton, baseado
nos aportes da Psicoterapia Breve10.
Esse programa se refere a um método psicoterapêutico
de tratamento do câncer que inclui técnicas de relaxamento e visualização. Esse
método defende que toda mudança no estado emocional, consciente ou
inconsciente, é acompanhada de uma mudança apropriada no estado fisiológico31.
Maria Margarida M. J. de Carvalho criou uma metodologia
de Orientação Profissional e inovou na área da Psico-oncologia. Ao lado da
Psicóloga Maura Camargo Mastrobuono e outros
profissionais da saúde, Carvalho funda em 1984, o Centro Alfa (Apoio e
Autoconhecimento dos Processos de Câncer) com a finalidade de oferecer esse
programa aos pacientes de Câncer, suas famílias e profissionais da saúde que os
assistem. Em 1987, o corpo técnico do Centro Alfa se juntou ao CORA - Centro
Oncológico de Recuperação e Apoio, um centro de autoajuda
coordenado por pacientes e ex-pacientes de Câncer (iniciado em 1986 por um
grupo liderado por Edith Elek e Egydio
Bianchi), e aprofunda então, o conhecimento do Programa Simonton32.
Em 1992 um grupo de profissionais da área de saúde,
ligados à Psico-oncologia, que trabalhava em hospitais, grupos de apoio,
serviços públicos ou consultórios, promoveu reuniões em São Paulo, com a
finalidade de organizar um Congresso de Psico-oncologia. Inicia, com a
participação de Maria Margarida M. J. de Carvalho, no Instituto Sedes Sapientiae, o primeiro curso de Psico-oncologia realizado
em nível universitário, formando no conjunto uma visão do que é e como se faz
Psico-oncologia.
Foi realizado em São Paulo o I Congresso Brasileiro de
Psico-oncologia, com a meta de divulgar a Psico-oncologia. Meta essa, que foi
atingida em boa proporção. Mas a sua maior relevância foi o estímulo para
criação de serviços de atendimento ao paciente oncológico, inspirados aos que
foram apresentados e o desenvolvimento de um campo de conhecimentos e
atividades. Grupos em Salvador, Recife, Fortaleza, Goiás e Guarulhos são
exemplos da proliferação10.
Segundo
Venâncio (2004)30, na literatura internacional observa-se que, grande parte
das pesquisas utilizam a abordagem cognitivo-comportamental para as
intervenções com os pacientes de câncer. Já no Brasil as "terapias
expressivas" são as mais usadas. Essas terapias buscam a compreensão do
significado simbólico da doença e dos conflitos emocionais inconscientes
ligados ao adoecimento, não dando muita ênfase na mobilização dos recursos
cognitivos para se adequar melhor à situação.
Na abordagem Simonton
trabalha para ajudar os pacientes oncológicos à acreditar que podem influenciar
o seu estado de saúde e que a mente, o corpo e as emoções podem ser
colaboradores trabalhando em conjunto para criar saúde31.
O método Simonton preconiza
que o surgimento do câncer ocorre em virtude de múltiplos fatores e
principalmente de problemas agravados por uma série de situações de estresse
surgidos de 6 a 18 meses antes do aparecimento da doença. A equipe
multidisciplinar deve levar em conta não somente os aspectos orgânicos e
físicos, mas também o que está ocorrendo no restante da vida do paciente. Nessa
abordagem não se nega a possibilidade da morte. Ao contrário, se trabalha muito
com os pacientes para ajudá-los aceitar a idéia da morte como algo possível31.
Os profissionais que atuam na
Psico-oncologia são seguidores de várias linhas teóricas – Psicanálise,
Análise Gestáltica, Cognitiva Comportamental, Psicodrama – sendo o ponto
de união desta área o paciente de câncer. Suas dificuldades, necessidades,
problemas precisam ser atendidos, seja facilitando um melhor enfrentamento da
doença e permitindo uma convivência melhor com ela, seja melhorando o estado
psicológico e esse levando a um melhor estado geral orgânico, auxiliando na
recuperação e na cura, se possível11.
Dentro
desse movimento de humanizar e de ampliar a assistência para além dos limites
técnicos, os estudos da área psicológica enfocam estratégias de atuação do
psicólogo com a descrição de programas de intervenção que objetivam a
apropriação e elaboração das situações desencadeadas pelo câncer na vida do
paciente e de sua família33.
Psico-oncologia:
treinamento teórico-prático em Guarulhos
O trabalho de arregimentação junto aos
alunos de Psicologia, iniciou-se em 1994, quando o Projeto de Ação
Docente-Discente em Atendimento à Comunidade (PADDAC) é solicitado a atuar
junto ao Posto de Assistência Médica de Guarulhos (PAM), oferecendo ajuda
psicológica aos pacientes de câncer de mama. Esse trabalho é filiado à
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICO-ONCOLOGIA29.
Em 1997,
os grupos se transferem do PAM para as dependências da Universidade Guarulhos.
Atualmente o Grupo de Apoio ainda funciona na Universidade, novos alunos são
voluntários, e a equipe continua sendo multidisciplinar unindo profissionais de
saúde do PAM e voluntários da Universidade.
Segundo
Pires (2003)34, a Universidade Guarulhos e o PADAAC estiveram
representados no 4º Congresso Mundial de Psico-oncologia, realizado em Hamburgo,
na Alemanha, em setembro de 1998, através do programa de apoio à mulheres
mastectomizadas, o qual foi apresentado como tema livre, pela Professora Dra.
Elisa M. Parayba Campos.
O treinamento teve início com uma equipe
multidisciplinar vivenciando e experimentando aquilo que posteriormente seria
oferecido às pacientes. Atualmente esse treinamento é oferecido aos alunos a
partir do quarto semestre do curso de Psicologia, da Universidade Guarulhos,
ministrado pela psicóloga Eliana Ferrante Pires, e ao
ser finalizado o treinamento, alguns dos participantes, são convidados a
ingressarem aos Grupos de Apoio.
O programa ficou denominado como: “A
atuação do estudante de Psicologia frente a Grupos de Apoio Psicológico para
pacientes oncológicos: uma abordagem psicossocial”, devido a grande demanda de
pacientes portadores de diversos tipos de câncer, além das mulheres
mastectomizadas34.
O
trabalho conta com a participação dos cursos de Nutrição e Fisioterapia,
oferecendo toda a orientação nutricional preventiva e assistência fisioterápica
para casos com indicação médica34.
Esse treinamento é oferecido em dois
módulos, sendo o primeiro teórico, onde são estudadas as principais
prerrogativas da Psico-oncologia no Brasil, bem como seu campo de atuação. O
segundo módulo se refere ao treinamento propriamente dito, em que o aluno
adquire a prática em lidar com Grupos de Apoio psicológico aos pacientes de
câncer. O atendimento se compõe de breves exercícios de relaxamento e
visualização, que fazem parte do método Simonton31. Esse modelo
preconiza a identificação, o levantamento e a avaliação das crenças, tanto dos
processos que levam uma pessoa a adoecer, quanto auxilia na elaboração de
procedimentos, comportamentos, atitudes e sentimentos que possam contribuir em
direção à cura34.
As etapas do treinamento correspondem às
mesmas que os pacientes irão vivenciar, exceto com algumas modificações
necessárias de acordo com as necessidades de cada grupo. Segundo Pires (2003)34,
os procedimentos empregados seguem as seguintes etapas: 1) dar e receber
diagnóstico (troca de papéis – médico x paciente); 2) a entrevista do
psicólogo com o paciente de câncer; 3) ingresso no grupo (apresentação dos
componentes - paciente e equipe - e estabelecimento do contato); 4) aspectos
médicos e emocionais presentes nos casos de aparecimento de câncer; 5)
exercício de relaxamento e visualização (adaptação do programa Simonton (1987)31 para o Brasil); 6) exercício
de visualização do sistema imunológico; 7) a
química dos sentimentos - aula de visualização sobre ressentimentos
antigos; 8) projeto de vida:
visualização de metas; 9) encontro com o
guia interno; 10) “vivência da morte”34.
As técnicas utilizadas são: dinâmica de
grupo; dramatizações; role playing;
material de expressão (papel, lápis, etc.) e visualização.
O programa possui dois grandes objetivos, sendo que o
primeiro deles se refere ao trabalho em grupo de apoio psicológico ao paciente
portador de câncer, e o segundo ao treinamento prático para o futuro psicólogo
que deseja trabalhar com este paciente34.
Segundo Pires (2003)34 o
treinamento teórico-prático em Psico-oncologia objetiva: 1) divulgar as
possibilidades de atuação do psicólogo e demais profissionais de saúde junto
aos pacientes de câncer e seus familiares; 2) preparar a equipe para realizar grupos de apoio psicológicos
e reabilitação de pacientes mastectomizadas; 3) atendimento de um grupo piloto
e diversificar os atendimentos e os tipos de grupo implantando diversos
programas de caráter psicossocial tais como: programas de prevenção, programas
de reeducação (mudanças de hábitos), grupo pré-operatório e grupo de informação
a familiares de pacientes de câncer.
Esse
empreendimento exige cautela e certa dose de ousadia, por abranger dúvidas em
torno dos limites para trabalhar, sem nos tornarmos invasivos e ao mesmo tempo,
sendo continentes ao sofrimento deles, e na busca da tarefa e preparação do
psicólogo nesse universo34.
São
realizados cerca de dois grupos anualmente com novos pacientes, funcionando um
a cada semestre, com uma média de participação de quinze pacientes por grupo. A
duração de cada grupo é de doze a quinze semanas, no qual, ao encerramento do
grupo, alguns pacientes também são convidados a continuar participando desse
trabalho. Nos casos dos pacientes impossibilitados de se locomover, esses são
atendidos em trabalho domiciliar por miniequipes
compostas de dois ou três alunos, sendo o atendimento supervisionado pela
equipe34.
Os
pacientes são triados através de entrevistas, realizadas pelos alunos, e
posteriormente supervisionadas por toda a equipe. Nessa entrevista
supervisionada, a equipe avalia se o paciente encontra-se em condições de frequentar o grupo, não sendo portador de desorganização
psíquica, que possa comprometer o seu comportamento e consequentemente,
o andamento e funcionamento do grupo como um todo. Nos casos de pacientes que
não possam participar do trabalho em grupo, são encaminhados para atendimento
psicoterápico individual na clínica psicológica da Universidade Guarulhos ou
para outra instituição que esteja preparada para receber esses pacientes34.
Pires
(2003)34
relata alguns resultados da participação dos pacientes de câncer nos Grupos de
Apoio:
1) altera a
concepção que este tem sobre o câncer (o desconhecimento);
2) a
participação no grupo faz crescer a esperança e diminui a desesperança (fazer
uso da quimioterapia com esperança e levar à reflexão de que bom que existe o medicamento);
3) tenta-se
mudar o sentimento, ao tomar o medicamento, ao se submeter ao tratamento
(receber o tratamento como algo bom);
4) o grupo
busca contribuir em tirar a pessoa do estado passivo, para que o paciente
também faça sua parte;
Mello
(2000)35,
salienta que reunir pacientes com a mesma patologia num grupo, permite ao
paciente melhor percepção de seus problemas, vendo esses nos outros, aprendendo
a tolerar o que repudiam em si e melhorando assim a resolução da doença.
Compartilhar informações, universalidade de conflitos, altruísmo, comportamento
identificativo, aprendizagem interpessoal, coesão grupal e cartase, são algumas
características, citadas pelo autor, que contribuem para eficácia dos grupos
psicoterápicos.
Segundo
Mello (2000)35 para aumentar a eficácia dos grupos, eles devem ter metas,
estrutura e métodos de intervenção feitos sob medida para suas características
específicas.
Os grupos
de autoajuda inserem-se na modalidade classificada
por Zimerman (1997), como grupos operativos terapêuticos, os quais têm como objetivo a
melhora de alguma situação patológica, quer orgânica, quer psíquica.
Para Zimerman (1997)36 os grupos de autoajuda
são compostos por pessoas portadoras de uma mesma categoria de prejuízos e de
necessidades e que, de uma forma geral, podem ser enquadradas nos seguintes
tipos: adictos, obesos, mutilados, estigmatizados, etc.
De acordo
com Mello (2000)35, as interpretações dirigidas a aspectos
inconscientes são contraindicadas nos grupos de
pacientes somáticos, pois o paciente já se encontra sobrecarregado com a
doença, frágil, com a autoestima baixa, propenso a
depressões e a atitudes autoagressivas. No entanto,
reforça que é mais indicado utilizar interpretações prévias como: clarificação,
assinalamento e confrontação, estando sempre atento ao que o paciente possa
tolerar.
Campos
(1998)29 relata que existem vários depoimentos de pacientes que
passaram pelo Grupo de Apoio, mas um dos mais significativos foi o de uma
paciente que, ao final de um grupo, abriu a bolsa e tirou o revólver,
entregando-o à equipe, dizendo que não precisava mais dele, pois decidira-se
pela vida. Contou então que já havia entregue os filhos a uma vizinha para que
esta os criasse, quando soube do Grupo do PAM. Ela veio para o grupo descrente
de que alguém pudesse querer ajudá-la sem exigir pagamento. Relatou que
reconquistara a confiança na vida e a esperança de curar-se.
DISCUSSÃO
A hipótese de que os profissionais da área
de oncologia necessitam de
treinamento e orientação técnica, para lidar com o cotidiano de cuidar, é um
tema que despende reflexão de vários autores.
No
percurso da presente pesquisa, constatou-se através da literatura a existência
de trabalhos desenvolvidos por psicólogos que se preocupam em oferecer apoio
psicossocial aos pacientes de câncer e seus familiares, e ainda aos
profissionais da área da saúde.
Carvalho et al. (1998)10, oferecem modelos da prática da
Psico-oncologia com grupos de pacientes e de profissionais da área de
oncologia, realizados em vários estados brasileiros, com a proposta de que a
divulgação desses trabalhos continue servindo de exemplos para a proliferação
em muitas outras cidades.
Sua obra
faz um rastreamento e compilação de todos os serviços e atendimentos em
Psico-oncologia existentes no Brasil, até 1998. Enfoca o desenvolvimento de
serviços e apoio ao paciente de câncer, por grupos particulares e em hospitais;
o desenvolvimento de pesquisas e o desenvolvimento de cursos de
Psico-oncologia.
Segundo
Carvalho et al. (1998)10, a criação de
serviços de atendimento ao paciente oncológico, inspirados aos que foram
apresentados em São Paulo – no I Congresso Brasileiro de Psico-oncologia
– foi o estímulo e o desenvolvimento de um campo de conhecimentos e
atividades.
Carvalho, Tonani e Barbosa
(2005)9, na qualidade de educadores na área de oncologia, com subvenção do United States National Cancer Institute,
participaram de um programa de treinamento sobre prevenção e controle do
câncer, no qual detectam a existência da incongruência existente na formação
acadêmica com a situação atual do país, alertando que há uma cultura,
favorecida por determinantes políticos e econômicos de se investir mais no combate
à doença do que na prevenção, além de contrastes econômicos que determinam
diferentes possibilidades de assistência à população. E ainda a existência de
um pequeno número de profissionais especializados, tanto para o ensino como
para a assistência.
Todavia, afirmam que esta situação de quase permanente
crise não é justificativa para a não existência de um projeto abrangente de
organização de serviços em oncologia, compatível com as realidades regionais9.
É
importante levar em consideração, quais as condições em que o profissional
atende o paciente. Comparando por exemplo, qual é a pressão que o médico em
atendimento particular está submetido, versus a pressão que o médico em
atendimento público se submete. Qualquer pessoa que trabalha numa situação de
estresse, tende a não desenvolver bem o seu trabalho, principalmente o médico.
Porém, se não há possibilidades de diminuir a pressão, devido a problemas
políticos, econômicos e sociais, então é preciso treinar, ou preparar o
profissional da saúde para colaborar e trabalhar neste contexto.
A
abordagem de Carvalho et al. (1998)10,
serve como exemplo para organização de projetos abrangentes de serviços em
oncologia. A autora mostra a relevância ao organizar grupos de estudos e
treinamentos, no qual os profissionais da saúde tenham possibilidades para
expor suas experiências e dificuldades, tirar as dúvidas e encontrar motivação
para enfrentar as barreiras no seu trabalho, criando recursos, tal como é a
proposta desse trabalho. E ainda, mostra o caminho para encontrar novas formas
de apoio ao paciente oncológico, que poderá ajudar no controle e cura da
doença.
Uma das
funções dos Grupos de Apoio é fornecer amparo, desmistificar o preconceito que
envolve o câncer e diminuir o nível de ansiedade frente à doença, tanto da
equipe quanto dos pacientes. De acordo com Pires (2003)34, alguns
resultados alcançados através da participação de pacientes de câncer nos Grupos
de Apoio psicológico são: desmistificação do preconceito que envolve o câncer;
menor nível de ansiedade frente à doença, tanto da equipe, quanto dos
pacientes; maior qualidade de enfrentamento; melhora nas relações
médico-paciente; maior confiança no tratamento, com menor nível de resistência;
maior qualidade das relações afetivas do paciente frente à família; maior
adesão à programas sobre qualidade de vida (mudanças de hábitos com relação à
alimentação, sono, atividade física, lazer, etc.); diminuição dos níveis de
estresse (interno e externo); mudança na qualidade dos sentimentos expressados
e emergência de sentimentos de maior altruísmo frente a outros pacientes, à
equipe multidisciplinar como também à família e consequentemente
maior respeito e gratidão frente a si mesmo e a própria vida.
Carvalho
(1996)37, constata que o resultado adicional da intervenção
psicológica no aumento da sobrevida do paciente também está associado tanto aos
hábitos mais saudáveis, que o mesmo incorpora em sua vida, como a sua adesão
aos tratamentos. Isso ocorre porque a intervenção psicológica afetará
positivamente o estado emocional do paciente motivando-o a adotar esses comportamentos37.
Ao longo
dessa pesquisa, verificou-se também, através dos autores pesquisados, a
interferência das perturbações emocionais no funcionamento do sistema
imunológico, desencadeando um dos fatores das causas de câncer. Sendo este o
momento em que a Psicologia começa a exercer um papel importante tanto na
prevenção quanto no tratamento da doença.
Carvalho
(1996)37, Costa Júnior (2001)4, Leshan
(1992)16 e Simonton et
al. (1987)31, entre outros, mencionam que as perturbações emocionais
prejudicam o bom funcionamento do sistema imunológico causando alterações
bioquímicas, constituindo assim um dos fatores responsáveis pela origem e
desenvolvimento formações tumorais.
Dessa
forma, o paciente não estando bem emocionalmente, estará cada vez mais
vulnerável para adoecer.
A partir
do levantamento da literatura especializada, obteve-se a percepção da
importância de que um indivíduo fique de bem consigo mesmo, para não desistir
da vida que existe dentro de si. Conforme menciona Leshan
(1992)16 é importante que o indivíduo possa "descobrir ou re-descobrir
a sua canção interior”.
Uma
questão que importa refletir sobre o termo prevenção e a necessidade de sua
prática, é a pertinência de trilhar através do caminho das precauções, se
fortalecendo contra as doenças desagradáveis que possam se apresentar em nossas
vidas. Cuidar sempre do corpo e da mente, na busca do autoconhecimento, é um
bom começo ao se trabalhar com a prevenção do câncer. Uma pessoa desmotivada frente
a sua vida, tem o seu sistema imunológico com tendência a ficar enfraquecido e
pode adquirir problemas de saúde. Nosso sistema imunológico luta para nos
defender daquilo que pode atrapalhar o bom funcionamento do nosso organismo.
Em
concordância com a opinião de Leshan (1992)16,
quando a pessoa não tem motivo para viver, "se não encontra a sua canção
interior", o seu sistema imunológico tem tendência a um mau funcionamento.
A doença
é um estado do ser humano que indica que, sua consciência registra que não há
harmonia interior. A perda do equilíbrio interior se manifesta no corpo como um
sintoma, interrompe o fluxo da vida, exigindo a atenção nas rotinas cotidianas,
como hábitos alimentares, vícios, estresses, etc.
Quando se
busca qualidade de vida, parece que o organismo se equilibra e tudo se
sincroniza, funcionando em perfeita harmonia, como uma máquina nova e
calibrada. A prática do psicólogo, portanto, se justifica, junto à oncologia,
visando ajudar o paciente com câncer a buscar uma melhor qualidade de vida.
Dessa
forma, acredita-se que nunca é tarde para recomeçar, ou para acordar para vida.
E mesmo após ser atingido pela doença, apesar de ser um caminho mais custoso e
complicado, é possível "re-descobrir a sua canção interior". Se a
mente está adormecida para vida, o
sistema imunológico fica enfraquecido. Assim que a mente desperta para vida o sistema imunológico volta à ação, com maior
dificuldade para vencer, mas se fortalecendo através da motivação para viver,
reagindo positivamente ao tratamento médico, com possibilidade de uma melhor
qualidade de vida16.
Vendo o
paciente e seus familiares, sob o impacto do diagnóstico de câncer e suas consequências, Leshan (1992)16
e Simonton et al. (1987)31,
propõem formas de apoio psicossocial e psicoterápico, que mostram a
possibilidade de auxílio no encontro de uma melhor forma de enfrentamento do
câncer e a obtenção de uma melhor qualidade de vida. Mostram ainda que através
de novas atitudes, comportamentos mais saudáveis, modificações de valores, em
conjunto com o tratamento médico, muitas pessoas mudaram o rumo de suas vidas e
chegaram a uma sobrevida maior e mesmo a casos de cura.
Em maior ou menor número, em diferentes
momentos do processo da enfermidade, os pacientes evidenciam a importância do
apoio psicológico. Acredita-se
que a abordagem teórico-técnica utilizada serve de
embasamento para o desenvolvimento do trabalho e não como determinante de sua
eficácia. Todos devem ter em comum os objetivos que deverão ser alcançados,
utilizando a abordagem com a qual o psicólogo melhor se identifique.
Para
Mello (2000)35, o psicólogo oncológico trabalha tanto na instituição
hospitalar quanto na própria clínica. O aporte teórico-técnico utilizado deve
ser articulado conforme o local onde se desenvolve o trabalho, diagnóstico do
paciente, o tipo de intervenção e o objetivo que pretende ser alcançado.
Carvalho
(2002)11, ressalta que a corrente dentro da Medicina que pensa o
câncer como uma enfermidade do corpo é ainda muito poderosa e atuante. Os
seguidores do modelo biomédico repudiam qualquer tentativa de encontrar interrelações psicossomáticas na origem e no processo de
câncer, e contestam essa posição com pesquisas detalhadas sobre mutações
genéticas e alterações moleculares.
A autora
salienta que esta divisão entre diferentes posições teóricas tem dificultado
uma visão unificada do homem e a integração de tratamentos.
Segundo
Silva et al. (2005)33, a Psico-oncologia
contempla a visão da humanização entendendo que para tal, faz-se necessária a
compreensão da interrelação de diversos fatores, tais
como: físicos, comportamentais, emocionais e psicológicos. Assim, a humanização
exige uma visão global do paciente requerendo que várias áreas atuem
conjuntamente, em busca do mesmo objetivo, que é o cuidar. Esses estudos levam
a reflexão de que uma participação ativa e positiva pode influenciar a doença,
o resultado do tratamento e a qualidade de vida da pessoa.
Além disso, na tentativa de obter respostas
para questionamentos, como os colocados por Kovács
(1998)2,
o mais importante para um sujeito é uma vida com melhor qualidade, embora mais
curta ou uma vida longa com sofrimento e limitações? Esse estudo, alerta para o
ideal de conscientizar as pessoas a buscar uma vida com melhor qualidade, para
reduzir os riscos de ser acometido pela doença, e evitar que chegue ao extremo
de ter que sobreviver a custas de sofrimento e limitações, que às vezes, são
causados pelos tratamentos da doença.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
psicólogo na Psico-oncologia defende a proposta de auxílio na manutenção do bem
estar psicológico do paciente, identificando e compreendendo os fatores
emocionais que intervém na sua saúde, como por exemplo: sensação de falta de
controle sobre a própria existência, sentimento de impotência e fracasso, temor
da solidão, dos efeitos adversos do tratamento oncológico e da própria morte.
O
objetivo do psicólogo que atua na área de oncologia visa prevenir e reduzir os
sintomas causados pelo câncer e seus tratamentos, e levar o paciente a
compreender os aspectos simbólicos da doença e a experiência do adoecer,
possibilitando assim re-significações desse processo.
O reforço
dos vínculos afetivos entre família e paciente, é um fator que deve ser
estimulado pelo psicólogo e exercitado nos Grupos de Apoio, facilitando a
compartilhar experiências e emoções. Além disso, o conhecimento básico das
questões médicas referentes ao câncer, se faz necessário para que a atuação do
psicólogo junto à equipe e ao paciente se desenvolva satisfatoriamente.
Um
instrumento fundamental, a ser utilizado no tratamento de pacientes de câncer,
é adotar o procedimento de fornecer treinamento e orientação técnica para lidar
com o cotidiano de cuidar, aos profissionais envolvidos no tratamento.
Indubitavelmente estamos apenas descortinando alguns aspectos de um amplo
horizonte de estudos.
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