ASPECTOS DE PERSONALIDADE OBSERVADOS EM
UMA AMOSTRA DE INDIVÍDUOS USUÁRIOS DE DROGAS POR MEIO DO TESTE WARTEGG
ASPECTS OF PERSONALITY OBSERVED IN A SAMPLE OF INDIVIDUALS DRUG USERS
THROUGH THE WARTEGG TEST
PALAVRAS-CHAVE: Drogas. Avaliação Psicológica. Personalidade.
ABSTRACT: This work is aimed at
providing a description of the personality of individual drug users, based on Wartegg’s data. The
drug problem is growing progressively and studies to understand such a
phenomenon prove relevant and emergent. Twenty-six collaborators took part in
the survey, with thirteen users and thirteen non-users that submitted to a
projective personality test (Wartegg). The data with the highest incidence
revealed difficulties in personal adjustment and in the affective articulation
of the users; moreover, this data revealed aspects relating to the difficulty
in articulating anxiety and lack of energy for action. Other studies are
relevant for a better understanding of this phenomenon.
KEYWORDS: Drug. Psychological evaluation. Personality.
INTRODUÇÃO
Justifica-se a escolha do presente tema, adicção, por ele ser considerado
atualmente, um problema de saúde pública, especialmente nas sociedades
ocidentais. Esse problema acarreta altos custos para a sociedade e envolve
questões médicas, psicológicas, profissionais e familiares. A realização desta
pesquisa é relevante, pois se identificando as características de personalidade
dos adictos, o tratamento dos mesmos, com ou sem a participação familiar
torna-se mais eficiente e rápido.
Para tanto, participou da pesquisa um total de 26 sujeitos, distribuídos
em dois subgrupos. O primeiro subgrupo foi composto por 13 sujeitos de uma clínica
de recuperação que apresentaram sintomas de adicção, que foi chamado de grupo
de pacientes e o segundo, composto por 13 sujeitos com ausência do quadro de adicção,
que foi chamado de grupo de não pacientes. Levou-se em conta a idade na
efetivação da pesquisa. Os instrumentos utilizados foram: o QSG Questionário de
Saúde Geral de Goldberg, na população geral não clínica, e os testes projetivos
de Wartegg e HTP (casa, árvore e pessoa), cuja finalidade é investigar a
personalidade através dos desenhos obtidos. A pesquisa teve como objetivo
realizar um estudo comparativo visando diferenciar traços de personalidade de
sujeitos adictos daqueles que não apresentam comportamento de adicção, por meio
do teste Wartegg.
A palavra droga significa a designação geral de toda substância que se
emprega como ingrediente em tinturaria, química ou farmácia, entorpecente,
enquanto que se drogar é misturar droga(s), intoxicar-se com droga(s). Adicto
vem do latim Addictu, é um adjetivo
que significa: afeiçoado, dedicado, apegado, adjunto, adstrito, dependente,
sendo que metodologicamente significa escravo.
O teste Wartegg, conhecido como WZT, foi concebido por Ehrig Wartegg
(1987), que o apresentou no XV Congresso de Psicologia de Jena (Alemanha) em
1937. Baseou-se em um trabalho de Sander. Wartegg organizou o teste com uma
série de estímulos, separando-os dentro de oito quadrados ou campos. Trata-se
de uma técnica projetiva gráfica, que se propõe a investigar a personalidade
através de desenhos obtidos. A fundamentação teórica do teste tem como base a
teoria psicológica da Gestalt e a Análise Junguiana.
O teste QSG - Questionário de Saúde Geral de Goldberg, foi aplicado para avaliar se existe severidade de distúrbios psiquiátricos não psicóticos e servir como meio de identificação de casos potenciais destes distúrbios na população não clínica. Tal aplicação foi realizada para classificar uma amostra que representou a população típica sem tais distúrbios1.
Histórico dos instrumentos psicológicos
Hoje no Brasil, observa-se a existência de discussões no que tange à
elaboração de instrumentos psicológicos. Muitos estudos são desenvolvidos por
pesquisadores de diferentes regiões do país, alguns sobre o ensino e formação,
outros sobre o exercício profissional, novas tecnologias e teorias que embasam
a construção e validação de testes2.
É importante notar que também está em discussão a questão da qualidade
dos instrumentos pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), que alguns anos vêm
aprimorando o Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI), exigindo
que os mesmos tenham alguns requisitos, como por exemplo: fundamentação
teórica, evidências empíricas de validade e precisão das interpretações
propostas, um sistema de correção e interpretação dos escores, uma descrição
clara dos procedimentos de aplicação e correção e um manual contendo essas
informações. Os instrumentos comercializados passam por essa análise e, para
serem aprovados, precisam ter pelo menos os requisitos mínimos, aqui apontados.
O teste Wartegg, após análise do CFP, pode ser utilizado somente para
pesquisas, necessitando aumentar o número de pesquisas que atendam a população
brasileira para validação do mesmo2.
Conforme relatam Noronha et al.2, vários estudos têm dado destaque à qualidade dos
instrumentos de avaliação psicológica, pois tentam resgatar a sua legitimidade.
Outros estudos versam sobre temas distintos, tem-se como exemplo, o estudo
sobre as implicações relativas à revisão dos testes psicológicos e sobre a
complexidade teórica da revisão de alguns instrumentos, por exemplo, os
projetivos. Observaram por meio da pesquisa, que os testes psicológicos tratam
do comportamento humano, que é complexo, assim como a sua avaliação. O
instrumento de avaliação propõe tarefas específicas às pessoas, obtendo assim
uma resposta que a especificará, caracterizando-a psicologicamente. A associação
entre manifestação-traço latente, e a lógica dos instrumentos de avaliação,
precisam ser desafiadas pela aplicação de métodos científicos adequados. As
pesquisas acabam atestando a qualidade dos instrumentos e não evidenciam a sua
validade, fato que legitime as características psicológicas das pessoas.
Vale ressaltar a importância dos psicólogos terem uma formação
profissional adequada na área de avaliação psicológica, como conhecimento
básico de psicometria, para poder julgar e distinguir um instrumento de boa e
má qualidade. Enfatiza-se também a necessidade de educar os profissionais e os
estudantes no que se refere aos princípios de psicometria que sustentam os
instrumentos e sua respectiva importância2.
É importante notar que a validação de um teste é o conjunto de operações,
por meio das quais, se compara o instrumento apresentado, considerando os
seguintes valores: discriminação dos sujeitos testados (sensibilidade),
estabilidade da medida (fidedignidade) e pertinência ao objeto medido
(validade)3.
Teste de completamento de desenho de Wartegg
Como foi dito anteriormente, o teste Wartegg conhecido como WZT, foi
concebido por Ehrig Wartegg (1987), que o apresentou no XV Congresso de
Psicologia de Jena (Alemanha) em 1937. Baseou-se em um trabalho de Sander, onde
a tarefa consistia em integrar sinais sem significados, dando-lhes sentido.
Wartegg organizou o teste com uma série de estímulos, separando-os dentro de
oito quadrados ou campos. O teste foi utilizado para várias pesquisas e
validado por dois autores: Biedma e D'Alfonso e Kinget4. Este teste
trata-se de uma técnica projetiva gráfica, que se propõe a investigar a
personalidade através de desenhos.
Os autores destacam que a fundamentação teórica do teste tem como base a
teoria psicológica da Gestalt e a Análise Junguiana. Wartegg considerava que
seus sinais arquetípicos, apresentados nos elementos gráficos (oito quadrados
do teste), são universais, ou seja, sua significação psicológica é válida para
todas as pessoas. O teste explora as funções básicas da emoção, imaginação,
dinamismo, controle e realidade que são encontradas em diferentes intensidades
e interações em todas as pessoas. Ressalta ainda que para análise dos campos,
pode-se utilizar as seguintes abordagens: projetiva, que se refere ao estudo
dos conteúdos dos desenhos e a expressiva, que está relacionada com o modo de
execução dos desenhos4.
Cada campo tem os seus significados arquetípicos e as áreas avaliadas
são: campo 1: ego e suas defesas, o eu no mundo, a individualidade e a
subjetividade; campo 2: as fantasias, a sensibilidade, o grau de empatia e o
relacionamento com os outros; campo 3: o nível de ambição, as aspirações
pessoais e profissionais, a perseverança; campo 4: manejo dos sentimentos de
angústia, o relacionamento com os conteúdos inconscientes, a fantasia; campo 5:
a vontade, a força para transpor obstáculos e tolerar frustrações, a
agressividade e a impulsividade; campo 6: o potencial criativo, o senso de
improvisação, a valorização da esfera intelectual e do raciocínio; campo 7: as
características afetivas, emocionais, sensualidade e a sexualidade; campo 8: a
conduta social, o senso de moralidade, a empatia com o grupo social2.
O teste Wartegg também descreve duas atitudes presentes no sujeito:
atitude subjetiva, onde o sujeito se deixa levar pela intuição e por sua
experiência de vida; e atitude objetiva ou realista, onde o sujeito representa
objetos reais, cuidados e com as superfícies pouco preenchidas. Cada forma
desenhada dentro dos quadrados do teste, mobiliza um componente particular da
personalidade do indivíduo3.
As pesquisas encontradas sobre validade do teste Wartegg, foram as
seguintes: Souza5 que realizou estudo de validade do teste Wartegg
por meio de análise correlacional com 16PF e o BPR-5; na avaliação de desempenho
de uma amostra de 120 profissionais empregados. Berlinck6, realizou
uma pesquisa com o teste Wartegg em 200 universitários de São Paulo, com o
objetivo de estabelecer os critérios para a aplicação; a avaliação e a
interpretação do teste. Gullo7, realizou pesquisa com o teste
Wartegg na avaliação infantil em uma amostra de 60 crianças do ensino
fundamental, com o objetivo de conhecer o desempenho de crianças por meio do
teste.
Outras pesquisas apontam o teste Wartegg entre os mais utilizados,
principalmente em recrutamento e seleção de pessoal: Godoy & Noronha8;
Oliveira et al.9; Pereira et al.10.
Pode-se notar que, o teste Wartegg é bastante utilizado, pois ele permite
através da riqueza dos dados obtidos, evidenciar a personalidade de um indivíduo.
Berlinck6 destaca que a necessidade de realizar pesquisas com o
Wartegg é importante, visto que o uso é frequente, desse teste, em nosso meio,
acarretando falha na aplicação e interpretação por não haver um padrão
normativo confiável6.
O teste QSG - Questionário de Saúde Geral de Goldberg, foi aplicado para avaliar se existe severidade de possíveis distúrbios psiquiátricos de natureza não psicótica e servir como meio de identificação de casos potenciais desses distúrbios na população não clínica. Tal aplicação foi realizada para classificar uma amostra que representou a população típica sem tais distúrbios1.
O teste HTP (Casa-árvore-pessoa) é uma técnica projetiva utilizada para obter informações sobre as experiências do indivíduo com o ambiente, os outros e o lar. Tende a estimular a projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflito. O HTP para propósitos diagnósticos fornece informações que quando relacionados a outros instrumentos de avaliação, podem revelar conflitos de interesse gerais dos indivíduos, bem como aspectos específicos do ambiente que eles acharam problemáticos22.
Adicção - Origem,
Dependência, a Família e a Sociedade
A palavra droga significa a designação geral de toda substância que se
emprega como ingrediente em tinturaria, química ou farmácia, entorpecente,
enquanto que se drogar é misturar droga(s), intoxicar-se com droga(s). Adicto
vem do latim Addictu, é um adjetivo
que significa: afeiçoado, dedicado, apegado, adjunto, adstrito, dependente.
Metodologicamente significa escravo. Pode-se definir que adicto ou drogado, são
pessoas que se tornam escravos das drogas, não conseguindo abandonar esse
hábito nocivo, mormente de álcool e drogas psicoativas, por motivos
fisiológicos ou psicológicos. O adicto é cúmplice da sua conduta psicótica,
sendo ele mesmo o seu próprio inimigo e o mais perigoso11-13.
O consumo de álcool pelo ser humano remonta
aos registros arqueológicos de aproximadamente 6000 anos AC. Através deste
fato, pode-se observar que o álcool é um costume muito antigo e que persiste
até os dias atuais. Seu histórico mostra que era utilizado na mitologia como
uma substância divina. Com o passar dos séculos o conteúdo alcoólico era
relativamente baixo. A partir da Idade Média surgiram novos tipos de bebidas
alcoólicas por causa do processo de destilação. Pode-se citar como exemplo o
whisky, que foi considerado na época como um remédio para todas as doenças. A
partir da Revolução Industrial, o whisky contribuiu para o aumento do consumo
por pessoas que começaram apresentar o uso excessivo de álcool. Hoje o álcool é
uma bebida lícita e até incentivado pela sociedade. As grandes empresas
produtoras dessas bebidas investem muito mais nas propagandas para aumentar a
sua clientela14.
A adicção não ocorre apenas a nível cerebral, pois os contextos sociais
em que se desenvolve e se manifesta têm muita importância crítica. Um dos
elementos sociais envolvidos na adicção é a exposição a estímulos
condicionantes. Esses estímulos podem ser importantes fatores na vontade de
consumir drogas e até mesmo nas recaídas que acontecem depois de tratamentos
bem-sucedidos15.
O álcool também é considerado uma droga
psicoativa, age no Sistema Nervoso Central (SNC), provocando uma mudança no
comportamento e também pode levar a dependência. Tal dependência é conhecida
como alcoolismo e os fatores que levam à dependência, podem ser de origem
biológica, psicológica, sociocultural ou os três fatores podem contribuir. A
dependência do álcool é uma condição frequente que atinge cerca de 5 a 10% da
população adulta brasileira14.
O efeito do álcool
pode provocar diversos efeitos em apenas duas fases. Na fase estimulante,
aparece nos primeiros momentos após a ingestão da bebida, como por exemplo,
euforia, desinibição e maior facilidade para falar. Na fase depressora, aparece
à falta de coordenação motora, descontrole e sono. Quando o consumo é muito
exagerado pode chegar ao limite da fase depressora, que é o coma alcoólico. Com
o consumo de álcool também podem ocorrer o enrubescimento da face, dor de
cabeça e um mal estar geral. Esses efeitos podem ser mais intensos em algumas
pessoas cujo organismo tem dificuldade de metabolizar o álcool. As pessoas
dependentes de álcool podem desenvolver várias doenças, as mais frequentes são
as doenças do fígado, do aparelho digestivo e do sistema cardiovascular e
também a polineurite alcoólica (dor, formigamento e câimbras nos membros
inferiores)14.
Alguns dos motivos mais profundos que conduzem o indivíduo para o uso das
drogas encontram-se na marginalização que estes sofrem na sociedade e na
impossibilidade de suportar a responsabilidade social que lhes cabe assumir. O
indivíduo com a identidade adicta renuncia, à esperança de modificar o meio
social que o oprime, dissocia a interioridade da exterioridade, o subjetivo do
objetivo. O adicto privilegia o imobilismo histórico, a idéia de que só é
possível transformar a percepção da realidade e nunca a própria realidade12.
Ressalta-se que a dependência química é uma doença crônica, causada pelas
drogas psicoativas, devendo ser tratada como uma hipertensão ou diabetes, ou
seja, partindo-se do princípio da utilização dos três pilares (bio-psico-social),
interpretando-os dentro do contexto sócio cultural em que a pessoa está
inserida. A dependência química é caracterizada pela abstinência e suas
recaídas, sendo física e/ou psicológica. Os sintomas da abstinência não se
caracterizam a partir da dependência mais elevada ou não. Atualmente, tais
sintomas são controlados por medicação apropriada, fato que minimiza o
sofrimento daquele que encontra-se em abstinência. Existem outros tipos de
dependência química, como o craque que, quando os usuários ficam em abstinência
passam por sintomas severos, mas é uma das drogas que tem um alto índice de
dependência. É importante ressaltar que devemos quebrar o paradigma da
sociedade que considera o adicto somente um problema social. Deve-se ter
consciência que a dependência química precisa ser tratada no contexto social,
psicológico e biológico15.
É na fase do prazer que a dependência se instala inicialmente. Considerando
que a família é a primeira referência do ser humano, espera-se que esta
propicie, desde a concepção, um desenvolvimento biopsicossocial adequado para o
indivíduo. Porém, como a família é uma instituição mutável, transmite aos seus
membros variados conceitos, pois cada um vive num determinado padrão cultural
que acaba por ditar o seu cotidiano. Então, em muitos casos, os filhos não
tiveram modelos ou experiências com os pais que permitissem introjetar uma
figura paterna estável, compreensiva e complementar, para que pudesse obter a
identificação e, dessa forma, fragilizam-se e acabam sendo presas fáceis para o
vício16.
O autor relata que as pessoas que consomem drogas procuram alguma força
capaz de conter as suas angústias pessoais, são pessoas que não conseguem
resistir à pressão familiar, ambiental e social. Afundam-se na loucura
impulsionados pela impossibilidade de superá-la, e ao mesmo tempo, tentam
através dela encontrar soluções, e acabam ficando escravos das drogas.
Demonstram também sentimentos de impotência, de intolerância a frustração, de
impossibilidade de manter um projeto, devido à incapacidade de esperar, de
conceber o transcurso do tempo como aliado e não apenas como uma força
destruidora12.
A mesma sociedade que causa tensões, incentiva o alívio dessas tensões
sociais através das drogas lícitas, abre as portas para a busca de novos
"alívios", mais "fortes ou eficazes". Do ponto de vista
individual-emocional, a adicção pode ser vista como uma busca narcisista de
prazer. O desejo e o prazer com a droga substituem todos os outros desejos e
prazeres e sua busca é marcada pela impulsividade e pela urgência da
satisfação. Sendo nesta fase do prazer que a dependência se instala, pois
primeiro a droga ocupa o lugar da falta (alguma falta arcaica), e proporciona
prazer, quando seu efeito passa, aparece o sofrimento, a angústia, e a
incerteza. Acabando a droga, e sendo ela desejada intensamente, a vontade por
ela aumenta cada vez mais, formando um ciclo vicioso: consumo - falta -
consumo. Essa falta faz a diferenciação entre um usuário eventual e um
dependente. O uso e abuso de bebidas alcoólicas e outros tipos de drogas são
assuntos complexos, requer profunda reflexão sobre as razões, motivações e
dificuldades encontradas pelos usuários16.
O autor enfatiza que a adicção constitui o questionamento brutal e
direto, do vínculo profundo e em geral velado que caracteriza as relações do
homem com os produtos tóxicos que consome. A conduta do adicto revela em grau
superlativo a gravidade de toda e qualquer conduta tóxica. É por isso que a
adicção deve ser focalizada simultaneamente como uma doença e como uma denúncia
e, neste sentido, envolve a todos os que estão no meio ambiente onde ela
prolifera, ou seja, toda a sociedade. Em consequência, quando se inicia a luta
contra as drogas, não se está apenas tomando a decisão de combater uma conduta
perniciosa do ponto de vista ético, clínico e psicológico, combate à excessiva
transparência atingida por uma contradição fundamental do sistema, pois a
sociedade que o reprime é a mesma que fomenta a adicção. Pode-se destacar que a
recuperação está ligada à reestruturação do sistema social, o abuso das drogas
está vinculado também ao problema da qualidade de vida e não ao nível de vida12.
Através do sociodrama aplicado em um projeto de pesquisa17,
verificou-se como o álcool é um componente desinibidor, principalmente nas
questões sociais. Deve-se refletir como as drogas psicoativas agem no
organismo, podendo ser essas drogas tanto lícitas como ilícitas. O comportamento
do corpo e do psicológico da pessoa pode mostrar como ela lida com esta
substância e como age o seu SNC e o psiquismo, e quão jovem os adolescentes vem
abusando do uso das drogas.
Fica evidenciado pelo mesmo autor que, o álcool é responsável por mais de
90% das internações em dependência química e metade dos acidentes de trânsito,
principal causa de morte na faixa etária de 16 a 20 anos. O álcool é a droga
que mais danos traz à sociedade como um todo. Assim, o uso abusivo de álcool
por adolescentes e adultos jovens, constitui um sério problema de saúde pública
cuja prevenção, para ser efetiva, deve-se levar em consideração tanto fatores
socioculturais, quanto aspectos da subjetividade do jovem17.
Mesmo sendo o álcool
uma droga com uma elevada aceitação social, quando consumida em excesso,
provoca acidentes de trânsito, porque diminui a coordenação motora e os
reflexos, comprometendo assim a capacidade de dirigir e até de operar máquinas.
Pesquisas revelam que na grande parte dos acidentes, os motoristas estavam
embriagados. Atualmente os motoristas são penalizados se possuírem 0,6 gramas
de álcool por litro de sangue, ou seja, duas latas de cerveja ou três copos de
chopp (600ml), duas taças de vinho (200ml) ou duas doses de destilados (80ml).
Pode-se verificar que também há um grande número de violências associadas ao
estado de embriaguez14.
Através de uma pesquisa realizada com a ajuda da UNESCO (Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em escolas do Brasil,
pode-se verificar que o uso experimental de drogas é maior que o uso presente,
portanto, não são todos os jovens que experimentam que acabam fazendo o uso
regular de drogas, porém, o uso começa muito cedo, a partir dos 10 anos de
idade, e por meio da fala dos entrevistados, pode-se verificar que a
experimentação leva à dependência. A maconha é a droga mais consumida em todas
as idades, tanto no passado como no presente. Os homens jovens consomem mais
drogas 9,7% do que as mulheres 6,6% que usam mais anfetaminas e tranquilizantes.
Quanto à cocaína o seu uso cresce, conforme aumenta a faixa etária. Ainda
pode-se notar que o local de uso mais citado é perto das escolas 54,9%, 35,9%
em shows e 32,7% em boates e festas. O uso maior de drogas situa-se entre os
estudantes-trabalhadores. Percebe-se que os mesmos acabam tendo maior
disponibilidade de recursos para investir em drogas, possuem mais independência
em relação à família e mais ampla circulação entre espaços e valores18.
É importante notar que os
alcoolistas muitas vezes não chegam a se internar, mesmo quando causam danos a
si e a comunidade. O processo de internação para eles não é fácil, pois tal
processo faz com que assumam que precisam de ajuda. O alcoolista passa por
fases: a primeira fase é chamada de alcoolismo sintomático, beber para aliviar
as tensões, a segunda fase é o alcoolismo inveterado, onde a recuperação é
difícil, pois se torna uma dependência compulsiva semelhante a toxicofilia. Na
última fase ocorrem alterações orgânicas e distúrbios mentais irreversíveis19.
Kalina19
afirma que, a mulher na maioria das vezes procura as drogas lícitas (álcool e
fumo) para aliviar crises emocionais, privações crônicas de afeto, respeito,
entre outras. Também o início do vício costuma acontecer para elas geralmente
após os 20 anos. Já os homens iniciam sua trajetória mais cedo, antes dos 20
anos, provavelmente pelo fato do álcool ser associado à masculinidade, assim
como, a maioria dos homens é influenciada pelo grupo social que acaba exercendo
uma pressão para a consumação. Dessa forma, seria interessante a organização de
grupos recreativos, esportivos, educacionais e psicoterápicos (tipo suportivo),
procurando anular a valorização do álcool apresentando fórmulas que substituam
essa afirmação de identidade masculina.
O ambiente familiar, o papel do ambiente escolar e do sistema social, a
busca pela religião e as dificuldades da recuperação, constituem pontos muito
importantes para a vida do indivíduo. Cada ser humano possui sua subjetividade
e sua interioridade, onde se acumulam os conflitos não resolvidos, tais
conflitos podem ser identificados como pulsões que oscilam entre a
agressividade e a violência voltadas para o outro e depois redirigidas contra o
próprio indivíduo16.
Os familiares podem ser uma excelente fonte de ajuda para dependentes
químicos relutantes em buscar tratamento. Ter um dependente químico em casa,
também faz com que os familiares procurem ajuda. A família é importante para o
dependente e o dependente sente também que a sua família lhe é importante. Nessa
ligação, pode-se constatar que a família é codependente, pois estabelece uma
relação disfuncional de dependência entre as pessoas da família e o dependente
químico. Tais pessoas demonstram ter características de baixa autoestima,
desejo de ser necessário, grande tolerância para o sofrimento e necessidade de
controlar e mudar os outros20.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Verificar se existem diferenças entre os traços de personalidade de
indivíduos usuários de drogas (grupo de pacientes) e de não usuários (grupo de
não pacientes), à luz do teste de completamento de desenhos de Wartegg (WZT).
Objetivo Específico
Verificar se existem diferenças entre os aspectos formais dos desenhos do
teste WZT dos dois subgrupos (grupo de pacientes, grupo não pacientes).
MÉTODO
Participantes:
Participou da pesquisa um total de vinte e seis sujeitos, divididos
igualmente em dois subgrupos, ou seja, treze sujeitos que apresentaram
comportamento de adicção (três do sexo feminino e dez do sexo masculino),
internados em uma clínica de recuperação na Capital de São Paulo e treze
sujeitos com ausência total do quadro de adicção (seis do sexo feminino e sete
do sexo masculino). Foi considerada a variável idade para a organização da
amostra, ou seja, para participar da pesquisa os sujeitos deveriam ter idade
superior a 21 anos. A variável sexo não foi considerada. Não foi atingido o
número de 30 sujeitos, 15 em cada subgrupo, pois, dois dos testes aplicados no
subgrupo que apresentavam adicção, internados na clínica, tinham idade inferior
a 21 anos, sendo invalidado seu uso na pesquisa.
Instrumentos de Coleta de
Dados:
Foi aplicado o teste de Completamento de desenho de Wartegg, de acordo
com as normas do manual do teste Wartegg21. O teste é
composto por oito campos, cada um com um sinal específico (estímulos), que
possibilitam análises de aspectos específicos da personalidade do sujeito. O
termo “campo” refere-se a uma área limitada por semi-retas, onde o sujeito
elabora um desenho a partir do estímulo já citado, e solicitou-se ao sujeito
que indicasse um nome aos desenhos realizados e enumerasse na sequência da sua
realização, solicitou-se também para descrever qual foi o desenho que achou
mais fácil e o mais difícil, e qual foi o desenho que mais gostou e o que menos
gostou. A aplicação teve duração média de trinta minutos.
Foi aplicado no grupo de não pacientes o QSG – Questionário de Saúde Geral de Goldberg1, que [...] “permite avaliar a severidade de distúrbios psiquiátricos não psicóticos e servir como meio de identificação de casos potenciais destes distúrbios na população geral não clínica”. Tal aplicação foi realizada para classificar uma amostra que representou a população típica sem tais distúrbios.
Após aplicação do Wartegg, foi aplicado o teste
H-T-P: casa-árvore-pessoa, conforme orientação do manual de Buck22, o HTP é uma técnica
projetiva utilizada para obter informação sobre as experiências do indivíduo
com o ambiente, os outros e o lar. Esta técnica projetiva tende estimular a
projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflito. Ressalta que,
para propósitos diagnósticos o HTP fornece informações, que quando relacionados
a outros instrumentos de avaliação, podem revelar conflitos e interesse gerais
dos indivíduos, bem como aspectos específicos do ambientes que ele ache problemáticos.
Procedimentos
O Projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos
da Universidade Guarulhos sob nº 117/2007, segundo a Resolução 196. No primeiro
contato com possíveis sujeitos, foi explicado o propósito da pesquisa, bem como
o compromisso ético estabelecido com os participantes da mesma, fazendo-se
referência ao termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), convidando-os,
assim, a colaborarem. Para aqueles que aceitaram, agendou-se a aplicação dos
testes, considerando os horários disponíveis de cada sujeito. Vale ressaltar
que foi dito aos mesmos que estes poderiam desistir a qualquer momento da
pesquisa, sem qualquer ônus ou punição. Além disso, foram informados que não haveria
qualquer risco para os participantes de natureza física e ou psicológica.
No dia da aplicação dos testes, para ambos os subgrupos, durante o rapport,
foram ressaltados os propósitos a pesquisa, o compromisso ético assumido com cada
sujeito e a realização de um novo encontro especifico para que seja dada a
devolutiva ao mesmo. A aplicação do teste WZT, seguiu a padronização do
procedimento coletivo6.
Após a aplicação do teste WZT, foram realizadas análises sobre o conteúdo
gráfico das produções dos sujeitos. Vários aspectos foram observados no que
tange ao material gráfico e temático dos mesmos, revelando elementos pessoais
de cada indivíduo. Na comparação entre os dados dos dois grupos, alguns
elementos de interpretação puderam diferenciar os grupos observados; importante
relatar que no subgrupo de pacientes, um dos testes foi desconsiderado, pois
não houve entendimento da instrução por falta de compreensão do indivíduo. Uma
síntese dos dados característicos dessa comparação é apresentada a seguir.
Todas as informações interpretativas indicadas no texto foram baseadas no
material técnico do teste WZT, proposto por Freitas23.
O Campo 1 avalia o papel do indivíduo no mundo, considerado o campo do
ego, representa a autoimagem do indivíduo quando está inserido no meio em que
vive, seu papel e sua importância.
Quadro 1- Diferenças observadas nos desenhos do Campo 1.
Características |
Usuário |
Não Usuário |
Confiança
em si, segurança e relação equilibrada com o mundo em que vive. |
1 |
7 |
Labilidade,
insegurança, dificuldade em ajustar-se ao meio. |
9 |
7 |
Imaturidade |
3 |
- |
Apagar-se,
diluir-se, não se sente à vontade para se posicionar, indecisão, falta de
confiança em si próprio. |
3 |
2 |
Pode
ser: forte vitalidade, segurança, energia, impulsividade, tensão e
agressividade. |
3 |
2 |
Intensidade
de fatores emocionais que podem estar prejudicando a clareza do pensamento |
1 |
- |
Expõem-se
muito, gosta de chamar a atenção sobre si. |
- |
2 |
Insegurança,
ansiedade, medo de se colocar claramente ou de se deixar atingir por
estímulos externos. |
- |
1 |
Impulsividade
e tensão. Pode indicar agressividade extremamente forte. |
1 |
- |
Timidez,
indecisão e hesitação frente a situações novas. |
1 |
2 |
Indício
de pessoa mais invasiva. |
1 |
- |
Indício
de problemas neurológicos ou de alcoolismo, muita insegurança. |
2 |
- |
3 |
- |
O
Campo 2 explora aspectos relacionados à emotividade e aos contatos de forma
mais afetiva e vibrante. Revela elementos de processamento emocional e afetivo
do indivíduo.
Quadro 2- Diferenças observadas nos desenhos do Campo 2.
Características |
Usuário |
Não Usuário |
Realização
nos contatos afetivos, facilidade de processar afetos. |
5 |
6 |
Capacidade
de planejamento afetivo, boa percepção dos limites emocionais. |
5 |
8 |
Uso
de fantasia para organizar os conteúdos relacionados aos afetos. |
6 |
3 |
Predomínio
de afetos organizados, ligação adequada com a realidade afetiva. |
4 |
10 |
Se sente realizada no
relacionamento, se entrega a ele. |
2 |
8 |
Não expressa
espontaneamente sua afetividade, mostrando-se cauteloso e reservado no
contato afetivo. |
1 |
- |
Ênfase ao contato afetivo
com o mundo. Qualidade mais intensa ou mais branda. Relacionamento
interpessoal mais fácil e espontâneo. Valoriza a afetividade e procura
compreender o outro. |
3 |
1 |
Dificuldade ou pouca
necessidade de expressão afetiva; Racional, formal, realista, objetiva e
prática; Frieza e certo desinteresse pelos outros. Bom relacionamento, nível
superficial, mas não há envolvimento afetivo. |
3 |
6 |
Não se permite vivenciar a
sua afetividade; mais objetiva; mais racional; que esconde seus sentimentos,
sua afetividade. |
2 |
1 |
Bom relacionamento ao nível
superficial, mas não há envolvimento afetivo. |
- |
1 |
Indício
de problemas neurológicos ou de alcoolismo, muita insegurança. |
1 |
- |
Pode
ser: forte vitalidade, segurança, energia, impulsividade, tensão e
agressividade. |
3 |
4 |
Timidez,
indecisão e hesitação frente a situações novas. |
1 |
- |
Pouco
emotivo e pouco comunicativo, frustra-se ou ofende-se fácil. |
1 |
2 |
Relacionamento
de vazio, falta de comunicabilidade. Pessoa que generaliza sem base. |
4 |
5 |
O
Campo 3, expõe informações sobre ambição do sujeito e os recursos que dispõe
para superar obstáculos e adversidades cotidianas. Avalia elementos da energia
empregada para atingir as metas pessoais e o grau de ambição vivenciada.
Quadro 3- Diferenças observadas nos desenhos do Campo 3.
Características |
Usuário |
Não Usuário |
Equilíbrio
na ambição, organização da energia empregada para atingir metas. |
2 |
6 |
Incidência
de alta ambição, com uma conduta de competição com os demais. |
1 |
6 |
Sentimento
de menos valia, dificuldade de tomar uma direção para superar obstáculos. |
5 |
3 |
Dificuldade
na interação; falta de comunicabilidade quanto à ambição. |
5 |
3 |
Negação
da ambição, desejo de crescimento sem lutar, sente-se impossibilitado para
ter ascensão. |
1 |
- |
Pouco
recurso para atingir seus objetivos quer por limitação própria ou por falta
de empenho. |
3 |
- |
Falta
de ambição relacionada com a necessidade de proteção, de apoio. |
2 |
2 |
Pode
ser: forte vitalidade, segurança, energia, impulsividade, tensão e
agressividade. |
3 |
- |
Timidez,
indecisão e hesitação frente a situações novas. |
3 |
1 |
Angústia
intolerável, depressão, ansiedade que se expressa de maneira impulsiva e
descontrolada. |
2 |
- |
Pouco
emotivo e pouco comunicativo, frustra-se ou ofende-se fácil. |
3 |
1 |
Apego
a detalhes irrelevantes (detalhismo e obsessividade). |
1 |
3 |
O Campo 4
proporciona a verificação dos elementos relacionados aos componentes mais
internos do indivíduo, sentimentos de angústia e ansiedade experenciados por este.
Quadro 4- Diferenças observadas nos desenhos do Campo 4.
Características |
Usuário |
Não Usuário |
Nível
adequado de atividade mental, capacidade de processar ansiedade. |
4 |
7 |
Uso
da fantasia no manejo de conteúdos ansiógenos. |
5 |
2 |
Adequação
e controle da ansiedade, levando a um contato adequado com a realidade. |
7 |
10 |
Imaturo
(infantil com a ansiedade/ angústia-nega-fantasia). |
2 |
1 |
Excessiva
preocupação com conteúdos internos, ansiedade e angústia exacerbada. Reflete
invasão das fantasias e sublimação da angústia. Indica busca de apoio,
segurança, necessidade de se apegar a alguém. |
2 |
- |
Autocontrole,
Autodomínio, Objetividade, Realismo, Racional. Inibição da emotividade. Evita
se aprofundar na elaboração dos seus conteúdos mais profundos. |
6 |
9 |
Repressão
dos sentimentos de angústia e ansiedade. |
1 |
3 |
Pode
ser: forte vitalidade, segurança, energia, impulsividade, tensão e
agressividade. |
5 |
3 |
Timidez,
indecisão e hesitação frente a situações novas. |
2 |
1 |
Angústia
intolerável, depressão, ansiedade que se expressa de maneira impulsiva e
descontrolada. |
4 |
1 |
Pouco
emotivo e pouco comunicativo, frustra-se ou ofende-se fácil. |
3 |
- |
Apego
a detalhes irrelevantes (detalhismo e obsessividade). |
- |
2 |
O
Campo 5 avalia a energia empregada na imposição de idéias e valores, expõe
componentes relacionados à agressividade e como o indivíduo controla os
impulsos agressivos na sua relação com o ambiente.
Quadro 5- Diferenças observadas nos desenhos do Campo 5.
Características |
Usuário |
Não Usuário |
Decisão
e vitalidade, relacionado a uma atitude ativa com iniciativa própria. |
4 |
9 |
Conduta
de agressividade e impulsividade no trato com o ambiente externo. |
6 |
5 |
Repressão
da agressividade, tendência mais passiva na tomada de decisões. |
2 |
4 |
Conduta
de autoconfiança nas ações dirigidas ao meio ambiente. |
9 |
6 |
Certa
dificuldade de canalizar energia, enfraquecimento de energia, certa falta de
vitalidade, tendências à fadiga. |
1 |
- |
Pode
ser: forte vitalidade, segurança, energia, impulsividade, tensão e
agressividade. |
2 |
4 |
Timidez,
indecisão e hesitação frente a situações novas. |
4 |
2 |
Pouco
emotivo e pouco comunicativo, frustra-se ou ofende-se fácil. |
2 |
3 |
Apego
a detalhes irrelevantes (detalhismo e obsessividade). |
1 |
3 |
Relacionamento
de vazio, falta de comunicabilidade. Pessoa que generaliza sem base. |
5 |
1 |
No
que se refere ao Campo 6, verifica-se os componentes ligados à cognição de
forma geral. Avalia a maneira com que o indivíduo processa informações
cognitivas e explora esses conceitos para articular elementos de pensamento.
Quadro 6- Diferenças observadas nos desenhos do Campo 6.
Características |
Usuário |
Não Usuário |
Capacidade de síntese e
associativa. |
8 |
11 |
Forte desejo de realização.
Uso funcional da capacidade de raciocínio e do intelecto. Atitude objetiva,
Racional, Realista e Formal. |
5 |
7 |
Sinal de elaboração
intelectual que permite o processo associativo |
- |
1 |
Maior subjetivismo,
envolvimento emocional, maneira pouco objetiva de querer vivenciar o mundo.
Complexo quanto às pp capacidades intelectuais; consciente das suas limitações
tem dificuldades ao contato com a realidade. |
4 |
1 |
Decisão,
Rapidez, Energia vital e Controle psicomotor. |
5 |
9 |
Timidez,
indecisão e hesitação frente a situações novas. |
6 |
1 |
Pouco
emotivo e pouco comunicativo, frustra-se ou ofende-se fácil. |
- |
1 |
Apego
a detalhes irrelevantes (detalhismo e obsessividade). |
3 |
3 |
Relacionamento
de vazio, falta de comunicabilidade. Pessoa que generaliza sem base. |
2 |
5 |
O
Campo 7 fornece informações sobre a sensibilidade e sensualidade do indivíduo,
ou seja, verifica o quanto este é suscetível aos estímulos externos, bem como
de que maneira articula seus conteúdos sensuais.
Quadro 7- Diferenças observadas nos desenhos do Campo 7.
Características |
Usuário |
Não Usuário |
Equilíbrio
quanto aos componentes de sensibilidade e sensualidade. |
3 |
6 |
Valorização
de aspectos práticos, pouca sensibilidade no trato com indivíduos. |
11 |
6 |
Sensibilidade e maturidade
sexual. |
1 |
4 |
Imaturidade sexual. |
2 |
4 |
Sente-se realizado na
esfera sexual. Capacidade de se entregar. Também tendências a fantasias, e
uma distância da realidade prática por insatisfação na esfera sexual. |
3 |
6 |
Falta de sensibilidade,
pouca elaboração ao nível afetivo e certa irritabilidade. |
6 |
2 |
Indivíduo objetivo,
realista, prático, duro, pouco sensível e autocentrado. Também pode indicar
imaturidade sexual ou problemática de repressão da sexualidade. |
2 |
1 |
Intensidade
de fatores emocionais que podem estar prejudicando a clareza do pensamento. |
2 |
- |
Pode
ser: forte vitalidade, segurança, energia, impulsividade, tensão e
agressividade |
4 |
3 |
Timidez,
indecisão e hesitação frente a situações novas. |
3 |
- |
Apego
a detalhes irrelevantes (detalhismo e obsessividade). |
- |
3 |
Angústia
intolerável, depressão, ansiedade que se expressa de maneira impulsiva e
descontrolada. |
1 |
- |
Valorização de aspectos práticos e concretos busca
segurança e necessidade de apoio. |
11 |
6 |
Relacionamento
de vazio, falta de comunicabilidade. Pessoa que generaliza sem base |
4 |
2 |
O Campo 8
explora componentes ligados à busca ou necessidade de proteção e apoio,
relacionando-se à dependência diante da realidade cotidiana.
Quadro 8- Diferenças observadas nos desenhos do Campo 8.
Características |
Usuário |
Não Usuário |
Dependência
do meio, necessidade de proteção diante da realidade. |
6 |
12 |
Dependência
de figuras de autoridade, submissão a situações de poder. |
9 |
4 |
Adequado
contato com a realidade e com normas vigentes. |
1 |
2 |
Falta de comprometimento com valores do grupo social. |
3 |
- |
Decisão,
Rapidez, Energia vital e Controle psicomotor. |
6 |
11 |
Pode
ser: forte vitalidade, segurança, energia, impulsividade, tensão e
agressividade. |
4 |
- |
Timidez,
indecisão e hesitação frente a situações novas. |
4 |
1 |
Pouco
emotivo e pouco comunicativo, frustra-se ou ofende-se fácil. |
- |
4 |
Apego
a detalhes irrelevantes (detalhismo e obsessividade). |
2 |
- |
Relacionamento
de vazio, falta de comunicabilidade. Pessoa que generaliza sem base. |
2 |
5 |
Planejamento
e boa percepção de limites. |
5 |
9 |
A partir dos
resultados obtidos, pode-se dizer que o grupo de indivíduos usuários de drogas em
comparação com o grupo de não usuários, apresenta mais insegurança, dificuldade
em ajustar-se ao meio, imaturidade, impulsividade, indícios de problemas
neurológicos ou de alcoolismo. Kalina12 afirma que as pessoas que
consomem drogas procuram alguma força capaz de conter as suas angústias
pessoais, são pessoas que não conseguem resistir à pressão familiar, ambiental
e social. Afundam-se na loucura impulsionados pela impossibilidade de
superá-la. Ao mesmo tempo, tentam através dela encontrar soluções, e acabam
ficando escravos das drogas. Demonstram dificuldades no contato afetivo, indicando
dificuldades para entregar-se a um relacionamento, desinteresse pelos outros e
relacionamento superficial, escondendo seus próprios sentimentos. O grupo de
não usuários apresenta facilidade em se relacionar e entrega-se a ele,
mostrando-se mais racional, objetivo e prático nos seus atos.
Os adictos
mostram-se com maior probabilidade de apresentarem sentimentos de menos valia,
dificuldades de tomar uma direção para superar obstáculos, e problemas de
interação e falta de comunicabilidade quanto à ambição. Apresentam timidez,
indecisão e hesitação frente a situações novas, angústia intolerável, depressão
e ansiedade. Podem ainda, expressar suas emoções de maneira impulsiva e
descontrolada. Kalina12, relata que os adictos demonstram também
sentimentos de impotência, de intolerância a frustração, de impossibilidade de
manter um projeto, devido à dificuldade para esperar, de conceber o transcurso
do tempo como aliado e não apenas como uma força destruidora. O grupo de não
usuários demonstra equilíbrio quanto à ambição e consegue organizar sua energia
para atingirem suas metas.
O grupo de não
usuários demonstra adequação e controle da sua ansiedade, levando a um contato
adequado com a realidade. Os adictos apresentam maior dificuldade em processar
a ansiedade, utilizando recursos fantasiosos para os seus conteúdos ansiógenos,
apresentando-os de forma imatura. Outros adictos conseguem controlar a
ansiedade, levando em conta seu contato com a realidade. Observam-se adictos
que apresentam uma angústia intolerável, depressão, ansiedade que se expressa
de maneira impulsiva e descontrolada. Os autores afirmam que os adolescentes
que utilizam as drogas como uma forma de preencher ou de aliviar um vazio
interno, de fugir, de se isolar da realidade em que vivem, de esquecer seus
problemas e inseguranças e de aliviar o sofrimento, utilizam também o álcool
como um componente desinibidor, principalmente quando se deparam com questões
sociais17, 24.
Os adictos ainda
indicam dificuldades na tomada de decisão por possuírem pouca iniciativa.
Apresentam conduta agressiva e impulsiva no trato com o ambiente externo,
demonstram também saber lidar melhor em relação à confiança em si, reprimindo a
sua agressividade para poder tratar de forma mais passiva e autodirigida suas
ações. Quanto à capacidade de síntese e associativa para elaboração da cognição
de forma geral, demonstram timidez e dificuldades em assuntos que precisam
tomar decisões rápidas. Farias e Furegatoll16 relatam que, o desejo
e o prazer que sentem com as drogas substituem todos os outros desejos e
prazeres e sua busca é marcada pela impulsividade e pela urgência da
satisfação. Nesta fase do prazer é que a dependência se instala, pois primeiro
a droga ocupa o lugar da falta, proporcionando prazer, quando seu efeito passa,
aparece o sofrimento, a angústia, e a incerteza. Ao contrário do grupo de não
usuários que apresentam capacidade de síntese e associativa e sinal de
elaboração intelectual, que permite o processo associativo.
O grupo de não
usuários apresenta equilíbrio quanto aos componentes de sensibilidade e
sensualidade, com capacidade de se entregar aos relacionamentos. Os adictos demonstram
valorização sobre os aspectos práticos e concretos, pouca sensibilidade no
trato com indivíduos, falta de sensibilidade, pouca elaboração ao nível afetivo
e certa irritabilidade. Buscam segurança e necessidade de apoio, além de certa
dependência das figuras de autoridade, submissão a situações de poder e falta
de comprometimento com valores do grupo social. Pratta e Santos24 apontam
que entre os principais fatores familiares, de riscos, identificados para uso
de drogas entre os adolescentes, estão os problemas de relacionamentos entre
pais e filhos, relações afetivas precárias e ausência de regras e normas claras
dentro do contexto familiar (limites). Além disso, tem-se uso de drogas dos
pais, irmãos ou parentes próximos, situações de conflitos permanentes,
dificuldades de comunicação e a falta de acompanhamento e monitoramento
constante dos filhos por parte dos pais, além da falta de apoio e de
orientação, bem como a atmosfera da casa e a falta de qualidade das relações
familiares e afetivas.
Após análise do teste
WZT e dos resultados obtidos, foi possível observar que os componentes de
personalidade observados na amostra de indivíduos com histórico de adicção que a
compuseram , indicam, em síntese:
Sentimentos
de labilidade, insegurança e dificuldades em ajustar-se ao meio em que vivem.
Tal aspecto pode ser desencadeado por uma dificuldade na articulação e no processamento
de aspectos afetivos, o que afasta o indivíduo de um relacionamento emocional
mais organizado e equilibrado. Há sentimentos de menos valia, dificuldades em
tomar uma direção para superar obstáculos, associado a uma dificuldade na
interação, falta de comunicabilidade quanto à ambição.
No que tange à
ansiedade, notou-se o uso demasiado de fantasias no manejo de conteúdos
ansiógenos. Por conta disso, os sujeitos não conseguem lidar adequadamente com
a ansiedade em benefício pessoal e crescimento psicológico. Demonstram pouca heteroagressividade,
ou seja, dificuldades para impor suas idéias em relação ao ambiente e, por
consequência, não conquistam espaços onde possam desenvolver relacionamentos.
Observou-se
valorização de aspectos práticos e pouca sensibilidade no trato com os indivíduos,
apesar de indicarem dependência em relação às figuras de autoridade e submissão
às situações de poder. Por outro lado, foi possível verificar uma conduta de
autoconfiança nas ações dirigidas ao meio ambiente e possibilidades para um
contato adequado com a realidade e com normas vigentes, demonstrando
consciência de seus atos.
Através dessa pesquisa, observou-se que existem traços consideráveis na personalidade dos adictos diferentes dos não adictos, como por exemplo: o sentimento de menos valia, as dificuldades em se ajustar ao meio, em se entregar a um relacionamento. Pode-se concluir que há uma urgência na capacitação dos profissionais da área da saúde para obtenção de uma maior eficácia na prevenção contra as drogas, tentando assim, diminuir as estatísticas do uso e dependência do álcool e outras drogas, lembrando-se dos aspectos bio-psico-socio-culturais, onde o indivíduo está inserido, bem como atenção e orientação às famílias. Como os dados aqui interpretados estão relacionados à amostra investigada, faz-se necessário, maiores investigações para que generalizações possam ser feitas.
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*Jane Cleide Galindo da Rocha - Graduando do Curso de Psicologia da Universidade Guarulhos. e-mail: janecgr@gmail.com
**Armando Rocha Junior - Professor Titular do Curso de Psicologia da Universidade Guarulhos, UnG. Doutor em Ciências da Religião. e-mail: armandopsico@uol.com.br