FECHAMENTO DE DIASTEMA: RELATO DE CASO
DIASTEMA
CLOSURE: CASER REPORT
Ferraresi PM*, Rodrigues
JA**, Marchi GM***
RESUMO: A presença de diastemas interincisivos centrais
pode ser decorrente da presença de inserção do freio labial, presença de
mesiondens ou mesmo estar ligado a fatores genéticos. Contudo podem comprometer
a estética do sorriso substancialmente em função de sua extensão. Este trabalho
descreve a técnica de fechamento de diastema entre dois incisivos centrais
superiores que apresentam restaurações deficientes por meio de resinas
compostas. Pode-se observar que o uso de sistemas adesivos e resinas compostas
através de mínimas intervenções podem proporcionar um melhor contorno aos
dentes resultando em sorriso com um aspecto mais estético.
PALAVRAS-CHAVES: Odontologia estética. Resina
composta. Diastemas.
ABSTRACT: The presence of midline diastemas can be caused by the presence of
prominent labial fraenum insertion, mesiondens or by genetic factors. However,
they can substantially compromise the esthetic of the smile in function of its
extension. This work describes the clinical technique to the closure of a
diastema between upper central incisors, which present deficient restorations,
with composite resins. It can be observed that the use of adhesive systems and
composite resins through minimal interventions can provide a better contour to
the teeth resulting in a more aesthetic smile.
KEYWORDS: Esthetic dentistry. Composite resin. Diastema.
Introdução
Embora o conceito de estética seja considerado altamente subjetivo, pois
se encontra relacionada a fatores sociais, culturais e psicológicos, os
dentes anteriores compõe em maior parte e são considerados essenciais na
estética do sorriso1,2,3. Nesse contexto, a presença de diastemas - espaço maior que
0,5mm entre dois ou mais dentes consecutivos - pode prejudicar
consideravelmente a estética do sorriso1,2,3.
Devido a valorização da estética pelos pacientes é grande o número de
pessoas que buscam uma melhora na sua autoimagem e uma maior aceitação social
por meio de um tratamento odontológico que possibilite a resolução de problemas
para seus dentes com alterações de cor, forma e/ou tamanho1,2.
O
tratamento para correções de tamanho e forma dos dentes anteriores visando o
fechamento de diastemas pode ser realizado de forma minimamente invasiva
preservando a estrutura dental por meio da técnica direta utilizando sistemas
adesivos e resinas compostas1,2.
Entretanto,
devido ao desenvolvimento tecnológico e científico existe uma grande variedade
de resinas compostas que proporcionam diversas opções de escolha entre
diferentes “cores” e “valores” e outras propriedades estéticas que podem
confundir e até mesmo inibir o profissional de realizar restaurações diretas
estéticas pelo receio de não obter um resultado favorável ou duradouro1,2.
Porém,
o conhecimento clínico das indicações e limitações das resinas compostas e
propriedades como opacidade já podem garantir bons resultados em inúmeros
procedimentos, desde pequenas restaurações até remodelamentos dentais com
resinas compostas1,2,4,5.
Este
trabalho tem como objetivo relatar a técnica de fechamento de diastema por meio
de mínima intervenção com resinas compostas
Relato de caso
Observa-se
o sorriso de uma paciente jovem na figura 1 que compareceu à clínica integrada
de Graduação da Faculdade do Odontologia de Piracicaba (UNICAMP) e apresentava
um diastema de linha média.
Figura 1- Sorriso da paciente observado no início da consulta.
No
exame clínico verificou-se a presença de restaurações classe III de Black com
indicação para substituição , visto que a restauração no dente 11 apresentava
severa alteração de cor e a no dente 21 possuía margens degradadas (Figura 2).
Ambos os incisivos centrais possuíam forma arredondada e estavam distalizados.
Após questionamento sobre a estética de seu sorriso, constrangida a paciente
relatou que não se importava com a presença do diastema, mas evitava de sorrir
para que outras pessoas não percebessem o espaço entre seus dentes e que
gostaria de trocar a restauração com problema de cor.
Figura 2- Presença de diastema de linha média e restaurações deficientes.
Entretanto,
foi proposto à paciente além da substituição das restaurações deficientes o
fechamento do diastema utilizando-se resina composta, pois é um procedimento
rápido e minimamente invasivo. Inicialmente, foi realizada a seleção de cor e procedeu-se o isolamento do campo operatório
(Figura 3).
Figura 3- Isolamento do campo operatório com dique de borracha.
Procedeu-se
a remoção das restaurações deficientes com ponta diamantada em alta rotação e confecção
de um bisel de aproximadamente 1mm para promover uma sobreposição da resina
composta sobre o esmalte e garantir um bom mascaramento da linha de união
(Figura 4).
Figura 4- Remoção das restaurações deficientes e confecção de bisel.
Procedeu-se
a aplicação de ácido fosfórico 37% que foi estendida para limites fora da
preparada para assegurar que toda a resina composta pudesse ser inserida
somente sobre sistema adesivo e evitar manchamentos marginais por falta de
adesão à uma área de esmalte não condicionada.
O
ácido fosfórico permaneceu em ação por 15 segundos para promover a exposição
dos prismas de esmalte e garantir a formação da camada híbrida. Este foi lavado
por 15 segundos e realizou-se a aplicação do adesivo monocomponente (Single
Bond 3M ESPE, St. Paul,
MN, USA) e fotoativação por 20 segundos.
Após
a aplicação do sistema adesivo iniciou-se a inserção da resina composta por
meio de uma técnica estratificada considerando-se as regiões de dentina e
esmalte dos incisivos e a opacidade das resinas. Devido à área tratada
necessitar de uma maior resistência ao desgaste, optou-se por selecionar uma
resina microhíbrida (Charisma Heraeus Kulzer, Hanau, Germany), pois apresenta
propriedades de resistência ao desgaste mais adequadas, sendo esta com
característica opaca para reproduzir a pequena região de dentina no interior da
cavidade (dentina opaca) e o esmalte palatino (esmalte opaco). Já para a resina
da borda correspondente ao esmalte dental foi selecionada a mesma resina mas
com característica translúcida (esmalte translúcido) e para a região vestibular
foi selecionada uma resina de micropartículas translúcida (Durafill Heraeus
Kulzer, Hanau, Germany) para obter um melhor polimento. Assim, pode-se mascarar
a área translúcida do dente natural na qual existe somente o esmalte dental e
evitar uma sombra escura no limite entre o dente e a resina e obter
propriedades adequadas. Observa-se na figura 5 a inserção da resina opaca sendo
que no dente 21 foi realizada a inserção da resina opaca de dentina e no dente
11 foi realizada e inserção da resina de dentina opaca e esmalte opaco.
Figura 5- Reprodução da face
palatina com resina composta opaca.
Para
reproduzir o contato proximal instalou-se cunha de madeira e tiras de poliéster
e com a resina composta de esmalte translúcida foram dados os efeitos de transparência nas regiões
proximais. Nesta etapa é indicado o uso de um compasso de ponta seca para
verificar se a resina composta já inserida está proporcional entre os dentes.
Figura 6- Reprodução
da face vestibular com a resina composta de micropartículas translúcida.
Após
a definição do novo contorno dental foi inserida uma fina camada da resina de
micropartículas com característica de esmalte translúcido e com espátulas e
pincéis foi definida a escultura. Após cada incremento de resina foi realizada
a fotoativação (Figura 6).
Foi
realizado o acabamento das faces proximais com tiras de lixa e discos de
granulação decrescente. Nas faces vestibular e palatina o acabamento foi
realizado com discos de lixa de granulação decrescente, seguido de pastas
abrasivas com feltros. A paciente ficou satisfeita com o resultado e aprovou o
fechamento do diastema (Figura 7).
O
polimento final foi realizado na sessão seguinte utilizando-se discos de feltro
e pastas diamantadas para polimento na qual observou-se uma remodelação da
papila interproximal devido a redução de impacção alimentar (Figura 8) .
Figura 7- Resultado imediato após o fechamento de diastema.
Figura 8- Acompanhamento clínico de um ano.
Discussão
Os
diastemas podem ser encontrados em crianças e fazem parte do processo de
desenvolvimento dos arcos dentais e substituição dos dentes decíduos pelos
permanentes6,7,8. A
prevalência é de aproximadamente 98%
aos 6 anos de idade, 49% aos 11 e 7% entre os 12 e 18 anos6,7,8. Em adultos podem ser causados por outros fatores
como discrepâncias no tamanho dental,
ausência de dentes, trespasse horizontal excessivo, giroversões,
angulações inadequadas entre dentes contíguos, presença de freio lingual com
inserção baixa e de dentes supranumerários6,7,8.
Os
diastemas podem afetar a fala dificultando a pronúncia de alguns fonemas como
no caso de palavras com “S” e comprometer a estética9. Um estudo avaliou a autopercepção
de 267
estudantes de 16 a 25 anos sem tratamento ortodôntico e demonstrou que
diastemas na região anterosuperior são um dos problemas mais perceptíveis,
seguidos por irregularidades e apinhamento de dentes anterosuperiores, de
dentes anteroinferiores e da ausência de dentes anteriores, demonstrando que a
presença de diastemas e de dentes traumatizados são facilmente identificados e
podem prejudicar a harmonia do sorriso10.
Os
diastemas podem ser tratados com ortodontia, visando o alinhamento dos dentes
entre os arcos, e retoques estéticos podem ser realizados com resinas
compostas. Porém, quando os caninos encontram-se alinhados em classe I e o
problema é devido a desproporção entre dentes pode-se optar somente pelo
fechamento do diastema com resinas compostas associadas à técnica adesiva visto
que com ortodontia seria indicada a extração de um incisivo central inferior e
remanescente seria posicionado no centro da linha média2. Além disso,
o fechamento pela técnica direta com resina composta apresenta a grande
vantagem de ser rápido e reversível, caso não se tenha alcançado o resultado
estético desejado1,2.
Assim, caso a paciente não ficasse satisfeita
a resina composta poderia ser removida com pontas diamantadas e com um rápido
polimento pode-se restabelecer a condição inicial com as cavidades classe III
restauradas na cor adequada. Deste modo, mesmo com a reversibilidade do
tratamento, este pode se tornar totalmente previsível. Se houver uma dúvida do
paciente ou mesmo do cirurgião-dentista, pode-se realizar um “Mock-up”.
O
“Mock-up” é um ensaio de diagnóstico do procedimento que será realizado e
consiste na obtenção e enceramento de modelos de
estudo, que permitirão ao cirurgião-dentista e ao paciente a visualização
tridimensional dos dentes e tecidos adjacentes, em conjunto e com os seus
antagonistas11. Ainda como parte do “Mock-up”, pode-se transferir o enceramento
realizado no modelo para a boca, através de um guia obtido com a moldagem do modelo
com silicone denso. Esta moldagem é recortada e levada à cavidade bucal onde
proporcionará a reconstrução do enceramento sobre os dentes com resina composta
sem a utilização do sistema adesivo11,12.
Mesmo
realizando-se a técnica adesiva, é indispensável o ajuste oclusal, sem a
necessidade de remover o dente de oclusão, porém removendo-se pontos de contato
prematuros. Portanto, o clínico pode realizar transformações estéticas com
resinas compostas com previsibilidade de sucesso, visto que casos de
restaurações adesivas em dentes anteriores com sucesso são relatados após
acompanhamento clínico de 8 anos, mesmo quando a fratura envolve esmalte e
dentina4.
Assim,
pode-se assegurar o sucesso na revitalização de sorrisos empregando-se resinas
compostas diretas utilizando-se uma técnica minimamente invasiva.
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*Priscila Miuci Ferraresi- Cirurgiã Dentista, aluna
de Mestrado em Odontologia FOUSP – e-mail: primiucci@yahoo.com
**José
Augusto Rodrigues- Programa de
Pós-graduação em Odontologia – UnG. e-mail: jrodrigues@prof.ung.br
***Giselle
Maria Marchi- Professora Associada da Faculdade de Odontologia de Piracicaba -
UNICAMP. E-mail: gimarchi@fop.unicamp.br